Capítulo 54

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P.O.V Autora

Anahí olhou para baixo e sentiu o mundo cair sobre seu corpo. Estava saindo sangue de dentro de si. Muito sangue. O lençol ficava encharcado rapidamente. Alfonso estava paralisado, seus olhos começando a lacrimejar. Anahí colocou as mãos no ventre com força e começou a chorar copiosamente. Deus, de novo não!

— Alfonso - Murmurou apavorada e ele pareceu acordar do transe que tinha entrado.

Ele correu e a pegou no colo e apoiou a cabeça dela em seu peito. Prontamente suas mãos começaram a ficar cheias de sangue, e o chão do quarto também. Seu coração disparou de dor e Alfonso não permitiu que Anahí visse mais sangue, para que não se desesperasse mais ainda. Alfonso não pensou em mais nada, apenas desceu escada abaixo com ela no colo, deixando rastro de sangue por onde passava. Não haviam empregados na casa, exceto Maria (que estava em seu quarto), já que todos tinham sido liberados, então felizmente não houve interrogatório pelo caminho. Alfonso tentou ser o mais silencioso possível ao fechar a porta da mansão, pois não queria em hipótese alguma que as crianças saíssem de seus quartos e vissem todo aquele sangue pelo piso da casa. Torcia para que elas já estivessem dormindo.

Saiu da mansão, o vermelho sangue se misturando com a grama verde clara do gramado, indo em direção ao seu carro correndo, como se sua vida dependesse daquilo. Quando chegou, antes que pudesse por a amada no banco de trás do veículo, Anahí cravou as mãos na camisa dele, que estava ensopada com seu choro. Olhou para ele com os olhos sofridos, cansados, marejados e totalmente sem vida. Alfonso sentiu que daria sua vida para ver o brilho nos olhos dela novamente.

— Alfonso - Ela murmurou mais uma vez, a voz doía desgraçadamente ao sair - Por favor, não deixe meu bebê morrer... - Arfou - Não permita que algo aconteça com ele. Eu não vou aguentar - Mais lágrimas saíram de seus olhos, e foi o suficiente para sucumbir o choro que Alfonso estava se esforçando para segurar. Lágrimas caíram dos olhos dele também, mas ainda sim tentou ficar calmo. Precisava ser forte por ela.

— Não vai acontecer nada com nosso bebê, amor. Nada. - Falou mais para tentar convencer a si mesmo.

Deus, e se ele falhasse em sua promessa? O que faria? Teve que prometer para tentar acalmá-la, mas infelizmente não estava em suas mãos se o bebê ficaria bem ou não. Anahí apenas assentiu, e ele a deitou com cuidado no banco de trás, e logo o banco começou a ficar vermelho. Estavam apavorados, o sangramento não parava em nenhum momento. Anahí simplesmente não conseguia parar de chorar, não sabia definir o sentimento horrível que estava tomando conta de si agora.

Alfonso começou a dirigir. Dirigia rápido demais, e quando quase bateu num poste por via do desespero em chegar logo ao hospital, se viu obrigado a tomar mais cuidado. A todo momento olhava pra trás para checar Anahí, e a cada olhada, era uma facada entrando em seu peito. Ela estava morrendo de dor e ele não podia fazer nada! Alfonso estava se odiando naquele momento, e se odiaria mais ainda se Anahí perdesse o bebê. Nada tiraria de sua cabeça que a culpa era dele. Nunca se perdoaria. A única coisa que ele tinha que ter feito era cuidá-la, mas falhou miseravelmente. Tinha tomado tanto cuidado com ela, e naquela fatídica noite, havia destruído tudo de uma só vez.

Anahí sofria como nunca pensou que sofreria antes na vida. Nem em seus piores pesadelos poderia imaginar uma coisa dessas acontecendo consigo mesma. Estava tentando imaginar que mal tinha feito para algo ou alguém, mas nada do tipo passava pela sua memória. Será que merecia tanto sofrimento? Nunca poderia ser feliz? Por quê aquilo estava acontecendo com ela?

Em nenhum instante tirou as mãos do ventre, como forma de proteção. Pena que aquilo não ajudava em nada, muito menos no sangramento que não parava de sair. Anahí se contorcia no banco de trás, o rosto molhado de suas lágrimas, que não lhe davam paz, caindo sem parar.

— Por favor, bebê, fica com a mamãe. - Implorou em meio o choro, sussurrando para seu ventre. - Eu te amo tanto! - Olhou para a barriga, como se o feto pudesse ouvir.

Depois disso, ela se obrigou a parar de chorar, aquilo não a ajudaria em nada. Com muito custo, parou com o choro, mesmo querendo desesperadamente fazer o contrário. Seu olhar ia a todo instante ao chão do carro, para ver se não escorria mais sangue. Pelo menos isso tinha parado de sair, mas o estrago estava feito. Havia uma possa sangrenta ali, e Anahí rezava de olhos fechados, para não perder seu bebê, seu amado bebê. Ela se negou a pensar no pior, estava difícil, mas não iria pensar numa tragédia. Também olhava para Alfonso, pensando o que seria deles dali pra frente. Uma lágrima solitária escorregou, e cogitou que a história deles havia chegado ao fim. Ela sentia.

Finalmente Alfonso chegou ao hospital, estacionou de qualquer jeito e desceu. Pegou Anahí no colo, o sangue lhe sujando, e nem se quer se preocupou em fechar a porta do carro. Saiu em disparada entrando no local. Era quase onze da noite, e muitas pessoas se assustaram ao vê-los ali, mais assustados ainda ao verem pingos de sangue caindo no chão liso e branco do hospital. Logo apareceu alguns funcionários com uma maca, e Alfonso deitou Anahí nela. Desta vez ninguém teve coragem de falar para Alfonso não entrar, ele iria e ponto.

Eles adentraram no elevador, onde os deixariam na sala de obstetrícia. Anahí e Alfonso precisavam desesperadamente saber como estava o filho deles. Alfonso pegou na mão de sua mulher, e percebeu o quanto ela necessitava de seu apoio. Anahí apertou as mãos de Alfonso, sentindo um medo inigualável. Assim que o elevador apitou e abriu no destino, os funcionários correram com a maca, e entraram dentro de uma sala onde uma obstetra já os esperavam. Um deles pegou Anahí no colo e a mudou para a cama do quarto e depois se retiraram. Alfonso apenas olhava Anahí, o medo transparecendo em seus olhos.

— Doutora, por favor, me diga que meu bebê está bem! - Anahí falou, a voz embargada e extremamente dolorida. Alfonso parecia ter entrado em outro transe, tinha medo de abrir a boca, como se o fizesse prejudicasse mais as coisas.

— Se acalme, Anahí. Eu já vou ver. - A doutora disse preparando os aparelhos. Ela não se assustou ao ver tanto sangue, infelizmente estava acostumava a lidar com casos desse tipo e também sabia que não vinha coisa boa pela frente.

Anahí permaneceu com uma mão agarrada nas de Alfonso, o coração começando a bater em disparada, tamanho o medo que estava lhe tomando conta. A obstetra colocou um aparelho na barriga de Anahí, averiguou por alguns segundos o monitor, e por fim, suspirou pesadamente. Odiava dar aquele tipo de notícia.

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