Capítulo 56

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P.O.V Alfonso

Sai do consultório de obstetrícia segurando a forte vontade de chorar. Ela gritou na minha cara que sou um dos culpados por ter perdido nosso bebê... Eu já tinha certeza disso, mas com Anahí jogando isso na minha cara, dói demais. Sai da sala e do hospital, com vários olhares de preocupação e curiosidade em minha direção, mas pouco me importei.

Fui até o estacionamento e entrei em meu carro, fechei a porta, sentei no banco do motorista, apoiei os braços no volante e lá mesmo comecei a chorar. Chorei feito uma criança perdida no meio de uma cidade, sem a sua mãe, desesperado e sem saber o que fazer. As palavras de Anahí cravaram fundo na minha alma, ferindo crueldade minhas estruturas. Saber que sou um dos responsáveis pelo aborto espontâneo dela me faz querer morrer. Eu me odeio!

Não sei o que vai ser de nós dois daqui pra frente, só sei que estou com medo. Muito medo. Annie está transtornada e não enxerga nada mais do que a própria dor. Estou apavorado só de pensar em perdê-la, porque se as coisas continuarem insuportáveis assim... É com muita dor que digo que não vai dar para continuar.

Nosso filho... Como doeu ouvir a obstetra declarar a perda dele ou dela. Realmente é uma dor irreparável. Semana que vem eu ia começar a fazer um quarto pra ele ou ela, e machuca desgraçadamente o fato de não ter mais sentido de fazer isso. Tem tantas roupinhas de bebê que eu e a Annie compramos e que estão no nosso quarto, e outras que pessoas nos presentearam. Agora tudo isso está perdido... Eu não poderia me sentir mais infeliz do que agora.

Depois de descontar meu desespero nas minhas lágrimas e de me recompor, sai do carro e voltei pro hospital. Subi o elevador e quando cheguei a ala de obstetrícia, sentei na sala de espera. Se passaram horas, e minha vontade de entrar no quarto da mulher que amo era imensa, mas me obriguei a ficar sentado ali. Não quero piorar as coisas.

P.O.V Anahí

Acho que se passaram umas seis horas quando despertei, pois o sol já estava se pondo quando abri os olhos (uma pena, eu desejei tanto não ter acordado nunca mais). Mas por um lado foi bom, já que sonhei com meu bebê. É torturante.

No meu sonho era um menino, lindo como o pai. Tinha os olhos verdes e cabelos negros como os de Alfonso. Uma cópia perfeita do pai. Alfonso estava do meu lado, com o sorriso mais magnífico e brilhoso que já vi, segurando uma mãozinha de nosso filho enquanto eu o dava de mamar. Minha aparência era cansada, porém o sorriso no meu rosto era o mais feliz que já deu na minha vida. Horas depois Alana entrava no quarto, conhecendo seu irmãozinho e dando também um longo sorriso, um sorriso igual ao meu. Quando fomos escolher o nome do bebê, acordei.

E por esse motivo estou chorando agora. Como eu queria que não fosse apenas fruto da minha imaginação. Como eu queria que isso acontecesse de verdade, daqui a alguns meses. Mas não vai. Acabou. Sinto que meu coração foi junto com o meu bebê, minha alma e vida está com ele. Perdê-lo foi como voltar de marcha-ré todo caminho já percorrido. É como voltar a ser uma pessoa comum, depois de um tempo me sentindo especial.

Eu não entendo a razão desse sofrimento todo comigo. Eu não sei qual a dor pior. A de ter tido a minha filha, e logo em seguida ela morrer ou perder esse bebê que eu já amava tanto e nem sequer tê-lo conhecido. Eu não desejo essa dor pra absolutamente ninguém.

A obstetra entrou, me pegou chorando e logo veio ao meu encontro. Penalizada, me abraçou. Eu me apertei em seus braços, sem me importar se tenho intimidade com ela ou não. Cheguei num ponto em que não aguento mais, e saio procurando apoio em qualquer pessoa.

— Annie, eu sinto muito mesmo, de verdade, mas você precisa se acalmar. - Ela me disse, e eu ignorei. Estou farta de ouvir "você precisa se acalmar".

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