Capítulo 55

702 44 23
                                    

P.O.V Anahí

Olhei a obstetra em meio a minha dor e fiquei na expectativa esperando ela terminar de ver o monitor. Tentei achar meu bebê entre aquele branco e preto, mas estava difícil. Não gostei nadinha em ver o suspiro pesado que ela deu. Engoli em seco. Estou com tanto medo...

— O que houve? - Perguntei com voz trêmula - Meu filho está bem, não é mesmo? - Minha barriga se contorceu de dor e nervoso. Vi de relance Alfonso observar atentamente a doutora.

— O bebê está aqui, mas infelizmente não posso te dizer que ele está bem. - Ouvir isso foi pior do que qualquer outra coisa na minha vida - Sinto muito, mas o feto não resistiu. Ele está aqui, mas não tem vida. Não há batimentos cardíacos. A placenta se deslocou, o que causou o sangramento e o aborto espontâneo.

Morta.

Essa é a palavra que me define agora. Me sinto morta. Minha vida acabou. É necessário dizer que estou chorando? Eu apenas quero morrer. Se viver significa sofrer, se eu não posso ser feliz, para que continuar? Eu não quero! Eu vou morrer... Eu não vou suportar passar por tudo isso de novo. De repente flashbacks vieram com tudo na minha cabeça e senti que iria sufocar.

Primeiro veio a notícia de que eu seria mãe da Alana, eu era inexperiente, uma adolescente cheia de medos, mas que sabia que lutaria pelo meu bebê. Depois lembrei dos meses de gestação, em como me sentia sozinha, mas feliz ao mesmo tempo por ter uma vida dentro de mim. As lembranças do parto, o amor incondicional que senti pela minha filha, depois a morte dela. Depois daquilo jurei que não seria mãe tão cedo, justamente pra não me causar tanta dor novamente. Mas não adiantou. Cá estou eu de novo, sentindo uma dor tão pior quanto a de anos atrás. Rapidamente me veio memórias recentes. Eu descobrindo que estava grávida mais uma vez, o medo que que senti, depois a felicidade, o amor por esse bebê que crescia dia após dia. As idas ao shopping com minhas amigas, com eu e a May eufóricas escolhendo roupas pros nossos bebês. Todas as noites que eu acariciava e conversava com meu bebê antes de dormir. Com Alfonso sendo um pai babão e maravilhoso. Alana sendo a melhor irmã do mundo. A primeira vez que meu bebê me chutou... Tudo isso foi pro ralo, junto com minha alma!

Sinto que nunca poderei ser a mesma depois de hoje, que não voltarei a sorrir e ser feliz. Meu Deus, como faz para parar de chorar? O que faço pra essa dor desgraçada sair de mim? Não consigo respirar... Ao meu redor ouço a doutora me pedir calma, mas calma é a última coisa que quero ter nesse momento. Se eu pudesse me afogava nas minhas lágrimas e na minha dor e me mataria agora. Também ouço Alfonso chorar, não exageradamente como eu, mas também chora e ele tenta me abraçar, porém, não deixo. Não quero mais nada que venha dele. Ele tem uma grande parte da culpa por eu estar assim, se não tivesse me traído...

A obstetra pega um copo com água e quer me obrigar a tomar, mas com violência jogo o copo no chão. Estou descontrolada e não estou a fim de voltar ao "normal".

— Anahí, eu sinto muito mesmo, sei que deve estar doendo demais, mas você precisa se acalmar já! - A doutora diz - Senão você também vai se prejudicar.

— Ótimo, é exatamente isso que eu quero - Sorriu friamente e nem eu mesma me reconheço. Foda-se! - Quem sabe com sorte eu também morra...

— ANAHÍ! - Alfonso grita, e o que eu faço é rir. Ele pega minha cabeça com as duas mãos e me faz olhá-lo. - Eu sei que está doendo, eu também estou sofrendo, mas você não pode pensar em desistir. Pelo amor de Deus, e a Alana, como fica? E eu? - Uma lágrima caiu de seus olhos.

Alana... Minha bebê. Nesse descontrole todo me esqueci de minha filha, mas como posso continuar? Ela superaria ao lado do pai, já eu... Não existe palavra que defina a dor que estou sentindo agora. Não o respondi, apenas tirei suas mãos de cima de mim, agressiva e deitei na cama, me encolhendo e desejando que o chão se abrisse e me afundasse nele para nunca mais voltar.

Juntos Pelo Acaso • AyA Onde histórias criam vida. Descubra agora