Capítulo 71

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P.O.V Alfonso

Depois de chegar ao hospital fiz um esforço tremendo para me concentrar no meu trabalho. Anahí não saiu da minha cabeça em momento algum e levei umas boas horas para conseguir controlar a vontade de chorar, de correr atrás dela e tê-la novamente em meus braços. Sei que fui o pior dos homens com certas palavras que soltei, fiz de propósito mesmo. Eu quis que ela sofresse, eu quis descontar nela toda dor que me causou nos últimos meses.

Não posso aceitá-la de volta, por mais que isso seja tudo que eu quero na vida. Por que eu faria essa estupidez? Pra ela se separar de mim de novo na primeira oportunidade que tiver? Não! Não vou pagar pra ver! Se a aceito de volta, complico toda minha vida.

Mudando de assunto... Depois de ter saído de uma cirurgia, recebi a surpreendente notícia de que Lívia acordou. Fui conferir com meus próprios olhos, e lá estava ela descontrolada gritando pelo Peter. A mãe dela estava ao lado, não se cabendo em si de felicidade. Acalmei a megera dizendo que traria Peter, e ela logo se acalmou.

Agora estava eu contemplando a alegria de Peter ao ver a mãe. Não pude deixar de me emocionar. Era tudo que ele mais queria, estava sofrendo absurdamente por ela. E Anahí está ao meu lado... Por que ela ainda não foi embora?

— Por que você não volta pra ficar com a Alana? - Perguntei, incomodado com a aproximação. Ela me encarou, debochada.

— Ela está em boas mãos. E sinto muito se está incomodado com minha presença, querido, mas vou embora quando me der na telha - Ela piscou, irônica. Eu deveria ter ficado com raiva, mas a teimosia e o deboche dela sempre foram coisas que amei nela.

Não respondi e comecei a ignorá-la, e então o neurocirurgião me chamou discretamente. Os três dentro do quarto ainda estavam festejando e nem se deram conta quando sai, e fui para um canto com o médico. O semblante dele não é dos melhores e conheço perfeitamente essa cara que só nós médicos fazemos quando algo não vai bem com o paciente.

— Então doutor, o que há com a Lívia? - Questionei, direto.

— Há chances de que ela tenha uma morte causada por um aneurisma cerebral. - Soltou, e fiquei um pouco surpreso. Ele viu minha reação e tratou de explicar: - O acidente que Lívia sofreu causou danos em seu cérebro, o que explica o coma. E um aneurisma cerebral é causado por um segmento de vaso sanguíneo, encontra-se anormalmente dilatado no encéfalo. A dilatação é causada em geral por uma falha muscular da parede de uma artéria ou muito mais raramente de uma veia do cérebro. Fiz uma TC no cérebro dela e constatei que o aneurisma atingiu grandes proporções do local, e por isso, já conversei com ela antes de trazerem o Peter, expliquei toda situação, e ela quer a cirurgia. Disse que se morrer, pelo menos não sentirá nada anestesiada, mas antes disso me pediu para deixá-lo a par de tudo, e quer conversar com o senhor quando terminarmos esta conversa. A mãe dela não sabe de nada ainda, a pedido da própria paciente. - Ele me mostrou a TC e apesar de não entender muito bem sobre neuro, já que meu negócio é cardio, pude ver que o cérebro dela está bem ferrado. - O problema é que o aneurisma, ao romper-se dentro da cabeça, no interior do crânio, pela estrutura inelástica, produz lesão ao encéfalo e um aumento da pressão intracraniana, o que faz com que as estruturas do cérebro responsáveis pela vitalidade sejam comprimidas, ocasionando a morte por parada respiratória.

— Então você está me dizendo que Lívia ainda pode morrer? - Indaguei, e de repente toda minha raiva de Lívia foi substituída por pena, e logo pensei em meu filho... Meu Deus, ele ficará desolado!

— Infelizmente, sim. O aneurisma muitas vezes aparece de surpresa, e quando descobrimos ele, já está em proporções preocupantes. Normalmente o aneurisma se rompe após os sintomas se revelarem, e são eles: desmaio, ela provavelmente sentirá uma dor de cabeça terrivelmente forte e vomitará devido ao sangramento em torno do cérebro. A morte pode ocorrer se houver o comprometimento de áreas vitais como as de controle da respiração ou da pressão arterial. E meu dever é fazer a cirurgia antes desses sintomas aparecerem, mas ela insistiu pra falar com o senhor antes, já que se morrer na mesa, não poderá falar mais nada, segundo ela.

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