Capítulo 6 - Foi só uma recaída

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Privacidade era uma palavra que não exista mais no meu vocabulário desde o dia em que selei aquele maldito acordo com Ian.

Ele não largava do meu pé, ficava o dia inteiro se certificando de que eu estava comendo direito e pior do que isso, ele ficava olhando eu comer como se estivesse assistindo a sessão da tarde.

Além disso, Ian deixou de me levar ao Clube5 no intuito de me fazer parar de beber, mas mal sabia ele que eu tinha um estoque de vinho quente, que acabei roubando do meu pai, dentro do meu esconderijo secreto. Eram aquelas bebidas caras que ele guardava por décadas e de gerações Chevalier.

E como eu sabia que ele não iria usufruir daquela raridade e presentes divinos contidos em várias garrafas, decidi tomar posse delas, pois eu tinha certeza de que faria um bom proveito e me deliciaria com todas aquelas quantidades absurdas de álcool.

Ian sabia dos meus péssimos hábitos alimentares — que tinham razões muito boas para serem assim —, mas ele não sabia que quando eu comia era como se eu estivesse fazendo a última refeição da minha vida e logo depois vomitava tudo.

Disso Catarina não sabia e não podia fofocar para ele, o que era bem gratificante, já que ele pensava que estava me ajudando a ser uma pessoa melhor.

Como ele era ingênuo!

— Coma mais um pouco — pediu, empurrando o prato para mim. Naquele dia eu não estava me sentindo muito bem, tinha bebido uma garrafa inteira de vinho quente e meu estômago estava embrulhado.

Balancei a cabeça negativamente, cobrindo os lábios com uma das mãos.

— O que foi? — ele arrastou a cadeira para mais perto de mim, pousou a mão nas minhas costas e automaticamente me sacudi para me livrar de seu toque. Ele tinha uma mania chata de ficar me tocando e isso só me deixou ainda mais enjoado.

— Nada — consegui dizer com a boca coberta e os dentes cerrados. Fechei os olhos na esperança de que aquele enjoo passasse logo e me atrevi a dar mais uma garfada rezando para o meu corpo não fazer a digestão daquele monte de comida.

Não mastiguei muito, apenas engoli direto achando que na hora de vomitar sairia com mais facilidade.

Meus olhos começaram a lacrimejar assim que os abri. Claro que eu estava acostumado com aquela quantidade absurda de comida, mas meu corpo parecia saber a hora certa de jogar tudo para fora sem que eu precisasse enfiar do dedo na garganta como eu costumava fazer.

Tentei respirar fundo, ignorando o olhar preocupado de Ian, que estava muito próximo de mim. Respirar doía, era como se toda aquela comida estivesse atrapalhando o funcionamento dos meus pulmões e foi o que bastou para que eu corresse para o banheiro na mesma hora e vomitasse tudo o que comi naquele dia.

Não era agradável, nunca era, mas o alívio que vinha em seguida compensava aquele gosto amargo e terrível que me deixava ainda mais nauseado.

Daquela vez foi diferente, não conseguia abrir meus olhos direito sem ver apenas vultos e minhas mãos tremiam. Quando levei uma das mãos trêmulas até os lábios pude sentir o cheiro do sangue que escorria da minha boca e foi o que bastou para que eu vomitasse mais.

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