Capítulo 45 - Desatando os nós em minha cabeça

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Noah

— Exijo uma explicação urgente — sussurrei, mal conseguindo falar. Minhas mãos tremiam tanto que Thiago puxou a foto delas e compartilhou um sorriso comigo, que devia me acalmar, mas que só me deixou ainda mais apreensivo.

— Jasmim Tramontini tem milhares de passagens em um hospital daqui, já que seu irmão trabalha nele.

— Kevin? — arrisquei, tentando manter a voz audível e fracassando.

— Sim — concordou, puxando mais umas folhas e lendo-as para si. — Kevin Tramontini é o responsável por cuidar dele desde os cinco anos.

— Dele? — eu quis saber, confuso. — Ian não era uma mulher? — Eu estava bem perdido e estava difícil de respirar, era informação demais para mim, tanta que meu cérebro já não conseguia absorver tudo.

— Sim, Ian é um homem transgênero.

Aquilo só ferrou tudo de vez, estava ainda mais difícil de entender, visto que eu não tinha a menor ideia do que seria um homem transgênero e Thiago pareceu notar essa minha falta de conhecimento, pois foi logo me explicar com uma serenidade que me surpreendeu.

— É um transtorno de identidade de gênero, ou seja, Ian nasceu com o corpo de menina, mas não se identificava com ele, pois por dentro era um menino — explicou, pausando às vezes para dar tempo de eu digerir. — Não sou um expert no assunto, mas fiz algumas pesquisas e se o senhor quiser posso aprofundar um pouco mais.

— Então o Ian é uma mulher? — Era só nisso que eu pensava, tudo não passou de uma grande mentira? Fiquei meses e mais meses me remoendo por não querer ficar com um homem e no final das contas eu nem estava apaixonado por um homem?

— Não — Thiago logo me repreendeu, cortando a minha linha de pensamento. — Ele é um homem trans, não confunda as coisas.

— Isso não faz o menor sentido! — Peguei a foto de novo e aproximei do meu rosto, passeando os olhos em cada imperfeição que eu conhecia bem até demais. — Como essa garota pode ser o Ian? Isso tá errado, deu algum erro nessa sua pesquisa!

— Não deu não — Thiago cruzou os braços, me lançando um olhar afiado. — Tenho registro de sua mastectomia e dos hormônios que passou a usar há pouco tempo depois de muito acompanhamento no psicólogo.

— Mastectomia? Hormônios?

— Sim, a retirada dos seios. Foi feita quando ele tinha vinte anos, mas o tratamento hormonal foi até recente por assim dizer.

— Seios? — fiz uma careta, pensando em Ian com peitos. Aquilo não era nem um pouco agradável e aquela conversa também não. — Não existe essa coisa de trans! Ou é mulher ou é homem, isso não tem sentido nenhum!

— É claro que tem, príncipe. Se o senhor decidir ir atrás do Ian terá que deixar esse preconceito nojento de lado — reclamou, parando de soar profissional e mecânico para usar um tom potente que logo me desestruturou, parecia que a conversa tinha se tornado pessoal. — Caso contrário, ele ficará muito melhor sem você.

— Quem você pensa que é para... — Me interrompi na mesma hora devido ao bolo ainda contido em minha garganta, ficando cada vez mais apertado, mais difícil de respirar. Aquilo doía, me destruía, sufocava... Tantas mentiras, tantas...

Como ele ousava olhar na minha cara escondendo uma coisa daquelas?

Eu já estava arfante quando comecei a chorar, manchando a foto da maldita Jasmim, de repente passei a odiar aquele nome e o que ele significava.

— Ian que se dane — murmurei, entre soluços. — Não sou obrigado a aceitar e nem lidar com nada disso.

— Sei disso e isso prova que você não o amava.

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