— Noivo? — repeti ainda em choque mais para mim mesmo do que para o Ícaro.— Sim — confirmou com naturalidade. — Não me diga que você é um daqueles conservadores ignorantes, Ian ficaria decepcionado.
— Não — me apressei em dizer. — S-s-só fiquei surpreso — gaguejei antes de dar um sorriso amarelo.
Leo colocou a mão no ombro de Ícaro com sorriso de orelha a orelha. Não parecia nem um pouco incomodado com aquilo, ambos não pareciam. Quando Ícaro levantou a cabeça para olhar para ele foi quando percebi o quanto eu era idiota.
Nunca vi dois homens noivos, nem sabia que existia tal coisa, para mim não passava de um tabu, algo que deveria ser escondido, mesmo que eu não concordasse.
Quando nos sentamos em uma das mesas foi que a relação deles ficou ainda mais gritante porque o Leo era o ser mais carinhoso que eu já tinha visto na minha vida. Ficava perguntando toda hora se ele estava com frio, além de acariciar seus dedos no braço da cadeira de rodas.
Leo também ficava vermelho quando o Ícaro olhava para ele. Sinceramente eu não sabia o que essa família do Ian tinha para fazer todo mundo ficar vermelho, mas senti compaixão pelo Leo na mesma hora.
O mais importante era que mesmo que Ícaro estivesse preso naquela cadeira de rodas, Leo não olhava para ele com pena e sim como se fosse um pedaço da alma dele. Nunca vi tanto sentimento em apenas um olhar e fiquei me perguntando se o Ian olhava para mim daquela forma.
— Quando irão se casar? — eu quis saber, mais confortável para falar após aquele baque.
— Vai demorar ainda — Leo respondeu, tinha a voz mais calma do mundo, bem diferente da de Ícaro que era mais grossa e emponderada. — Alguns anos talvez, queremos nos estabilizar primeiro.
— É, vamos nos mudar para cá — completou Ícaro antes de parar um garçom e pedir mais uma remessa de comida.
— Sério? — perguntei, maravilhado.
— É sim. Vamos nos casar aqui, já que em Grande Sunshine não é permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo graças ao filho da puta do nosso presidente! — Ícaro praticamente berrou.
— Fala baixo, Icky — murmurou Leo parecendo um ratinho assustado. — Ele pode ouvir.
— Essa foi à intenção.
Coincidência ou não, Christian Leal estava na festa e a poucos centímetros de distância com uma garota bonita nos braços e seu filho Theo ao lado como se pedisse em silêncio para que alguém o tirasse dali.
Como se tivesse sido chamado, Christian inclinou a cabeça e cravou os olhos em Ícaro não disfarçando o desgosto ao vê-lo. Theo engoliu em seco assim que viu o pai deixando a garota de lado e indo até nós com aquele andar de ogro.
Eu particularmente nunca tinha visto um homem tão grande quanto aquele e ao lado estava Theo como um chaveirinho perto do brutamonte que era seu pai.
Christian usava uma camisa social branca com as mangas abotoadas e uma calça preta larga, totalmente diferente do filho, que usava uma roupa bem mais estilosa que consistia em uma blusa preta com detalhes que não entendi muito bem o seu significado, uma calça marrom um pouco justa demais para ele e uma echarpe vermelha que parecia ser a marca registrada das pessoas em Grande Sunshine.
— Posso saber o que senhor estava falando de mim pelas minhas costas? — Christian quis saber, pude notar que ele tremia.
As mãos dele estavam cerradas num punho deixando ainda mais evidente a rixa que os dois tinham, mas Ícaro não se amedrontou com aquele ser animalesco pronto para dar um soco bem dado nele, apenas sorriu com traços visíveis de humor na expressão, como se tudo não passasse de uma grande piada.
— A verdade — Ícaro se atreveu a dizer, sem medo algum na voz. — Que o senhor é um filho da puta enrustido que não aceita o casamento dos outros porque não tem coragem de sair do armário e ter o seu próprio.
Cada palavra de Ícaro parecia ser uma bofetada em Christian e Theo, que continuava encolhido ao lado do pai certamente querendo tirá-lo daquele fogo cruzado.
— Sair do closet — interviu Lipe brincando com a franja da echarpe rosa exibindo suas unhas pintadas da mesma cor.
— Closet? — questionou Ícaro sacudindo a cabeça sem entender.
— Sim, closet — Lipe revirou os olhos. — Sair do armário é tão amador.
Ícaro optou por ignorar o primo e voltar a dar atenção à briga com o presidente que continuava parecendo que iria trucidá-lo a qualquer instante.
— Fique sabendo que só não te expulsei de Grande Sunshine ainda porque você traz mais turistas. — declarou o presidente, sem dó.
— Nem precisa se incomodar — Ícaro falou, ainda mais alto do que o presidente. — Eu mesmo irei sair daquela merda de país, mas não pense que não abrirei a boca, presidente.
— E pensa que vão acreditar em você, aleijado?
Ele nem tinha falado comigo, mas me senti ofendido. Leo estava prestes a se levantar para defender o seu noivo, porém Ícaro o pressionou na cadeira lançando um olhar de que estava tudo bem, entretanto nem isso deixou as coisas menos tensas.
— E esse foi você tentando me ofender? Me atingiu tanto que me deu sono — ele bocejou teatralmente. — Faça um favor a mim e ao mundo e vá para o inferno, Christian.
Por um segundo fiquei com medo de que o Christian levantasse a mão para bater nele e fiquei torcendo para que Theo tirasse logo ele dali.
— Não sou eu quem faço depravações na Terra — cuspiu, semicerrando os olhos negros e vazios.
— Depravações? A sua mera existência é uma depravação! — retrucou apertando a mão de Leo, que continuava inquieto. Pelo visto ele odiava brigas tanto quanto eu, ainda mais quando a pessoa que ele amava estava prestes a levar um soco.
Assim que ele levantou a mão com o ódio estampado no rosto foi quando Theo resolveu intervir.
— Christian! — exclamou, horrorizado. — Olha para mim, por favor.
Ele fingiu não ouvir, ou sequer tinha ouvido, pois estava concentrado demais no ódio que o cegava.
— Anjinho — chamou Theo, com a voz mais calma e até mesmo carinhosa e indo a passos lentos até o Christian que continuava imóvel com o punho levantado a poucos centímetros do rosto de Ícaro.
A festa inteira estava olhando, mas o presidente nem sequer notou assim como eu que estava tão imerso na briga que esqueci que o centro de tudo deveria ser eu.
— Olha para mim, anjinho — Christian automaticamente relaxou como se as palavras de Theo tivessem finalmente surtido algum efeito nele e o mesmo obedeceu ao pedido do filho, virando para encará-lo.
— Darling? — Ele tremia violentamente, como se estivesse com frio, embora suasse ao mesmo tempo.
— Sim, sou eu — Theo confirmou, o que eu achei estranho porque eles estavam de frente um para o outro e não precisava dessa cena toda para se sintonizarem. — Tá tudo bem, anjo.
Me senti muito incomodado com os olhares dos dois. Sinceramente eu nunca tinha visto um pai olhar para o filho daquela forma e nem chamá-lo de darling. Isso sem falar do Theo que chamava livremente o pai de anjo como se fosse algo normal. A mera hipótese de eu chamar meu pai assim já me dava uma ânsia de vômito.
— Vamos — Theo o puxou pelo pulso e o mesmo o seguiu sem reclamar ou protestar.
Quando a festa finalmente se estabilizou, Theo voltou ao nosso encontro, mas dessa vez desacompanhado e se não fosse a expressão pacifica do menino, eu poderia jurar que mais uma briga estava vindo.
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Feche a porta quando sair ✅
RomancePLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Noah Chevalier tinha um plano: iria se casar, ter uma filha e assumiria o posto de rei da Ilha das Flores como sempre sonh...