Assim que acordei, nauseado e com uma dor de cabeça terrível, fui até o meu armário pegar mais uma das diversas telas em branco que eu tinha, tentando ignorar a minha tontura e diferenciar os potinhos de tinta, que ficavam escondidos e organizados em ordem alfabética por cor dentro das gavetas.
Levantei as minhas calças, feliz por não me lembrar do que aconteceu para que elas tivessem abaixadas.
Eu não sabia exatamente quando adormeci e nem como, pois a primeira coisa que senti quando despertei foi a dor dilacerante das minhas mais recentes fissuras.
Sacudi a cabeça, tentando não pensar muito nisso e comecei a pintar mais um dos meus desenhos abstratos, que muitas vezes não tinham significado nem mesmo para mim.
Contornei as linhas grossas, sombreando-as com vermelho. Não fazia muito sentido e eu nem era um bom pintor, mas era apenas uma coisa que eu fazia para me distrair daquele pesadelo que me assombrava todas as noites, me forçando a beber.
Meu mundo era assim: pequeno, solitário e completamente cinzento. Talvez por isso eu gostasse tanto de pintar e desenhar. As cores das tintas davam as cores que faltavam em minha vida e ainda assim, não bastava.
Depois que terminei, lavei as mãos, escovei os dentes e desci para tomar café sabendo que teria que vomitar tudo depois por conta das fissuras. Sem falar que à noite eu precisaria beber de novo e se eu deixasse comida no meu estômago provavelmente amenizaria o efeito do álcool e não era isso que eu queria.
Eu não vomitava tudo, só o bastante para o efeito do álcool ser o máximo possível e não sentir tanta dor.
Após comer feito uma traça e vomitar metade de tudo o que comi, fui até o estábulo conversar com o meu tão adorado cavalo negro que acabei dando o nome de Trovão, que ironicamente era a coisa que eu mais temia no mundo.
Fiz questão de colocar uma roupa mais leve, a minha coroa e me apressei, andando pelo gramado, contornando a fonte inútil e soltando o ar ao alisar a crina do cavalo, que sempre ficava feliz em me ver.
— Sentiu saudades, Trovão? — murmurei com um sorriso. — Estou com uma dor de cabeça tremenda.
O cavalo fez um barulho enquanto balançava aquela cauda longa e brilhante como se fosse um cachorrinho feliz.
Sempre achei que eu e Trovão tivéssemos uma espécie de conexão, talvez se devesse ao fato de ele ser considerado um cavalo indomável e até mesmo rebelde antes de me conhecer. Insisti ao meu pai que eu o queria, mesmo o criador dizendo que não era um bom negócio. Meu pai relutou, porém acabou comprando como sempre comprava praticamente tudo o que eu queria e ainda assim nunca ficava satisfeito.
— Tive uma péssima noite de sono, Trovão — comentei.
— Eu também não tive uma muito boa — respondeu uma voz.
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Feche a porta quando sair ✅
RomancePLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Noah Chevalier tinha um plano: iria se casar, ter uma filha e assumiria o posto de rei da Ilha das Flores como sempre sonh...