Para a minha surpresa, ele estava bem animado quando saímos da boate assim que o turno dele terminou e eu fiquei apenas o analisando, rindo por dentro por ele sequer pensar que iria se aproveitar de mim de novo.— E aí — sussurrou ele, me encostando na parede daquele mesmo beco.
Assim que seu halito nojento chegou perto de mim, virei o rosto, sabendo que ele queria me beijar.
— O que foi? — ele me segurou pelo queixo. — Tá zangadinho ainda?
Não respondi, me senti encurralado com as suas mãos me cercando ao lado da minha cabeça como se quisesse me manter ali. Eu não iria tolerar ser submisso daquele jeito, deixar aquele estranho me controlar, me acariciar e me tocar como bem entendesse, como se tivesse o direito de fazer aquilo.
Eu ainda estava irritado e zangado. Aquele idiota me lembrava muito o Ian e toda raiva que eu sentia por ele só duplicou. Eu via William como um alvo, uma válvula de escape. Assim como Ian, ele estava apenas se aproveitando de mim, quem sabe até tinha feito uma aposta com alguém.
Eu não ia tolerar ser pisado daquela forma de novo, aqueles malditos cabelos encaracolados não iriam me atrair novamente, a voz sedutora não deixaria mais meus pelos arrepiados e eu não sentiria mais uma vontade louca de agarrá-lo, não mesmo.
Com uma força que eu não tinha ideia de onde vinha, eu o empurrei, desequilibrando-o e com as veias praticamente saltando da pele devido a força que depositei no meu punho cerrado, dei o primeiro soco e muito bem dado.
Claro que não parei por ali, nem sequer dei a chance dele se levantar, de reagir, lutar. Simplesmente continuei, com chutes, pontapés e por um segundo deixei de ver William ali e passei a ver Ian, o meu Ian.
Aquilo foi torturante para mim, porque era como se eu estivesse batendo nele e logo depois a imagem sumiu e eu me vi ali, encurralado, sendo quase morto por uma violência urbana de um desconhecido que me espancou gratuitamente. Por um segundo deixei de ser Noah, de me sentir Noah e passei a ser Igor, aquele ser covarde que eu tanto detestava, que ria das coisas que eu falava, que me tratava com indiferença, como se eu fosse alguém inferior justamente por não poder mudar aquilo que não pude escolher.
Eu sabia que se eu pudesse escolher eu não estaria naquele beco, com fantasmas do passado surgindo de lugares obscuros, espancando um garoto aleatório com uma força que eu nem sabia que tinha. Eu estaria em casa com a minha esposa, com a minha filha no colo dela em uma cadeira de balanço desfrutando daquele momento intimo e único que era a maternidade, o nascimento da minha primeira filha.
De repente meu coração começou a apertar e meus socos enfraqueceram assim como a minha força, eu me sentia fraco, pequeno e ao ver o rosto ensanguentado de William me senti ainda pior.
Aquele breve momento de fraqueza, foi o bastante para ele se reerguer e puxar a minha perna, me jogando com força no concreto sujo e molhado do beco. Ele subiu em cima de mim e me prendeu em seus braços com o seu corpo sobre o meu. Tentei sair dali, mas não consegui, seu aperto era forte demais.
Foi naquele desespero todo que eu senti um golpe bem mais forte do que o de Igor, parecia que meus dentes tinham ficado dormentes com a pancada e senti sangue escorrer pelo meu lábio.
— Seu filho da puta! — xingou, furioso. — Viadinho de merda!
Cada xingamento vinha com uma porrada mais forte do que a anterior e eu simplesmente fechei os olhos, aceitando aquilo e tentando não pensar muito na dor, que provocava lágrimas em meus olhos mesmo que eu estivesse fazendo força para afugentá-las.
— Pare! — uma voz firme chamou, interrompendo os socos, para o meu alívio.
Mesmo naquela situação decadente, consegui reconhecer a voz e com a minha visão meio embaçada, virei a cabeça ensanguentada para ver aquela figura esquelética me encarando com certo horror.
— Acho melhor a senhorita sair daqui — alertou William. — Isso aqui é briga de homem e esse babaca merece apanhar.
— Eu já disse pra parar — ela deu um passo a frente, com uma confiança que não parecia ser dela, pelo menos eu nunca a tinha visto caminhar daquela forma na minha frente, eu sempre a intimidava.
— Quem é você alias? — Ele apertou meu pescoço enquanto se dirigia a ela, como se quisesse me estrangular enquanto conversava.
— É melhor sair de cima dele antes que eu chame a polícia — avisou, se aproximando de nós com o som irritante daqueles sapatos gastos e totalmente fora de moda.
Senti o ar fugir dos meus pulmões quando William apertou ainda mais meu pescoço e tossi em resposta, me sentindo ainda mais fraco.
— Polícia? — ele riu, uma risada que fez eu me encolher, me lembrou da risada que Ian deu na nossa terrível despedia.
— Sim, polícia e você sem dúvida vai preso por estar batendo no príncipe.
— Quem é você? — repetiu a pergunta, já impaciente.
Ela não respondeu, apenas continuou lançando um olhar tão severo a ele que até eu fiquei intimidado.
Já que ninguém tinha se dado ao trabalho de responder, eu mesmo o fiz, um pouco espantado por justo ela de todas as pessoas que já passaram pela minha vida ter se dado ao trabalho de me defender, justo a pessoa que eu mais pisei e desprezei e pela primeira vez em toda a minha vida eu não pronunciei seu nome com nojo, mas sim com certa admiração:
— Catarina — murmurei, deixando fugir o pouco ar que eu ainda tinha.
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Feche a porta quando sair ✅
RomancePLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Noah Chevalier tinha um plano: iria se casar, ter uma filha e assumiria o posto de rei da Ilha das Flores como sempre sonh...