Noah
Seus dedos apertaram os meus conforme ele fazia força. Estávamos em um dos inúmeros quartos de hospital, com muitos médicos em volta.
— Força, empurre — O médico pedia diante das pernas abertas do Ian.
Aquela cena toda era desconfortável, só que Ian não estava com tempo para sentir vergonha, estava muito ocupado se contorcendo de dor enquanto atendia ao pedido do médico.
— Respire, meu amor — pedi, tentando fazer ele se acalmar e comecei a inspirar e expirar com força, no intuito de que ele fizesse o mesmo.
Ian estava com a cabeça inclinada, querendo ver o que acontecia e ao mesmo não podendo manter os olhos abertos por muito tempo, pois uma avalanche de dor logo voltava enquanto ele empurrava a criança.
Ele suava muito e a pele estava pálida como um fantasma. Dava para ver as lágrimas de dor escorrendo pelo seu rosto e tive que me controlar para não abraçá-lo, até porque isso me faria ser expulso do quarto.
Meus pensamentos foram interrompidos com um choro de bebê. Virei o rosto na mesma hora, prestando bem a atenção naquele serzinho coberto de sangue nos braços do médico.
Ele cortou o cordão umbilical e com um pano, começou a limpá-lo.
— É um menino — informou, me deixando triste e feliz ao mesmo tempo.
— Menino? — Era possível ver a decepção no rosto de Ian, que evitava a todo custo olhar para mim e logo ele gemeu.
— Ei, não fica assim. Temos um lindo príncipe — garanti, sorrindo para ele a fim de fazê-lo se sentir melhor.
Mas ele nem pareceu me ouvir, voltou a se contorcer como se sofresse de espasmos e começou a gritar de novo, repleto de agonia.
— O que foi? Ian! — exclamei, assustado. Olhei novamente para o médico que entregou meu filho para uma enfermeira e voltou à posição de antes, meio surpreso.
Abaixou a cabeça e pousou os olhos na vagina de Ian e pedindo para ele empurrar.
— São gêmeos — disse ele, ao notar a minha cara de espanto. — Empurre, Ian.
Gêmeos? Voltei à atenção a Ian, sorrindo feito um babaca. Eu ia ser pai de gêmeos?
Esse saiu bem mais rápido do que o outro e Ian estava esgotado no final, mal conseguindo abrir os olhos, a respiração fraca e quase inaudível.
— É uma menina — garantiu o médico sorrindo. — Parabéns, vocês tem gêmeos!
— Uma menina e um menino? — perguntei para mim mesmo, mal acreditando no que estava ouvindo. — Ouviu isso, Ian? Gêmeos.
Ian deu um sorriso fraco e me encarou com muito esforço.
— Gêmeos — conseguiu sussurrar através dos lábios secos e opacos e foi à última coisa que ouvi, quando a escuridão o alcançou.***
Foi tudo rápido demais, consegui ver apenas os borrões dos médicos me afastando e me enxotando do quarto, enquanto tentavam reanimar Ian.
Logo me vi naquele corredor longo e frio, diante da fileira de cadeiras da sala de espera.
Sentei bem na frente da porta, assustado e tentando lidar com a tremedeira que se apossou de meu corpo. Fiquei observando aquele tique-taque incessante do relógio, vendo os minutos se passarem, as horas e a porta continuar ali, fechada e intocada.
Fiquei fora do ar por um tempo, assimilando a ideia de que o Ian podia estar morto. Não pensei que isso podia acontecer, porém vê-lo pálido e sem vida ao meu lado me fez questionar isso.
Não.
Ian não estava morto, estava bem e só precisava de tempo para se recuperar. Coloquei as duas mãos na cabeça e vinquei a testa, reprimindo um grito que não seria nada bem recebido. Quem passasse perto de mim, podia ouvir o meu choro fraco e soluçante.
As paredes brancas estavam me dando enjoo e fitar as lajotas da mesma cor estava me enlouquecendo. Eu precisava saber se ele estava vivo, se eu o tinha perdido para sempre devido a caprichos meus.
Não eram bem caprichos. Eu queria ter filhos, sempre quis, mas perder Ian nunca esteve nos meus planos. Preferiria que ele fosse estéril a perdê-lo, seria muito menos doloroso.
Não iria conseguir olhar para aquelas crianças sem que ele estivesse ao meu lado, vivendo tudo aquilo comigo. Como eu olharia para o menino que provavelmente possuía seus olhos? Para a menina que tinha o mesmo sorriso? Como olhar para eles sem desmoronar por dentro? Sem sentir um vazio de algo que foi tirado de você?
É claro que eu não seria idiota ao ponto de culpá-los. Eu culparia a mim mesmo e a minha irresponsabilidade de deixá-lo morrer sem fazer nada a respeito.
Quando a porta finalmente se abriu e um daqueles médicos veio em minha direção com uma cara de enterro que certamente carregava uma noticia terrível, tive certeza de que meu mundo estava prestes a cair.
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Feche a porta quando sair ✅
RomancePLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Noah Chevalier tinha um plano: iria se casar, ter uma filha e assumiria o posto de rei da Ilha das Flores como sempre sonh...