Mal tive tempo para raciocinar, apenas varri o recinto a procura de Ian e quando não o encontrei, arrastei a cadeira com violência e praticamente corri dali, quase aos prantos.
Ignorei os protestos do meu pai e a cara de choque da ruiva, e fui até o quarto do meu avô, que era o único que me entenderia.
Nem sequer bati na porta, simplesmente fui entrando, me permitindo chorar e despertando Otávio da leitura de seu livro surrado e grosso composto por várias páginas amareladas e manchadas de café.
— Noah? — disse, apertando os óculos que escorregava do nariz pontudo e fechando o livro empoeirado antes de se inclinar levemente na cadeira de balanço e erguendo seus dedos enrugados a fim de me acolher. — O que houve, filho?
Ao contrário do meu pai, quando Otávio me chamava de filho não parecia falso, mas sim algo natural.
Como se tudo aquilo estivesse entalado na minha garganta, despejei como um vômito. Relatei todos os meus sentimentos conflitantes, porém verdadeiros com relação a Ian, sem ousar sentir vergonha deles. Não esperava que ele os entendesse, apenas que não me julgasse por isso como os outros certamente fariam.
Assim que finalizei meu veredicto, comecei a soluçar antes de contar sobre a noiva que meu pai arranjou sem o meu consentimento.
Fiquei feliz por ele não ter estado presente na mesa. Ele sempre evitava esse tipo de reunião familiar para não ter que lidar com o exibicionismo de seu filho que era o oposto dele. Talvez por isso ele estava tão disposto a me ouvir e me ajudar, pois temia que no futuro eu me tornasse uma fração do que meu pai era.
Assim como eu, Alejandro Chevalier não recebeu amor ao longo da vida de nenhum de seus pais que estavam focados apenas no reinado e quando o mesmo cresceu e foi coroado, deixou ambos de escanteio e quando meu avô tentou recuperar essa relação que nunca existiu, já era tarde demais.
Ele sabia da burrada que tinha feito e sabia que a história estava prestes a se repetir com o seu neto, embora eu soubesse muito bem que eu não era nada parecido com o meu pai, nem por dentro e nem por fora.
Me sentei na cama e meu avô veio logo em seguida, dando batidinhas em meu ombro.
— Eu disse que não seria fácil, nada é — ressaltou com a sua sabedoria transparecendo em sua voz. — Mas você o ama?
Não era uma pergunta que eu esperava, ainda mais dele que viveu numa época bem diferente da minha, menos tolerante, onde dois homens juntos era algo mal visto, uma safadeza promíscua, algo sujo com a qual deveriam se envergonhar.
— Acho que é muito cedo para afirmar isso — Eu não sabia se era amor mesmo ou uma coisa completamente diferente, porque o único amor com o qual tive contato foi aquele dolorido, agonizante e repulsivo que a minha mãe me dava. Com Ian não era assim, era puro, doía e ao mesmo tempo curava todas as minhas cicatrizes. Era algo bom, que me fazia ter uma pequena ideia do que era felicidade e talvez por isso fosse tão difícil abrir mão dele. Eu não me sentia preso como quando estava com a minha mãe, mas sim livre, estar com Ian me libertava, era como se não existissem barreiras, como se juntos fossemos imbatíveis, livres para ser o que somos sem medo.
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Feche a porta quando sair ✅
RomansPLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Noah Chevalier tinha um plano: iria se casar, ter uma filha e assumiria o posto de rei da Ilha das Flores como sempre sonh...