Capítulo 34 - Você é apenas meu

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Meu corpo inteiro travou, meu sangue congelou

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Meu corpo inteiro travou, meu sangue congelou.

Ao ver o andar situante da minha mãe, mal tive forças para me mover. Só consegui ficar ali, nos braços de Ian vendo a mulher de cabelos cor de areia vindo em nossa direção com uma postura rígida e o rosto retorcido numa mistura de insatisfação e fúria que me fez ter medo.

Não era como se ela fosse simplesmente ir até lá e me bater, conhecendo a minha mãe, era algo muito pior.

— Noah — pronunciou com firmeza. De repente não era mais a minha mãe falando, era a rainha.

Ian também ficou paralisado, porém foi o primeiro a se mover e me libertar de seu abraço. Notei que ele tremia, como se tivesse medo do que ela podia fazer com ele.

O máximo que poderia acontecer com ele era ser demitido, já comigo eu não fazia ideia.

— Mãe — minha voz mal saiu.

Minhas pernas vacilaram quanto tentei me levantar, pois estavam tão bambas que tive que me apoiar na árvore para ficar em pé.

— O que significa isso? — cuspiu. — Esses agarramentos inapropriados? — Ela estava mesmo furiosa, quase consegui ver a espuma saindo da sua boca.

— Agarramentos? Que agarramentos? — Me fiz de desentendido, mas meu rosto ficando vermelho acabou me traindo.

Eu não sabia se ela estava com raiva por eu estar com o Ian, que era um homem e meu motorista ou porque eu estava com alguém. Nunca parei para pensar se ela sentia ciúmes de mim e só de levantar essa hipótese eu já tinha vontade de vomitar.

— Venha até aqui imediatamente! — berrou com os dentes rangendo tamanha era sua fúria.

Confesso que fiquei com medo de me aproximar e ela me trucidar sabendo que eu jamais revidaria. Eu não teria coragem de levantar a mão para ela, na verdade eu não teria coragem de levantar a mão para nenhuma mulher, embora eu quisesse mudar isso devida às circunstancias.

Venci o meu medo dando um passo e depois outro. Meus passos eram calculados e lentos, tanto que eu parecia uma noiva caminhando no altar — ou até mesmo indo para a forca, como certamente seria o meu caso.

Já podia sentir o meu pescoço sendo estrangulado...

Calma, Noah.

Deixa de ser covarde.

Prendi a minha respiração e tentei me manter calmo, ignorando Catarina e Ian atrás de mim.

A rainha pigarreou, um sinal claro para que ambos se retirassem. Ela queria me matar a sós para que não houvesse testemunhas, muito inteligente!

— Oi — Dei o sorriso mais forçado da minha vida, meus dentes batiam um no outro e meus lábios tremiam, assim como todo o meu corpo.

— Você está noivo. Esse tipo de comportamento é inadmissível. Está agindo como um adolescente.

— Mas eu sou um adolescente, mamãe.

— Não, você é um futuro rei e deve agir como tal desde já — Nunca vi ódio e rigidez se misturarem numa só frase e quando vi, fiquei com mais medo ainda. — Sem falar que nada justifica o fato de você estar agarrado com um empregado daquela forma.

Daquela forma — repeti mentalmente. Aquelas duas palavrinhas ecoaram na minha cabeça repetindo como batidas de tambor.

O tom que ela usou, a forma como falou. Não era ódio, nem rancor. Era nojo, aquilo enojava ela assim como enojava muitas pessoas e não entendi muito bem porque aquilo me incomodou.

O que ela fazia era muito pior, nem podia ser descrito em palavras. Era podre, desumano. Como ela ousava sentir nojo de mim sendo que ela fazia as maiores imundices possíveis com o próprio filho?

Eu podia muito bem questioná-la, apontar o dedo na cara dela e detalhar todo o horror dos abusos que feriram não só o meu corpo, mas também a minha alma. Podia descrever aqueles atos imundos que mancharam a minha infância, que tiraram as cores da minha vida.

Mas não, eu era fraco, imaturo e incapaz de descartar o único amor que já recebi.

— Desculpa, mamãe — falei, mecanicamente, mas ao mesmo tempo bem tenso. — Isso não irá se repetir.

— Você é gay, Noah? — ela quis saber e me vi diante de um fogo cruzado.

Eu sabia da verdade e sabia das consequências dela. Não importava o motivo ou o quão perdido eu me encontrava, jamais afirmaria com todas as letras que eu era algo que metade do mundo abominava.

Chegava a ser ridículo porque eu sabia que se eu não tivesse passado tanto tempo me questionando e confuso com meus próprios sentimentos, eu seria igual a ela. Eu também sentiria nojo, eu também sentiria repulsa, eu também esconderia as crianças diante de tal abominação.

Incrível que a gente só entende as coisas quando as sentimos na pele. Não era como se eu quisesse gostar do Ian daquela forma nada convencional. Por mim eu me apaixonaria por uma mulher, casaria, teria filhos e viveria numa família tradicional, dita como ''normal'' aos olhos dos conservadores.

Mas a minha realidade não era essa, meu mundo era outro. Se eu quisesse ter aquela vida Ian não iria estar nela e isso estava fora de questão.

Entretanto, eu não podia simplesmente fechar os olhos e fingir que o mundo é perfeito e que todo mundo aceita todo mundo. O preconceito existe, está enraizado na raça humana e por mais que doesse admitir, era por causa dele que eu ia me render, que eu ia continuar escondido como se estivesse cometendo um crime, sendo que o meu maior crime era ter me apaixonado, chegava a ser injusto!

Escolhi a palavra que ela queria ouvir, a que todos esperavam ouvir quando uma pergunta dessas era feita:

— Não — Até soei convincente, tanto que apenas eu conseguia sentir o leve tremor que a minha voz teve ao pronunciar.

— Ótimo — Ela se aproximou, vitoriosa e não hesitou em me dar um abraço um tanto malicioso antes de sussurrar no pé do meu ouvido. — Você é apenas meu, Noah. Nada e nem ninguém vai tirá-lo de mim.

Engoli em seco quando ela se afastou e me deu um rápido beijo na bochecha. Quando a distância entre nós ficou segura foi que me encostei na árvore e fui deslizando nela até chegar na grama, abraçar meus joelhos e engolir o choro, tentando manter a pose do homem que eu deveria ser. 

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