Noah
Não entendi direito de onde veio toda aquela animação do Ian, só sei que ele bloqueou a minha passagem, me impedindo de deitar na cama. Eu já estava de pijama, prestes a tirar as minhas pantufas roxas e adentrar o aconchegante edredom.
— Tenho uma coisa para te falar — disse, dando aquele sorriso radiante que há tempos não consegui ver.
— Mais uma coisa? — gani, já assustado com o que viria, mas pelo sorriso que exibia, não podia ser nada grave — pelo menos eu esperava.
— Sim — Ele segurou a minha mão, e o cobriu-a com a sua que era um pouco maior do que a minha. Eu me sentia uma criança dando a mão para um adulto. Não tinha a menor ideia do que estava prestes a fazer, só sei que meu queixo caiu quando ele se ajoelhou com dificuldade. Quase gritei com ele por fazer aquilo, ele não estava em condições de ajoelhar daquele jeito!
— Ian! — exclamei, assustado com a posição na qual estava, tão assustado que mal prestei atenção nas palavras que saiam de seus lábios.
— Presta atenção — pediu, num tom calmo.
Vinquei a testa, sentindo meus lábios se abrirem de pura perplexidade. Não, ele não ia fazer aquilo, só estava querendo me falar alguma coisa. No entanto, não me lembrava de nenhuma conversa que exigia estar de joelhos, a não ser aquela.
— Noah e milhares de outros nomes que nunca vou decorar — ele coçou a cabeça com a mão livre, me fazendo rir de seu desconforto. Podia sentir meus olhos brilharem quando me dei conta de que ele ia mesmo fazer aquilo.
— Lavezzo Aurelius... — tentei ajudar, mas fui interrompido bruscamente.
— Fique quieto e não estrague meu discurso.
— Não me manda ficar quieto — grunhi, quase puxando a minha mão de volta. Ele não tinha o direito de falar assim comigo.
— Você não facilita mesmo, não é? Era para ser memorável, estou quase desistindo! — confessou, arrancando um som estranho e gutural do fundo da minha garganta. Eu não ia aguentar aquela palhaçada calado.
— Então desiste! Não queria casar com você mesmo — soltei, mais por raiva do que por qualquer outra coisa. Só quando Ian se levantou bufando de raiva foi que me dei conta da besteira que falei. — Espera!
Ele parou no batente da porta e se virou, de má vontade.
— O que é?
— Onde você pensa que vai?
— Vou para um dos quartos de hospedes, dormir lá, bem longe dessa sua ignorância.
Selei meus lábios apertando-os numa linha fina para não acabar piorando tudo.
— Você vai dormir comigo, deixa de ser fresco.
— Fresco? Eu estava prestes a te pedir em casamento e você não consegue me deixar fazer isso sem interromper.
— Desculpa — pedi, tentando soar o mais arrependido possível. Não queria que ficasse com raiva de mim. — Tenta de novo, prometo que vou me comportar.
— De que vai adiantar? Você disse que não quer casar comigo — Ian abaixou o olhar, desolado. Droga, ele e a sua capacidade de partir meu coração com aquela carinha de cachorro abandonado.
Fui até ele, passando os braços ao redor da sua cintura e ficando na ponta dos pés para morder seu pescoço.
— Por favor — implorei, com um beijo ali mesmo.
Ian suspirou, um suspiro pesado que me fez ter certeza de que o havia convencido. Beijou a minha testa antes de assentir, ainda apreensivo.
Dessa vez eu o ajudei a ajoelhar e ele agradeceu, sorrindo para mim.
— Não era eu quem deveria te pedir em casamento? — questionei, soltando-o na posição correta, com medo de que ele se desequilibrasse e caísse.
— Por que isso? Não faz diferença quem pedir, meu príncipe.
— Sei disso, mas é que eu sou o príncipe e ele quem deve pedir a mão da princesa em casamento.
— Mas eu não sou uma princesa, então isso não se aplica a nós.
Bufei, aceitando a explicação antes que ele perdesse a paciência comigo de novo.
— Noah, meu príncipe — disse, pegando a minha mão esquerda. — Quando eu te vi pela primeira vez confesso que te achei engraçado e ao mesmo tempo, fiquei me perguntando como alguém poderia ser tão desagradável assim.
Antes que eu pudesse retrucar aquele show de ofensas, Ian continuou, fazendo com que eu fechasse a minha boca antes que eu sequer pudesse abri-la.
— Eu estava tentando me convencer de que aquilo tudo não passava de uma máscara, que você não era aquela pessoa horrível que mostrava para o mundo e caso fosse, teria uma razão muito boa para isso. Demorei um pouco para descobrir que toda aquela mágoa que você carregava e todo aquele rancor e ódio que você tinha das pessoas era pelo fato de nenhuma delas ter te dado amor.
Quando ouvi aquilo, meu coração automaticamente apertou. Então ele sabia, sempre soube da falta de afeto que eu recebia das pessoas. Tudo bem que eu já tinha contado meio indiretamente para ele, mas ainda assim me admirava ele ter lembrado.
— E eu queria muito dar isso a você e acabei dando de certa forma, sabendo que você nunca me daria o mesmo, isso porque nunca poderia me conhecer e me amar por inteiro. Seria sempre um amor partido e eu sabia que caso você descobrisse as minhas outras facetas que impediam esse amor pleno, eu o perderia para sempre.
Ian engoliu em seco, estava tão imerso em pensamentos que teve que sacudir a cabeça para voltar a si e continuar.
— Tive sorte por não ter sido assim, por você ter voltado para mim mesmo depois das coisas horríveis que falei.
Um frio percorreu pela minha espinha assim que as suas palavras cortantes daquele dia ecoaram em minha cabeça.
— Isso é tão surreal que nem sei direito o que falar — confessou, coçando a cabeça novamente enquanto eu ria, já com os olhos marejados. — Eu só quero dizer que eu amo muito você e que tenho orgulho de ver aquele menino desengonçado e rude se tornar o homem maravilhoso que está na minha frente. Nada me faria mais feliz do que me casar com ele. Então... — Ele pigarreou e piscou, deixando escapar algumas lágrimas intrometidas. — Noah, meu príncipe, você me concederia a inacreditável honra de se casar comigo?
Com a garganta aos trapos e sem ser capaz de formular as palavras presas nela, apenas assenti com a cabeça, ganhando um sorriso de tirar o fôlego do Ian, que se levantou com pressa e me abraçou, quase me tirando do chão.
Logo depois tirou uma caixinha de madeira do bolso, que continha um anel pesado dourado, tão dourado que parecia que eu estava vendo o sol de perto pela primeira vez.
Com as mãos tremendo de ansiedade, colocou-o em meu dedo, arrancando lágrimas de mim no ato. Depois daquilo, nós dois não conseguimos parar de chorar, chegava a ser ridículo.
Deitamos na cama, incapazes de desgrudarmos um do outro e deixei-o pousar a cabeça em meu ombro, enquanto eu fazia cafuné em seus pequenos caracóis até o sono vir.
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Feche a porta quando sair ✅
RomancePLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Noah Chevalier tinha um plano: iria se casar, ter uma filha e assumiria o posto de rei da Ilha das Flores como sempre sonh...