Capítulo 47 - Talvez você possa nos ajudar

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   Noah

— Karen! — uma voz rouca exclamou, interrompendo a história triste que a mãe do Ian relatava.

Como se tivesse acordado de um sonho — ou um pesadelo —, ela se levantou dando batidinhas no avental puído que vestia e foi até ao local de onde a voz pareceu ter saído.

— Já vou, Rob querido — murmurou, enquanto ia até lá com seus passos miúdos. Karen era uma mulher miúda, se não fosse pelos tamancos bregas que usava, eu a acharia ainda menor que era.

Nathan me lançou um olhar preocupado enquanto se remexia na poltrona, incomodado. Pelo visto ele não queria estar ali tanto quanto eu, aquela casa estava começando a me sufocar, ainda mais depois da história que ouvi. Não me admirava que Ian estivesse revoltado com a família dele, o pouco que conheci já demonstrava o quanto era horrível.

Quer dizer, não que eu concordasse com uma menina na verdade ser um menino, até porque não importava o quanto eu estudasse e procurasse entender, jamais daria certo, jamais sentiria metade do que Ian deve ter sentido a sua vida inteira e era justamente por isso que eu queria falar com ele, queria que ele me ensinasse a entender, pois sozinho eu jamais conseguiria desenvolver qualquer tipo de empatia ou compreensão com aquilo.

— Quem está aí? — A mesma voz falou, quase sussurrando, parecia que o dono da voz não tinha forças para falar, como se perdesse o fôlego a cada palavra que soltava.

— É o príncipe — Karen respondeu, não pude vê-la porque ela desapareceu no longo corredor. — Está aqui para falar sobre Jasmim.

— Jasmim... — grunhiu. Sim, ele realmente grunhiu, era um homem que falava e apostei que fosse o pai do Ian pela proximidade e intimidade de ambos. Ele tinha cuspido aquele nome, como se o desprezasse totalmente.

— Vou chamá-lo — Karen alertou e logo escutei um chamado baixo para que eu adentrasse o corredor e fosse até eles. — Ele pode saber de alguma coisa — pressionou, antes que eu pudesse me endireitar e dar o próximo passo. Pelo visto o cara não me queria por perto, mas nem liguei, já estava acostumado a ser rejeitado pelas pessoas ao meu redor.

Nathan me seguiu como uma sombra, parecia uma pedra no meu sapato ao qual eu não tinha coragem de me livrar e passamos pela porta entreaberta revelando um homem definhando debaixo de vários lençóis brancos com a pele pálida da mesma forma.

Ao invés de ter os cachos de Ian ou algo assim, ele possuía uma cabeça lisa livre de pelos, dando um aspecto quase doentio a ele devido à situação com a qual se encontrava. Havia tubos em suas narinas e a respiração fraca dele era o único som daquele quarto.

Mesmo naquele estado, eu conseguia enxergar Ian ali, o formato do rosto era igualzinho ao dele, embora os olhos fossem cinzentos como os do Ícaro, o que só deixou o parentesco ainda mais evidente. Jasmim Tramontini, Karen Tramontini... Fazia sentido agora eles serem parentes, além do sobrenome, era uma mistura de nuances que chegava a ser fascinante.

— Robson está em tratamento, ele possui leucemia — informou Karen, respondendo a pergunta que não fiz e jamais me atreveria a fazer. — Há tempos que procuramos por doadores de medula óssea, só que como estamos em uma ilha muito pequena, é difícil encontrar doadores. Faz pouco tempo que ele voltou para a casa, embora amanhã mesmo ele tenha que voltar para o hospital.

Não consegui falar nada, apenas fitar a cena com certa incredulidade.

— Sei que Jasmim é compatível com ele e pode até mesmo salvá-lo — continuou, e semicerrei os olhos sem saber direito onde aquela conversa iria chegar. — Não consigo falar com Kevin porque ele simplesmente me ignora, não consigo chegar até Jasmim... Já não sei mais o que fazer — E voltou a chorar, partindo meu coração em mil pedaços.

Feche a porta quando sair ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora