Ian
Olhar para ele depois de tanto tempo sem ser agraciado pelo seu beijo, sem sentir o cheirinho delicioso que vinha da sua pele macia, de tê-lo finalmente junto a mim da forma que eu sempre quis era muito surreal. O mais engraçado disso tudo era que ele não me olhava diferente, não apontava o dedo na minha cara, seus movimentos não hesitavam, ele não hesitava. Não havia julgamento algum vindo dele, nenhuma dúvida de que eu era Ian.
Meu príncipe estava mais alto, o copo mais atlético e bem definido, o tronco mais largo, tanto que a roupa parecia apertada, como se ele tivesse esquecido de comprar um número maior. Ele tinha deixado de ser aquele menino desengonçado e pequeno para se tornar um homem. Como em poucos meses alguém podia mudar tanto?
Seus lábios continuavam perfeitos, porém ainda mais cheios e carnudos e tive que me controlar para não pressioná-los nos seus a todo o momento.
Fiquei feliz por ele não me metralhar com perguntas que eu não queria responder, mas sabia que essa conversa seria inevitável, ainda mais conhecendo o Noah e a curiosidade que ele tinha.
Palavras não descreviam o quanto senti falta de ouvi-lo ronronar como um gatinho em meus braços, enquanto o beijava e o tocava da forma que eu sabia que ele gostava.
Embora Noah não soubesse, ele foi capaz de trazer à vida alguém aparentemente morto por dentro, no instante em que passou pela minha porta com aqueles olhinhos assustados de avelã.Noah
Eu não queria conversar — não agora! —, queria tê-lo para mim, tê-lo de verdade, da forma como nunca tive outra pessoa e era nisso que eu estava pensando quando nossos corpos colaram um no outro e se mantiveram ali assim como nossos lábios, que não se separavam.
Com os dedos ágeis, Ian tirou a minha camisa, se atrapalhando um pouco com a gola, que ficou presa na minha cabeça, o que fez com que a gente risse e ele beijasse meu peito nu enquanto eu tentava tirar e tremi assim que senti a maciez de sua boca pressionando em minha pele, com o coração eufórico no peito.
Logo depois eu tirei a dele, com o rosto em chamas assim como o seu quando começamos a nos encarar. Mordi o lábio, deslizando meus dedos até a calça de moletom que usava e Ian logo tirou a minha mão dali, com receio.
— O que foi? — perguntei, pousando os olhos nas cicatrizes que percorriam todo o seu corpo e aquelas especificas nos mamilos, que remetiam a mastectomia que Ian fez, e pela primeira vez aquilo não me incomodou.
— Eu sou um homem trans — falou, o que me deixou confuso porque eu já sabia daquilo.
— Tá, sei disso, Ian — tentei puxar a sua calça de novo, mas novamente não obtive sucesso.
— Eu não tenho um... — Ian pareceu muito desconfortável, tão desconfortável que não conseguiu terminar de falar.
— Você não tem o que? — perguntei, inocente até pensar melhor no que ele estava tentando me dizer.
Olhei para o meu membro e enrijeci, logo depois pousei meus olhos no membro de Ian, que no caso era inexistente, dava para ver que não tinha nada ali e tive que me afastar para ter certeza daquilo.
— Ah — arfei, me sentindo muito idiota. Ele nasceu com corpo de menina, é claro que ele não tinha pênis! Se bem que existiam cirurgias para implantação de pênis, mas decidi não questioná-lo a respeito.
— Eu podia ter feito uma cirurgia — falou, parecendo aliviado por eu ter entendido sem ele precisar explicar. — Mas os resultados não iriam me agradar muito e eu não via necessidade porque eu não precisava daquilo, me sinto bem assim.
Quando não falei nada, ele se viu na obrigação de continuar:
— Eu vou entender se você não quiser fazer nada, sério, não vou ficar magoado.
Ele dizia isso, mas a sua cara dizia o contrário. Quantas pessoas o tinham o rejeitado por isso? Sinceramente ele ter vagina ou não, não fazia diferença para mim, até porque eu me senti muito desconfortável tocando no pênis de outro cara, descobrir aquilo foi um alívio para mim.
— Não, eu quero — insisti, tocando seu braço nu. — Que parte do: eu quero você não deu para entender?
Ian começou a rir, soltando o ar aliviado, parecia já estar preparado para ser rejeitado por mim.
Ele continuou não me deixando tirar a calça dele, o que me irritou um pouco até eu propor algo para acabar com aquilo:
— Vamos fazer assim: eu tiro as calças primeiro aí você vai poder rir de mim o quanto quiser enquanto fico vermelho e morrendo de vergonha, e depois você tira e prometo fazer o possível para que você não se sinta constrangido em momento nenhum.
Ian assentiu, dando um rápido beijo em meu queixo enquanto eu me levantava da cama e o puxava comigo.
Resolvi não olhar para ele enquanto tirava, não queria me sentir ainda mais envergonhado, porém não pude evitar fazer isso quando a minha primeira peça de roupa caiu no chão revelando a minha cueca vermelha, cujo volume era bem evidente por conta da ereção.
Fechei os olhos assim que puxei a cueca, meu rosto já estava em brasas e mordi o lábio a fim de tentar me livrar daquele desconforto.
Pisquei assim que fiquei totalmente nu e dei de cara com um Ian sorrindo para mim, tão vermelho quanto eu e com uma espécie de adoração no rosto e tesão ao mesmo tempo. Ele veio até mim como se meu corpo o chamasse e logo o censurei, fazendo um sinal com a mão para que não se aproximasse e apontei para as suas calças, exigindo que fizesse o mesmo.
Ian parou no lugar e respirou fundo, tirando a calça de moletom cinza com as mãos tremendo. Logo depois se abraçou, fitando a sua cueca box branca com os olhos tomados por agonia.
— Ei, não fique assim — pedi, querendo me aproximar, mas temendo de que isso o deixasse ainda mais desconfortável. — Não tenha vergonha de mim.
Ao pousar o olhar em mim, ele sorriu e com os olhos fechados ele tirou, tão rápido que mal pude acompanhar.
Olhou para baixo, como se estivesse com medo de ver a minha reação.
Não sabia por que estava assim, tinha um corpo muito bonito, diferente de tudo que eu já tinha visto. Possuía as curvas certas, nos lugares certos, era um corpo de um homem, um homem com vagina, que era um detalhe quase insignificante diante do corpo invejável que ele tinha.
Eu poderia ter jogado-o na cama e feito as maiores loucuras possíveis, mas não fiz. Apenas caminhei lentamente até ele e o envolvi em meus braços, porque era disso que ele precisava, era disso que sempre precisou: um abraço franco e verdadeiro de alguém que não só o amava, como também o aceitava do jeitinho que ele era e sempre foi.***
Quando finalmente deitamos na cama, após ele aceitar o meu abraço e me aninhar em seu peito de forma aconchegante, tateei a cama a procura da sacola que acabei deixando jogada por aí. Puxei a alça do mesmo assim que ouvi o barulho irritante da sacola plástica.
— O que você tá procurando? — perguntou Ian, quando notou que eu estava me remexendo como uma lombriga em cima dele.
— A minha...sacola — Meu rosto ficou vermelho e a escondi atrás de mim para que ele não pudesse ver o que tinha dentro.
— O que tem aí? — quis saber, fingindo me dar um abraço apenas para contornar a minha cintura e pegar a sacola antes que eu notasse, o puxão foi tão rápido que fiquei sem reação.
— Ei! — protestei, tentando pegar de volta e não conseguindo, Ian sabia esconder as coisas melhor do que eu.
— Vai mesmo usar tudo isso? — Ian pareceu segurar uma risada enquanto tirava várias embalagens grudadas de camisinhas. — E eu achando você inocente, como sou idiota! — exclamou, fingindo estar magoado, me deixando ainda mais constrangido.
Quando ele voltou a mexer na sacola foi que novamente tentei pegá-la de volta, mas Ian foi mais rápido, tirando um tubo lá de dentro.
— Me dá isso, Ian! — pedi, com o nervosismo transparecendo no tom de voz, aquilo era muito constrangedor!
Nem sequer me ouviu, estava lendo a embalagem e foi quando começou a rir, me entregando o tubo enquanto gargalhava sem pudor.
— Lubrificante? Sério isso? — disse entre risos, estava chorando de rir e só pude me contrair de vergonha pura.
— Bem, e-e-eu achei que fossemos precisar — defendi-me, ainda encolhido. — Pelo jeito não vamos, eu acho.
— Não sei, se você quiser a gente pode usar, gosto de brincadeiras — afirmou, com um sorriso bem malicioso, digno de um cafajeste.
— Nada disso, eu não sinto prazer ali e você não tem um pênis, então terá que ser em você.
— Eu não só tenho um pênis, como tenho três dentro no meu guarda roupa. A vantagem é que eu posso usá-los quando quiser, inclusive em certas brincadeiras — Seu sorriso de alargou, meu rosto estava quase entrando em combustão espontânea. — Não gosto de desperdiçar as coisas, sabe — continuou, se referindo ao tubo que balançava em minhas mãos.
— Cadê aquela sua insegurança, Ian? Está muito saidinho pro meu gosto!
— Você me deixou bem à vontade quando me abraçou, gosto disso porque sei que posso ser quem sou quando eu estiver com você, sem ter que usar máscaras ou falar algumas mentiras. Além disso, eu tenho medo de que eu não consiga te satisfazer, entende? Você esperava por uma coisa e eu queria lhe dar essa coisa, queria que fosse perfeito, que o prazer fosse mútuo e que o fato do meu corpo ser diferente não influenciasse nisso.
— Ah para com isso, você é maravilhoso, Ian — Me inclinei sobre ele, eu estava praticamente montado nele, ambos nus conversando com o meu membro descaradamente ereto em sua barriga, sinceramente eu não sabia como ele não estava rindo. — Não sinta vergonha do seu corpo, nunca.
Eu não sabia de onde vinha tudo aquilo, sendo que eu era bastante inseguro comigo mesmo — embora por fora eu jamais demonstrasse isso —, porém com aquela frase saindo de mim — tão verdadeira que mal parecia minha —, foi o que bastou para que eu repensasse os meus conceitos, como eu me via e como eu via as outras pessoas. Como iríamos amar outras pessoas se não conseguíamos amar a nós mesmos? Eu sabia que esse era o meu empecilho: a minha falta de amor próprio, e não queria que Ian cometesse o mesmo erro, se machucasse, se odiasse. Todo mundo era maravilhoso a sua maneira e deixar se ofuscar não valia a pena, eu sabia bem disso.
— Você que é maravilhoso — disse sorrindo, ao me puxar para mais perto. — Eu sabia que por trás de toda aquela arrogância havia alguém que valia a pena, alguém que merecia ser amado e me sinto mais do que honrado em poder dar isso a você, meu príncipe.
Passei os braços ao redor de seu pescoço, enterrando meus dedos em seu cabelo, sentindo a maciez de seus cachinhos negros de anjo.
Fechei os olhos assim que nossos beijos começaram, enquanto as palavras dele ecoavam repetidamente em minha cabeça e eu apenas sorria, me deliciando com aquilo, sentindo-o se tornar ainda mais meu conforme eu explorava seu corpo com cuidado, sussurrando as coisas certas em seu ouvido, afagando seu rosto quando necessário e observando-o extasiado, sentindo prazer comigo, vendo cada reação que o seu corpo tinha aos meus toques e gravando cada um deles na minha cabeça.
Foi naquele momento que descobri como era ser verdadeiramente amado, e adorei cada segundo.
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Feche a porta quando sair ✅
RomancePLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Noah Chevalier tinha um plano: iria se casar, ter uma filha e assumiria o posto de rei da Ilha das Flores como sempre sonh...