Capítulo 17 - Vontades

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Alex

Algo inquietante, diferente, mas tão familiar é o que sinto nesse momento. Há um cheiro inconfundível, do qual eu senti falta durante quatro anos, há um calor que aquece cada parte do meu corpo e, principalmente, cada minúsculo pedaço do meu coração, há uma respiração lenta próxima ao meu ouvido. Algo que costumava sentir toda manhã ao acordar, algo que fora embora há muito tempo.

Talvez eu tenha morrido e ido para o céu. Essa era a possibilidade mais provável.

- Tio? – Uma voz diferente da que eu estava acostumado me obriga a abrir meus olhos e voltar para a realidade.

O que eu não sabia era que a realidade, agora, estava bem próxima dos meu sonhos e delírios de quase todos os dias.

- Louise?! – Digo com a voz rouca.

- Eu tô com fome, tio – Ela quase chora sentada ao meu lado na cama – Eu quero gagau, mas a mamãe não quer acordar. – Aponta para Nataly que dormia profundamente do outro lado da cama.

Nataly havia dormido ali. – Sorrio bobo – Pode parecer besteira, mas a sensação que eu sentia no momento era inexplicável. Era como se o tempo não houvesse passado, como se tivéssemos voltado para aquele momento em que tudo estava bem e que ela se tornaria minha mulher para todo o sempre. A diferença entre o que eu sentia naquela época e o que eu sinto agora, é apenas um pouco mais de amor adicionado a receita. E esse pedacinho de gente sentada me encarando com seus grandes olhos azuis era o motivo.

- Tioo? – Ela me chamou mais uma vez e por uma fração de segundos meu sorriso sumiu. Gostaria que ela me chamasse de pai..., mas não depende de mim. Pelo menos não somente de mim.

- Tudo bem! Vamos descer! – Sentei-me na cama com um pouco de dificuldade e lembrei-me de que meu pé não estava nas melhores condições para ficar andando por aí. – Lou!? – Chamei-a – Você terá que me ajudar aqui, tudo bem? Vou precisar de ajuda para chegar lá embaixo sem machucar o meu pé. – Ela balança a cabeça positivamente, sorri e desce da cama com toda uma técnica única. Eu rio e ela vem até a mim e me dando sua pequena mãozinha para me ajudar a levantar. Sorrio e aceito, andando até a porta, que ela abre para mim.

Arrasto-me pelos corredores e escada, com todo cuidado para não pisar com força no chão, até chegar na cozinha.

Ajudo Louise se sentar no banco alto do balcão e me dirijo a geladeira. Pego tudo que é necessário para fazer seu mingau – Que por acaso, não é nada apetitoso – e me dirijo ao fogão.

- Então Louise – Chamo sua atenção – O que aconteceu ontem à noite depois que eu saí?

Louise sorri e começa a contar sua história, que de pequena não tinha absolutamente nada. Ela narra sobre sua picada, e sobre a dor imensa que sentiu depois que eu saí. Diz que dormiu e sonhou com borboletas. – O que eu não fazia ideia da ligação com o resto da história, mas ela é uma criança. Cronologia não faz parte da vida ainda. – Contou que acordou e embarcou numa missão com sua mãe até a floresta, no escuro, onde tinha muitos animais perigosos, para me resgatar. Que andaram muito até me encontrarem dormindo debaixo de uma árvore. Havia sangue e um bichinho estranho e peludo tentando roubar uma planta mágica, pela qual ela foi responsável durante a volta até a casa. Ela havia sido muito corajosa e depois que tomou o chá da planta mágica dormiu feito um anjinho e sarou.

Eu ri de quase tudo que ela me contara. Ela estava empolgada e adorava gesticular. A história dela só fez sentido para mim, quando ela terminou e eu pude juntar todos os pontos.

A verdade era que eu havia me assustado com um movimento atrás de uma moita qualquer e tropecei cortando meu pé. A partir daí eu só lembro de flashes. Eu congelado de frio enquanto me arrastava pela mata até um lugar mais quentinho; Nataly tentando me levantar; alguns trechos da caminhada até a casa; um pano quente e úmido passando pelo meu corpo; os olhos de Nataly que percorria por todo o meu corpo e voltava até os meus; sua mão macia em meu abdômen. – Isso esquentava meu corpo no momento. Como eu gostaria de estar mais acordado naquele momento para poder ter a sensação completa – Lembrava-me também de um gosto ruim, acho que de algum remédio, e depois apenas do cheiro inebriante que ela tinha e que era como um calmante para o meu corpo e me fez dormir e sonhar como um bebê.

S.W.A. 2 - Os Segredos Da Minha VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora