Sári - sá·ri (neoáricosadi);
substantivo masculino;
[Vestuário] Peça única de tecido que envolve todo o corpo e que é o traje típico das mulheres indianas. (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa) .
"Seis da manhã. Não fosse pela brisa entrando através da porta que dava acesso à sacada, aquela noite teria sido insuportável! Agora percebi a rua vazia e isso me inspirou uma vontade irresistível de dar um passeio. Banhei-me rapidamente e vesti uma renda branca, colocando o sári novo por cima, aquele mesmo que eu havia ganhado um mês atrás em um passeio em Portsmouth (o lugar mais próximo e barato) e que prometi só experimentar quando chegasse aqui. Obviamente quanto menos turista eu parecer, melhor, embora isso seja impossível devido aos meus traços óbvios de "garotinha mimada inglesa". Que seja, gosto do bendito sári. Desci aqueles poucos e sujos degraus. Acredito que minha presença só fora notada pelo gato gordo e amarelo de bigodes enormes, ronronando, escondido num buraco escavado no meio da parede. Era bonito, e eu o apreciaria muito mais se gostasse de gatos. Enquanto descia, ao invés de amarrar, deixei meu cabelo solto. Eu gosto muito dele assim, mas não sei se com esse calor seria uma boa ideia. Não estou acostumada, sou de um lugar chamado Linusbridge, o número setenta, na cinzenta Rua do Odre de Prata, um dos lugares mais preguiçosamente bucólicos da terra da rainha e foi exatamente o que escrevi ontem à noite num envelope, que agora lembrei, ficou sobre a escrivaninha ao lado da cama. Confesso que foi por uma estranha saudade de casa, mas nada que beirasse o arrependimento de estar ali. Ali não era a Inglaterra. Eu estava na Índia, numa cidade pequena e misteriosa, para mim, conhecida pelo nome de "Mã". Ainda não sabia o significado do nome, mas isso pouco importava agora. Algo me fazia apenas querer sair.
Caminhei pela rua vazia. Tudo o que notava eram sempre pequenas casas coloridas dos dois lados. Já percebia os primeiros raios de sol que iluminavam as copas das arvores, arqueadas sobre a estreita pista de terra sempre vermelha, enquanto o vento soprava em minhas costas. O ar e o chão estavam úmidos, o que era estranho, pois não me recordava que houvesse chovido... Foi um longo tempo de caminhada, e apenas me deixei seguir o vento. Olhava um lado e outro, e a mesma paisagem se apresentava a cada nova rua, cada nova ladeira. Eu apenas me afastava, era guiada, ouvindo um inconfundível som de pássaros, cheiro de terra molhada, cheiro de manhã. As pegadas iam moldando o terreno e denunciaram meu rastro intruso, enquanto levitava com pensamentos fúteis e tudo estava claro e vivamente colorido. Foi então que um algo interrompeu aquele tão agradável momento.
Apressei-me, curiosa em saber o que era. Ouvia uma espécie de murmúrio grave e ininterrupto, distinguível do canto de pássaros, algo que atraía e ao mesmo tempo assustava. Não mais que de repente, não parecia mais eu a seguir o tal murmúrio, mas o contrário. Uma grande nuvem de poeira ergueu-se diante de mim, obrigando-me a levar as mãos ao nariz e rosto. Só após alguns instantes pude enxergar, percebendo aquela figura completamente estranha, completamente selvagem: um enorme touro branco que me encarava logo ali adiante, como se prestes a atacar. Seus olhos eram olhos vivos e crepitantes, como que de fogo, olhos assustadores. O que fazer? Eu estava apavorada. Olhei em volta, parecia que eu estava sozinha no mundo. Não consegui me mexer. O enorme animal pareceu firme e prestes a avançar sobre mim, eu sentí isso e me arrepiei completamente. Foi então que no exato momento que iria atacar-me, outra coluna de poeira se ergueu entre nós e da mesma forma que surgiu, aquele animal gigantesco desapareceu!
De volta à pensão, lembrei-me dele, Alef. Eu sabia que meu colega tinha ido passar um tempo em Délhi, que ficava muito próxima de Mã. Por isso resolvi ligar e ir encontra-lo. Na verdade queria sentir-me mais protegida perto de um conhecido. Mas ele é um pouco além disso; engraçado, amável, sempre o achei especial, mas não tenho certeza do que sinto ou do que ele sente agora por mim. Preciso esquecer isso, não tenho clima. Sei que de alguma forma a estranha aparição deixou um sentimento de pavor, mas foi apenas uma visão, não iria contar nada a ele. Com uma sensação estranha, embarquei em uma antiga locomotiva para Délhi.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Sagitário De Samech
FantasyEnquanto monstros antigos são evocados, espectros malignos fogem, bruxas cruéis surgem e magos poderosos tentam se esconder, Anabel está apenas se preparando para o Natal, e suas maiores preocupações são: o que irá comer na ceia, e qual desculpa usa...