- Elias, isso está muito quente! – disse Ana. - Vamos sair daqui!!!
- Eu tentei falar com você, mais cedo. Mas preferiu ficar me criticando e não me dar aqueles pães deliciosos. Agora não tenho tempo para discutir temperaturas. O tempo é muito importante para nós, se ainda não reparou, e existem pelo menos cento e cinquenta outras equipes competindo também!
- Joguem toda a palha que acharem para cima! – gritava Oldie, do outro lado do celeiro. É o que diz no livro!
- Pois o meu livro acabou de sumir no meio dela! – gritou Elias mal humorado. – Eu não gosto disso aqui, me lembra feno. E eu não gosto de feno!
- Elias, deixe de conversa e continue procurando. Como você mesmo falou, existem mais cento e cinquenta equipes iguais a nós, espalhadas por aí! – disse Ana.
- Isso é a pior coisa que eu já fiz na minha vida! É só uma maldita agulha de dez centímetros no meio desse mundo de palha. Vou voltar para casa! Até mais logo!
- Elias, cale-se! – Gritou Anabel, também longe do menino.
- Não vou ficar calado! Minha mãe me ridicularizou, você não me deu mais café da manhã, aquele texugossauro me mordeu, e já estamos aqui há três horas! Eu acho que deveri...
Elias ia continuar a falar, mas percebeu uma algo reluzindo bem em sua frente. Diante de tanta palha, podia ser uma espécie de ilusão. Mas o garoto caminhou até o pequenino objeto e este não desapareceu diante de seus olhos desconfiados.
- Eu achei! Achei!
- Ele achou! Ele achou! – comemoraram Anabel e Oldie.
Elias correu até a agulha, e abaixou para pegá-lo. Mas alguém apagou as luzes.
- Mas o que é...
No instante seguinte, Ana e Elias estavam de volta à frente da casa do garoto. A rua das festas só admitia gincanas até às nove da noite.
- Háááááá! - Gritou Elias enquanto Ana quase chorava, perguntava se haviam sido desclassificados.
- Não, não fomos desclassificados!
- Como você sabe que não fomos desclassificados?!
- Eu já fui desclassificado antes. Se tivéssemos sido desclassificados, suas orelhas e as minhas estariam maiores e mais pontudas e com pêlos, e voltadas para cima, e nossas estariam fanhosas! Isso dura por um ano, então é melhor não sermos desclassificados.
- Então amanhã vamos voltar? Amanhã continuaremos?
- Claro que sim, mas não de onde paramos. Eu achei a agulha. Mas não achei a agulha.
- Finalmente, depois de tudo o que passamos hoje, você conseguiu não pensar no sonho? Não está mais preocupado?! É tão esquisito...
Elias sorriu sarcasticamente.
- Confie em mim. Está tudo bem agora! – disse ele, como se nada tivesse acontecido antes. – Essa é uma das menores preocupações que temos no momento. Confie em mim, seus avós parecem ter novidades para você...
Anabel sorriu também, um riso amarelo, mesmo não entendendo o que o amigo queria dizer. Agora tinha que voltar para casa, antes que ligassem ou viessem buscá-la.
- Certo, então amanhã nós continuamos! – disse ela.
- Se minhas costas deixarem! – disse o garoto.
- Então, até amanhã.
- Espere!
Elias correu para dentro de casa e trouxe duas folhas de caderno, onde havia algumas linhas escritas.
- Isso aqui é o seu sonho em detalhes, escrito por minha tia. Se ainda quiser, mostre a seu avô. Mas é como uma surpresa! Não vou dizer nada.
- Bem, não sei do que está falando. Sua tia foi quem escreveu?
- Sim. Está tudo aí!
- Certo, agora saberei tudo - disse Ana esperançosa. – Agradeça à sua tia por mim, e adeus.
- Adeus não, até logo.
- Adeus!
- ATÉ LOGO!
- Ta bom, até logo.
- Ah, Ana, eu já ia me esquecendo...
Elias colocou a mão no bolso esquerdo, mexeu um pouco e retirou algo pequeno e oval, parecido com uma semente. Bom, Ana imaginou que fosse uma, mas vindo de Elias poderia ser algum portal para viagens.
- Sei que é um pouco tarde, mas feliz Natal!
Anabel tomou aquilo nas mãos, e antes que perguntasse o que era, o menino tratou de explicar solenemente:
- Estava brincando quando disse que não lhe daria um presente. Isto será sua fonte infinita de dinheiro, caso germine em seu jardim.
- Como assim?
- Bem – Elias juntou os dedos das duas mãos, e estufou o peito. – Se, e quando a plantinha germinar, ela dará um fruto que, se você comer, não sentirá fome por um dia inteiro. Mas essa semente escolhe o lugar onde quer germinar. Daí o nome "Priguicília".
- Priguicília? Certo, obrigado – disse Ana, antes de usar pela primeira vez seu pórtico novo. Estava cansada demais para especular nomes ou procurar detalhes sobre aquilo, iria saber mais no dia seguinte. Elias também ficara com as costas doloridas, e tudo o que desejava agora era um banho quente bem demorado, e um pouco de papinha de cenoura. Assim ambos se despediram e Ana se foi.
Entrando em casa, depois do longo dia, Ana encontrou apenas sua tia-avó Leila. A mulher contou-lhe tudo sobre como Mud havia sido descoberto, além de revelar que a jovem Eva estava ali, desde cedo, e que Elias já a havia visto e ficado extremamente eufórico ao conversar durante dois minutos com ela. Ana então entendeu o motivo da tranquilidade do menino, que nem ao menos tocou no assunto Eliot, e sabia que mais cedo ou mais tarde iria encontrar pessoalmente a garota do sonho. Ela já estava dormindo naquele horário, seguindo seu período de recuperação. Enquanto aos outros: Thiar, Alex, Laura, Childa, Liam, e os demais, estavam no hospital à procura de noticias sobre Orejas. Falavam sobre Mud.
- Pois é, foi algo terrível – disse Leila, enquanto Anabel comia algumas uvas, escuras e suculentas. – Eu nunca esperaria algo assim do Mud. Mas não fique triste, esqueça este assunto. Me parece que amanhã seus avós irão visitar Tamara.
- Vão? – os olhos da pequena brilharam.
- Acho que sim. Se você quiser ir, eu digo a eles quando chegarem. Pelo que me parece, ainda vão demorar. Mas que pergunta boba... É claro que você quer ir!
- Sim. Gostaria que a senhora entregasse isso ao vovô...
Ana entregou à Leila as duas folhas que Elias havia lhe dado.
- Huuum, certo querida – disse a mulher, e lhe deu um beijo na testa. - Agora vá escovar os dentes e dormir. O dia não foi longo, foi interminável.
A grande curiosidade de Anabel era realmente conhecer Eva. Antes de ir dormir, ela notou que havia mais alguém no quarto de hóspedes, mas logo a luz do quarto se apagou. Anabel subiu para o quarto esperando que aquela noite de sono passasse logo, e que o dia viesse tão rápido que ela não pudesse perceber. Porém, se tivesse um sonho que misturasse armas, montanhas-russas, profetas consumindo sobremesas, e Judite... Seria muito bem vindo! Mas logo seria manhã... Já era!
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O Sagitário De Samech
FantasyEnquanto monstros antigos são evocados, espectros malignos fogem, bruxas cruéis surgem e magos poderosos tentam se esconder, Anabel está apenas se preparando para o Natal, e suas maiores preocupações são: o que irá comer na ceia, e qual desculpa usa...