4 - Pequena e insolente!

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 - Vejam! A menina mais trabalhadora da casa chegou! Venha para cá! - Gritou uma voz rouca e irritante cuja dona se chamava Judite, que assim como suas comparsas míseroinseparáveis, ainda não havia nem mesmo começado o café, no momento que Anabel entrou no salão de refeições. Como precisavam escolher entre ficar caladas e atormentar Ana, preferiam atormentar Ana. Pelas janelas podia se ver que aquele dia não estava tão bonito quanto o anterior.

- Judite, o que ela estava fazendo no banheiro até agora? Perguntou Beth.

- Ela estava... Como eu vou saber?! Pergunte a ela!

- Ela não costuma demorar tanto assim. Devia estar planejando alguma maldade.

Anabel tentou repetir exatamente a mesma coisa que havia feito durante um longo tempo: ignorar. Para isso fixou seu olhar na mesa, em seus desenhos antigos e apagados feitos com caneta, enquanto soprava a colher cheia de sopa quente.

- Ontem ela se escondeu de todo mundo! Simplesmente sumiu e nos deixou com todo aquele trabalho maldito! Como de costume.

A menina tomava sua sopa, sem nenhuma pressa ou expressão de culpa.

- Eu e Beth lavamos todos os pratos, sozinhas!

- Sim! - respondeu Breta, a sardenta. - Eu vi isso.

- Já acabou? – perguntou Ana, com um olhar de desprezo.

- Hahaha. Você é muito engraçada, muito inteligente mesmo! Uma garota cheia de manias, que rouba doces da despensa! Aposto que deve se achar muito esperta, todo o dia se senta aí sozinha e não fala com ninguém – Mais uma vez Judite deixava que toda a sala ficasse com vestígios da comida que antes estivera em sua boca. Aquele costume era realmente irreversível, mas nunca se sabe o que seria dela mais tarde, quando passasse a usar dentadura.

- É! - grunhiu Beth. – Não fala com ninguém!

- Estou farta de seu jeito ridículo, farta de suas manias infantis, sua toalha ridícula cheia de gatos e flores de criancinha mimada. Farta! Farta! Você é uma... Rábula!

- Não sei o que significa isso. – disse Ana.

- Não importa, é um palavrão!

Judite parecia estar ligada em alguma corrente elétrica de alta voltagem naquela manhã, devido ao nível e à quantidade de insultos que conseguia proferir, e até palavras novas. Mas enquanto insistia em continuar gritando, Ana parou de comer e levantou, seguindo em sua direção. Quanto mais se aproximava, menos Judite falava - menos comida expelia - mais Breta e Beth se assustavam. Anabel parou ao lado da tagarela e foi aí que ela finalmente calou a boca.

- E então Judite, eu quero ver se agora tem coragem de continuar o que você está dizendo.

Não, ela não teve. Judite calou-se, permanecendo estática. Lábios cerrados. Ana continuou:

- Ora, você lava os malditos pratos todos os dias, não é? Essa é sua única tarefa! Tenha certeza de que é a garota mais preguiçosa que eu conheci em toda a minha vida. E sabe como descobri isso? Pelo fato de sempre dizer que faz muito mais coisas do que realmente faz, só para parecer uma coitadinha. Você sempre foi assim, não pode mudar, e não consegue imaginar como seria viver sem que as outras ficassem com pena. Sua sanguessuga!

Breta riu baixinho, e sem querer. Judite percebeu e a repreendeu com o olhar, mas Anabel continuou gritando mais alto ainda:

- Sanguessuga! Sanguessuga! Sanguessuga!

O Sagitário De SamechOnde histórias criam vida. Descubra agora