15 - A estranha garota

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Judite olhou com desdém, na direção das duas. Depois resolveu deitar.

- Eu não estou escondendo nada, Anabel.

- Está escondendo sim! - Gritou Judite, sem sair do lugar, deitada.

- Deixe-me ver o que é! – disse Ana.

- Não!

- Era só o que faltava, a garota novata é uma ladra – disse Judite. Ela levantou e foi em direção a Miriam, que tentava esconder-se mais ainda agora.

- Deixe ver o que é! - Disse Judite, já bem próxima da menina assustada. – Eu vou morder sua cara!

- Não, afaste-se.

Judite tentou pegar o objeto e as duas ficaram se empurrando. Anabel ia se aproximar quando o tal objeto caiu no chão. Aquilo era familiar. Muito familiar. Era a mesma placa negra que servia de transporte para os moradores de Eivar, e que jamais os deixava perderem compromissos. Claro, só podia ser um pórtico.

- Que tipo de coisa esquisita é essa? – estranhou Judite com uma das sobrancelhas inclinada.

- Suas intrometidas! Tentei fingir ao máximo, mas a insolência de vocês é tão grande, que eu já estou até com raiva!

A garota puxou algo do bolso, era uma espécie de pó rosado e brilhante, lembrava muito areia prateada, só que era bastante fino, o que o fez espalhar-se no ar. Ela acabou jogando em Anabel, que desviou e não fora atingida diretamente. Quando virou para jogar em Judite, esta já havia se precipitado sobre ela.

- Vamos sua idiota! – gritou Judite para Ana. - Não está vendo que essa menina é maluca? Vai deixa-la ficar jogando areia colorida em nós?

As duas estavam sobre Miriam, em cima da cama de Anabel: imobilizaram seu tronco e pernas. Ela tinha muita força e as duas meninas não iriam aguentar por muito tempo. Entre gritos, rosnados, e tentativas de mordidas, e um cheiro que Ana sentiu na briga com Judite, minutos antes e que só agora conseguiu identificar: era pomada para queimaduras. Judite, aquele cheiro vinha de seu rosto, sim, das bochechas! Uma nova confusão chamou a atenção do resto da casa. Julia e todas as outras invadiram o quarto.

- Saiam de cima de mim! – gritava Miriam. - Suas fedelhas miseráveis! Deixem-me por a mão em vocês, eu vou me vingar!

Claudia, Breta, e uma baixinha chamada Marta desceram correndo até o porão para pegar cordas, uma ideia de Judite. Anabel se mantinha firme, junto às outras, mas estava admirada. Aquela era uma garota normal, como todas ali! Miriam não era uma pulga falante ou um dos sacis que Elias havia mencionado. Ela não sabia o porquê de uma pirralha que nunca a havia visto estar querendo lhe jogar pós coloridos, e ainda ter um pórtico!

- O que você quer? – perguntou Ana já gritando. – Eu não gosto de carnaval e odeio purpurina. Você tem algum problema com isso?

- Só direi se todas essas meninas malucas saírem de cima de mim.

- Nada feito! – Rosnou Judite. – Se quiser ser solta, vai ter que abrir a boca! E bem rápido!

- Eu adoraria, se me deixasse respirar!

- Vamos, fale! Sei muito bem que isto é um pórtico, mas o que ele está fazendo com você? – perguntou novamente Ana. Naquele momento, as outras voltaram com a corda, a do varal.

- Ela jogou purpurina em Anabel e tentou jogar em mim também. Agora temos outra psicopata nessa casa! E ela acha que estamos no carnaval!

O Sagitário De SamechOnde histórias criam vida. Descubra agora