- Alex, fale alguma coisa – disse Leila, estranhando o silêncio do cunhado. - Lembre-me que preciso pegar o livro "Psicolaudas", quando chegarmos - Alex falava, e as letras continuavam aparecendo:
"- Alex, meu caro, eu não sou um observador sádico, apenas sigo as linhas de cada um com quem tenho contato, com o poder que a bruxa me ensinou. Cuide para que outros magos loucos não surjam de agora em diante. Ele dizia tentar lutar contra um mal invisível, que tudo o que estava fazendo era em prol disso e ninguém lhe dava ouvidos. Mas acredito que o maior mal era sua ganância por se tornar poderoso de novo. Ele iria fazer com Eivar o mesmo que fez com os monteses? Provavelmente. Obrigado por tudo, e se algum dia Eva perguntar, eu peço que digam que não posso voltar a vê-la, mas se algum dia me perdoar, sentir-me-ei grato. A amei desde a primeira vez que a vi e talvez os resquícios disso tenham tornado meu egoísmo mais brando. Bem, você sabe, nunca poderei tocá-la. Se o fizer, A maldição que ainda está nela finalmente passará para mim, e eu morrerei da pior forma que alguém pode morrer. Minha maldição e meu amor estarão nela para sempre.. Adeus Alex, Adeus Eivar!
PS.: Nunca confie em pulgas."
- A pulga! – Gritou ele.
- Alex? – disseram as irmãs ao mesmo tempo. – O que tem ai? Diga logo!
- Nada! Nada que vá nos ajudar. O que ele redigiu aqui foi apenas a confissão de que é um idiota! – Alex enrolou o pergaminho e atirou-o longe. Mas quando se arrependeu e tentou pegá-lo novamente, objeto não estava mais lá.
- Como assim? – perguntou Laura.
- Lembra-se quando Leila... Digo, o espectro me levou? Pois bem, estávamos em uma pequena abertura paralela, criada no mesmo lugar onde ficava a choupana desse cretino! Por isso você e Orejas não me acharam, apesar de terem me localizado. É muito mais fácil criar uma passagem assim num ambiente interno, como numa casa, ou em um buraco qualquer. Eu já havia desconfiado, pois Mud e eu fazíamos isso sempre quando testávamos os planos de evacuação e proteção!
- Abertura paralela? Que história é essa?
- Ora, pense na mesma forma em que a passagem para o túnel de reenquadro se abre. A diferença é que eles puderam manter-me por mais tempo lá, em um ambiente criado artificialmente.
- Mas como você saiu de lá?
- Quase da mesma forma que entrei. Eles podiam ter me matado, mas não o fizeram.
- Alex, não esconda nada. Você acha pouco o que aconteceu? Como pode imaginar uma coisa dessas?
- Ora, querida, é a verdade. Mas depois eu explicarei tudo. Bem, infelizmente depois do que aconteceu aqui tenho que dizer que o Mud estava certo. Obviamente pelo fato de ele ter parte em tudo. Maldito!
- Você tem muito que me explicar mesmo. Podemos ir agora – disse Laura, não ligando para a cara de contrariado do marido. Mas ele tinha de concordar já que não tinha mais nada que pudesse fazer para encontrar Cedro. Pelo menos não até aquele instante.
- Vamos.
De volta à sua casa, e sentindo os efeitos da energia que enfrentara, sentindo-se um pouco fraco, Alex simplesmente desabou na poltrona. Sentia algo completamente insuportável, como se fosse o ser mais insignificante do planeta. Ouviu a mulher falar durante intermináveis minutos, sobre tudo o que podia ter lhe acontecido caso ele enfrentasse o mago sozinho. Leila foi ver algo na cozinha, e Ana estava ali por perto, mas procurou não falar nada até que Laura parecesse mais calma.
- Eu sei vovô. – disse Anabel.
- Sabe o que? – disse Alex assustado.
- Sei de tudo, ora – disse Anabel, displicentemente.
- Eu, você, Elias, somos ligados pelos sonhos.
- Mas eu nunca lhe disse que havia sonhado com Elias. Mas é claro que ele contou.
- Foi salvá-lo, na floresta dos sacis.
- Bem, no meu sonho, um garoto tentava fugir de um bando de Sacis da toca. Eu me via como um saci espiando por trás de pedras, e sabia que era Elias, não só pela aparência, mas pelo fato de ele ser o único garoto corajoso o bastante para ir lá. Quando ele acabou sonhando também, eu não acreditei que era a minha neta, mas as particularidades que ele citou me fizeram entender que poderia ser alguém em perigo, fora que era uma situação semelhante. Mesmo que ele dissesse ter sonhado com uma garotinha chamada Anabel, existem muitas no mundo, não é? Mas de alguma forma senti que era o momento de encontrá-la. O zae só nos traz proteção, e segundo dizem, só seres puros de coração conseguem tocá-lo. Bom, devem haver exceções, pois não me considero tão puro assim. Agora todo o ciclo desmoronou, pois Cedro, o mago patético, estragou tudo com medo de ser atingido por uma maldição.
- A maldição era para Cedro e não para Eva? Mas e o sonho?
- Pelo que entendi – disse Alex, acariciando uma barba que não mais existia. - E pelo que está redigido sobre seu sonho, Eva seria vítima de um ataque, porém como uma hospedeira. Utilizando sua feitiçaria fajuta, Mud e sua miserável capacidade de atrapalhar coisas, conseguiu visualizar a parte do sonho que correspondeu ao momento em que Eva fora amaldiçoada. Devido à condição na qual que ela se encontra, não temos nenhuma garantia de que possa dar continuidade ao ciclo. Quando isso começa, acontece como um raio caindo sobre nossas cabeças. Ela foi amaldiçoada e ainda foi usada como sacrifício. Pobre garota.
Ana parecia chocada.
- Uma maldição é completamente o oposto dos caminhos, ou seja nós. Ainda que Eva não tenha tido culpa. Quando se luta contra uma bruxa tão terrível, quase nada pode destruí-la. Que nenhum de nós nunca venha a enfrentar algo assim! Suas maldições não têm como serem revertidas, e podem funcionar com hospedeiros, como no caso de Eva, a selecionada. É ela a pessoa que levaria tal maldição para Alef, quer dizer, Cedro, ou melhor ainda, mago Presente idiota e ele iria ter uma morte bem criativa. Mas eu não posso falar sobre isso.
- Fale vovô, fale!
- Só posso dizer que ele deixaria de ser o mago Presente e se tornaria o mago eternamente ausente. Mas isso é uma lástima! Diz a lenda que desde quando o grande Óferes condenou sua cidade ao gelo eterno, dividiu e espalhou sua energia espectral através do ar pelo mundo, espalhou os caminhos ligados por sonhos decifráveis. Ou seja, sabemos que há uma previsão sobre uma situação de perigo, mas o porquê de ser dessa forma é um mistério enorme. O mais difundido é que o ciclo segue uma linha de gratidão e sacrifícios, onde uma vida depende da outra, e reuniria as pessoas certas que pudessem estabelecer esta ligação sincera e de unidade, para trazê-lo de volta. Essa é a teoria Oferina que tanto estudamos por aí. No momento certo, apenas um grupo de escolhidos poderia amadurecer os fragmentos dessa energia. Uma pessoa amaldiçoada não pode transmitir este contato. Supondo que tudo seja real, e que os caminhos ainda existissem, nada garante que o resto deles vivem em Eivar.
- Huum – fez Anabel, pensativa.
- Não posso negar que Eivar está passando por um período em que muitas de suas lendas estão se mostrando um pouco vivas. Vivas até demais. Eu não deveria falar isso, mas começo a achar que Tamara e Pierre tinham alguma informação sobre a proximidade disso. Agora resta saber se eles sabiam sobre você. Se sabiam, talvez tenhamos uma pista do motivo de terem-na afastado daqui. Só pode ser isso!
- É muito nitro essa história. Mas, vovô, espere.
- Sim querida?
- Ora, francamente – ela agora estava aprendendo a falar que nem o avô. - Se nós pensarmos que a maldição era para Cedro, então ele foi salvo. Entendeu? O meu sonho! O meu sonho!
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O Sagitário De Samech
FantasyEnquanto monstros antigos são evocados, espectros malignos fogem, bruxas cruéis surgem e magos poderosos tentam se esconder, Anabel está apenas se preparando para o Natal, e suas maiores preocupações são: o que irá comer na ceia, e qual desculpa usa...