12 - Anabel, a louca

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Mal a criança fechou a boca, aquela estranha placa se iluminou e ambos foram sugados para dentro. Anabel se lembrou do que havia acontecido antes, no primeiro "passeio" junto com o avô. Imaginou que Laura teria que preparar mais uma vez um remédio para surdez momentânea. Para sua surpresa, desta vez, quando ela abriu os olhos já estava em outro lugar.

- O que aconteceu? Que lugar é esse?

- Bom, aqui nós utilizamos meios mais rápidos e seguros para fazer deslocamentos, passeios e algumas viagens. Assim você nunca se atrasa para festas e compromissos. Um deles é o pórtico, esta placa que seguramos - Elias levantou o objeto para que fosse melhor visualizado. - Agora estamos na Catedral de Eivar. Eu sei que aqui aconteceram coisas tenebrosas, sobretudo em épocas de lua-cheia, mas você não vai querer saber.

- Como adivinhou? - disse a menina, sarcástica. - Você é bastante observador.

- Na história daqui já foi um lugar muito importante, só que não é mais usado. Toda esta parte da vila é abandonada. Podemos vir aqui quando quisermos, aliás, com exceção do vale de lama e da ilha Samech, Das três ilhas do lago imundo, do estaleiro... Podemos ir a qualquer lugar.

- E o que tem nesses lugares todos?

- Não faço a mínima ideia. Eu nunca fui.

- Um ótimo guia você é - Disse Ana dando um tapinha nas costas do menino.

- Eu sei, obrigado!

Anabel levantou-se, reparando melhor o lugar onde estava. Era a sacada lateral de uma grande construção antiga. Havia neblina no ar, uma neblina espessa, ocultando o chão. Estavam a uns 35 metros de altura. Dali se podiam ver os vários bancos negros envoltos em seu manto esbranquiçado, além do imenso altar agora coberto por um pano preto. Nas paredes, notavam-se apenas as imensas e indistinguíveis imagens negras, sombras soturnas. Ana podia ouvir o vento ou alguma coisa parecendo emitir uivos, mas não era um barulho vindo de dentro do templo. Dentro tinha algo voando de um lado a outro, indo até os limites do teto cheio de pinturas que agora eram formas borradas, embaralhadas pela escuridão de um imenso espaço vazio e frio.

- Não se preocupe, a coruja é cega. Não vai perceber que nós estamos aqui. Chegamos em silêncio, ela não percebe, a não ser que façamos muito barulho - tranquilizou-a Elias.

O bicho com asas enormes e alvas continuava voando inquieto, de uma ponta a outra da nave, sem parar. Elias disse que ela era cega, mas parecia estar vigiando cada canto, como uma sentinela inquieta. Mas para que ou quem estaria vigiando? Percebia que estava ficando mais frio e cada segundo que passava, aumentava a sensação desconfortável de ver a tal coruja desaparecendo na escuridão e reaparecendo em outro ponto, arrancando pequenos sustos na garota, que não conseguia tirar os olhos daquilo. Algo semelhante aos ataques de sonambulismo de Breta cheira-pano, andando pelo quarto como um corpo sem vida, só que pior. Anabel sussurrou:

- Tudo bem, eu gostei. Não há muito que fazer aqui não é? Parece ser apenas um lugar abandonado e frio. Já podemos ir?

- Não - sussurrou Elias. - Você ainda não viu nada. Não podemos ir embora agora. Quando a procissão vier não vamos ver!

- Procissão? Que procissão?

- Já está na hora! - o menino ficou eufórico e ofegante. Sua voz ainda que em volume baixo, ecoou nas paredes mais próximas. - Em qual outro lugar do mundo você acha que ia poder ver uma procissão de almas penadas assim, de um lugar escondido e privilegiado?

- Eu não quero ver alma penada nenhuma. Isso não é diversão.

- Nós chegamos bem em cima da hora, fale baixo ou eles vão nos ver!

O Sagitário De SamechOnde histórias criam vida. Descubra agora