A muito tempo atrás num telhado muito distante

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 Olha, Jumpers não eram exatamente conhecidos pela sutileza, e eu não era uma exceção a regra. Assim que descobri como usar o teletransporte, eu fiz questão de usar.  Como eu ainda estava meio inseguro de usar meus poderes em público por causa do vírus controlador de mentes e tal, eu ficava zoando no meu quarto e atordoando o Alex e a Diana ora aparecendo do nada e derrubando coisas neles, ora teletransportando eles para o meio do nada. O que? É engraçado.

Descobrir como usar meus poderes? Fácil. Difícil foi fazer a Ruby ficar sozinha.                             Faltando dois dias para os exames, eu já estava totalmente preparado para tirar aquele negócio bizarro da mente da Ruby, mas não ia dar muito certo se ela não se separasse do Adam, e estava pior agora, já que ele tinha se mudado para o quarto dela. Diana, Alex e eu já tínhamos superado a fase '' Adam tem alguma coisa a ver com isso e por isso o odiamos, além de ser um escroto'', mas... ele continuava sendo um escroto.

Eu pensei em um bem-bolado e torcemos para dar certo. Nós três sabíamos que o casal feliz ia passar pelo café na hora do intervalo, afinal eles faziam isso todo dia, e nos preparamos. 

- Então pessoal, -falei - vamos repassar o plano. Di, quando o Adam pedir o dunut recheado de geléia, você vai fazer as suas paradas telecinéticas e derrubar na camisa dele. Se o Adam for pegar papel para se limpar, você vai, Alex. Pode jogar pudim invisível nele, eu deixo - Diana me repreendeu com o olhar, mas dei de ombros - O que foi? Eu meio que estava devendo a ele isso. Continuando, se a Ruby for, eu já a teletransporto enquanto um de vocês distrai meu primo. Algum comentário? Fale agora ou se cale para sempre

 - Alguma vez você já olhou pra algum plano seu e pensou "nossa, como eu sou idiota"? - Alex perguntou

- Seus planos são piores que os meus. -respondi

- Nada a ver. Os meus tem 10% de chance de dar certo, e os seus, em um dia bom, tem 1%

Minha irmã ia retrucar alguma coisa quando eles chegaram. Com o passar dos dias, Ruby estava diferente, nem parecia ela mesma,  mas aquele dia... bom, ela estava sorrindo, estava de mãos dadas com o Adam e pior, estava de vestido florido.  Eu nunca tinha sequer visto a panturrilha dela. Sempre que eu a via, ela estava de calça.

Só para variar um pouco, meu plano  não deu certo.

Assim que meu primo pediu um pão na chama e um café grande ao invés de um dunut  eu sabia que tinha alguma coisa muito errada. Mesmo assim Di fez com que seu café da manha caísse nele, mas ele nem se importou de ter a camisa manchada, só deu risada e ignorou. Alex tentou jogar alguma coisa neles, só que foi justo quando eles se levantaram da mesa para irem embora. Tudo bem, minha vez.

Fui até o pátio esperando pelo momento perfeito. Que momento perfeito? Então crianças, vou contar um segredinho: os Norman tem bexiga pequena. Só uma caminhada de 10 metros já ia fazer o café grande do meu primo descer bem rapidinho.

Ruby estava esperando o namorado grudento do lado de fora do banheiro, era hora. Eu estava chegando perto dela quando pensei a respeito, será que ela estava feliz? Eu nunca tinha visto ela tão radiante como naqueles dias. Uma parte de mim sabia que aquilo não era verdade. Tudo aquilo tinha um toque de artificial, não era normal. Precisei de toda a minha força de vontade para chegar até ela.  

- Ruby, oi!

- Oi, Jace -ela me abraçou. Aquilo realmente não estava certo. Eu já tinha visto ela abraçando as pessoas, e parecia estar rodeada de leprosos.  A Ruby que eu conheci detestava contato físico. E pessoas. E qualquer coisa que envolvesse contato físico e pessoas. 

- Então, você e o Adam...

- Dá para acreditar? Seu primo é tão perfeito. Nunca pensei que um cara como ele fosse gostar de alguém como eu.

-O que? -falei. Ruby era uma garota ótima, ela não merecia ficar apaixonada por um idiota como o meu primo e nem por causa de um parasita maligno -Que falta de confiança é essa? Quem te estragou?

- Na verdade, meu pai

-Foi uma pergunta retórica . Olha, vamos dar uma passeada?

Eu a abracei e pensei que tinha que sair de lá. Eu não ia aguentar essa Ruby-não-Ruby por muito mais tempo.

Eu só ouvi um BAMF e senti Ruby desmaiando ao meu lado. Olhei em volta para ver onde estávamos... Como eu já imaginava, voltamos para o lugar onde tudo começou. O telhado.

Sentei no telhado e apoiei a cabeça de Ruby no meu colo. Ela começou a se mexer uns dois minutos depois.

- O que...? -ela tentou perguntar, mas estava muito fraca.

Di tinha me contado que, quando a Ruby perdesse o controle mental, ela ia se sentir muito mal e que era para dar alguma coisa para ela comer. Peguei um  chocolate Snickers que estava no meu bolso e esperei ela melhorar um pouco.

Ela acordou 15 minutos depois:

- Você tem segundos para explicar por que eu estou deitada no seu colo no telhado ou eu te dou um soco.

- E ela voltou ao normal. - falei, dando o chocolate para ela. - Minha explicação vai depender do quanto você se lembra. 

Ela contou que se lembrava de ter ido tomar sorvete com o Adam e depois viver no piloto automático. Ela se lembrava de tudo, mas não de ter feito. Eu contei a ela tudo o que sabia. Sobre ela, de um dia para o outro, ficar apaixonada pelo meu primo, sobre Di ficar infectada com o vírus depois da minha irmã ter invadido a mente dela, a briga na educação física, sobre a minha descoberta jumper e ter tirado minha irmã da briga.

- Meus deuses, a Diana está bem? Todos estão bem?

- Estão todos bem, relaxa. Por sorte os alunos que estavam lá conseguiram se proteger.

- Eu não acredito nisso tudo. É tão ridículo... Mas não tanto quanto esse vestido. Por que eu estou usando vestido? Eu não uso vestidos.

- É, você tava bem estranha. Você até me abraçou. -ela se encolheu e estremeceu enquanto o sinal do recreio tocava - Temos que ir, a aula já vai começar.

Ela se agarrou em mim e nos teletransportamos para o meu quarto

Jace Norman, o Nihil PropriumOnde histórias criam vida. Descubra agora