Dead woman tell no tales... Espera!

71 6 0
                                    

Enquanto eu estava naquele adorável tubo de ensaio, com a Lexie, Jim e Michel, eu tive bastante tempo para pensar. Assim, mais ou menos, dava para pensar sobre tudo, os guardas não gostavam que a gente falasse e nem nos deram cartas para jogarmos truco, as únicas horas que ligavam as luzes era quando liberavam o gás lacrimogêneo (que não era mais tão ruim) e quando esvaziavam o lixinho de fezes, depois de alguns dias acumulando.

Eu fiquei pensando na Igreja Speciallis. É, isso existe. Eles defendem a teoria de que Deus nos abençoou com poderes e ignoram completamente a outra teoria de adaptações do meio ambiente, que resultariam em mutações genéticas. Enfim, todo domingo meus pais nos arrastavam para a igreja em Nova York, o padre fazia lavagem cerebral em todo mundo e era horrível, principalmente porque barravam a minha entrada na igreja, depois que eu fiz dezesseis, não tinha poderes e fififi fififi. Eles tinham um discurso absurdo de que pessoas com poderes eram mais próximas de Deus, que estavam destinados a salvar o mundo, além do discurso machista que eles adoravam cantar em músicas não-animadas. Completamente imbecil, eu acho, e naturalmente os caras mais velhos não concordavam comigo. Não foi a toa que eu e a Diana desistimos daquela merda toda quando fizemos doze anos. Quer dizer, nossos pais ainda nos arrastavam e não fazíamos nada que mandavam, não recitávamos nada, nem palhaçada nenhuma.

Depois eu fiquei pensando em faculdades. Eu sei, era estúpido, eu não sabia mesmo se eu ia sair de lá vivo, mas eu fiquei imaginando no " e se". Sabia que Harvad e Yale foram criadas por speciallis? Então é mais ou menos esperado que os speciallis sejam aceitos nessas faculdades. A maioria dos alunos tem poderes, eles só permitiram a abertura para os normais um tempinho atrás.

- Ei, gente. - falei baixinho - O que vocês se arrependem de terem feito? Ou de não terem feito, sei lá.

- Ter contado para a minha mãe que eu ia para a Livety - Jim contou, choramingando. Pela voz dele parecia que ele tinha chorado e eu tive uma vontade enorme de abraçar o moleque, se era um inferno para mim, eu não conseguia imaginar como era para ele: Jim era o que mais era "convocado" para as salas e eu duvidava que era só por causa dos experimentos. Eu tinha ouvido ele comentar com a Lexie, um dia, que os homens de máscara... Acho melhor não falar.

- Não foi sua culpa, você sabe, né? - eu disse - Sua mãe... Ela te ama, de uma certa maneira. Ela fez o que acho que ia ser melhor para você, mesmo que definitivamente não seja.

Credo, se alguém tivesse dito isso para mim, eu teria pulado no pescoço dessa pessoa, mas ele não podia se consumir, não naquele momento. Eu não queria que ele se destruísse. Ele teria muito tempo para odiar a mãe.

- Pode parecer bobo, mas... - Lexie começou - Eu acabei nunca saindo do armário para os meus tios - ela começou a rir - Eles achavam que o B é de Biscoito e eu nunca tive a chance de mudar a opinião deles. E eu também nunca falei com a menina da minha aula de latim...

- Numa boa? - falei - Eu não me arrependo de nada. Quando a gente sair daqui...

Eu tinha dito a palavra. Quando, e não se. Parecia confiante demais, falso demais.

- Me arrependo de ter vindo para esse país. - Michel contou, com o sotaque francês pesado.

- Ei, Michel, você nunca explicou como chegou aqui - comentei - Conta para a gente.

- Eu era relações públicas de uma empresa francesa que queria vir para os Estados Unidos, especificamente Nebraska e eu não sabia que tinha o KKK dos speciallis aqui então eu usei meus poderes. Eu fui dormir e depois eu acordei com quinze soldados invadindo o meu hotel e depois, aqui estou eu.

- Comovente. - Adam falou. Ele tinha surgido do nada. - Se já terminaram com a sessão melodramática, eu gostaria de levar o Griffin para... Bem, não interessa.

Jace Norman, o Nihil PropriumOnde histórias criam vida. Descubra agora