Kansas entra na minha lista negra PRA VALER

77 9 0
                                    

Eu tive um sonho estranho naquela noite. Jim estava sentado naqueles banquinhos de parque que tem mesa de xadrez, que velhinhos jogam, sabe? Eu sentei no outro banquinho, mas o menino já estava jogando sozinho, então eu só assisti. Em certo ponto, ele derrubou o rei preto com a rainha branca, olhou para mim e disse:

- Vocês pretendem chegar logo? Isso é muito chato.

- É você, mesmo? - perguntei e ele assentiu - Você está bem, Jim?

- Estou, mas não por muito tempo. Daqui a pouco eles vão chegar com outra agulha e eu vou ter que acordar, então você se incomodaria de parar de flertar com a minha irmã e vir me resgatar?

Eu acho que não respondi nada, mas Jim ficou irritado e jogou o tabuleiro de xadrez em mim. Aí eu acordei

Era um pouco mais tarde do que o esperado, mas ninguém tinha pensado em acordar cedo, nós duvidávamos que o motel Só Love tivesse café da manhã. Já que fui o primeiro a levantar, fui chamar os outros. Alex ficou realmente irritado e me chamou de coisas não tão apropriadas, mas levantou mesmo assim.

Dava para sentir a tensão no ar do tipo " agora saberemos quem morreu", e eu vou contar uma coisa que você talvez não saiba: não era uma vibe muito legal. De todos nós, eu era o mais aflito com toda a situação e minha irmã percebeu isso.

- O que houve, Jace? - olhei para os lados, para ver se Alex ou os Winchester estavam olhando. Virei para Di e dei uma batidinha na têmpora.

"Você vai parar com o drama e me contar o que houve ou não?"

"Primeiro, eu não sou dramático. Segundo, eu tive um sonho com o Jim" respondi

" Me diz que nesse sonho eu não morro, ou coisa parecida"

" Não, ainda não." E contei o sonho para ela

"Jace, você tem que contar para eles sobre o sonho. Eles vão ficar mais tranquilos que o irmão deles está vivo!" Ela me encarou. " Essa conexão psiquica de vocês é tão estranha."

"Você é estranha. Nós temos que descobrir onde ele está, vamos até a casa dos pais deles e depois eu conto o sonho. Não vai mudar nada se eu contar agora" Eu estava surtando, ok? Na minha cabeça era o mais lógico a se fazer.

"Saiba que eu não concordo com isso"

Bom, nós andamos até o ponto de ônibus mais próximo, dividimos o preço das passagens e embarcamos. Ninguém achou estranho um bando de crianças, pedindo passagens de ônibus, para outro estado, no meio da semana, minimamente estranho, mas o slogan era "fazer a América grande, de novo", você está indo muito bem nisso, cara.

No ônibus, ninguém trocou uma palavra. Em algum momento começou uma chuvinha fina e chata, que só chegou para deixar um ar mais deprimente. Tudo ótimo, até que eu lembrei que eu me enjoava em carro, quase vomitei umas cinquenta vezes nas quatro horas de viagem. Três horas a menos que da última vez, iupi! Desculpe o mau humor, mas toda a combinação de não tomar café da manhã e garoa me encheu o saco.

Assim que chegamos, eu tive o maior mau pressentimento da minha vida, acho que os outros também.

"Lar, doce lar", Mike sinalizou.

"Vocês querem que a gente espere aqui fora?" Diana perguntou

- Não precisa, vocês já fazem parte da família. - Ruby respondeu e bateu na porta

Quem atendeu foi a Mamãe Noel, digo, Sra. Winchester e ela definitivamente não ficou feliz em nos ver. Pelo menos a falta simpatia tinha ido embora.

- O que vieram fazer aqui?

- Onde está o Jim? - Ruby perguntou

- Eu não devo satisfação a você, muito menos ao seu grupinho de anormais.
- ela respondeu - Vão para o inferno.

- Já viu o tamanho dos insetos daqui? Já estamos no inferno! - Alex reclamou

- Certo, senhora, olha aqui - me meti - Você vai nos dizer o que fez com o seu filho, de boa ou má vontade. Escolha.

Ela não escolheu "boa vontade". Nós executamos o plano B, Mike fez um mini redemoinho, com a mãe no centro, tirando o oxigênio o suficiente para deixá-la inconsciente. Depois, Diana fez exatamente o que não queria, mexeu no cérebro da mãe Winchester e nos resumiu a história:

- O Jim acordou no meio da noite gritando, fazendo premonições sem sentido. Ela foi até o quarto, gritou que não aguentava mais aquilo, de viver com aberrações... - Di não fazia contato visual com ninguém, parecia estar num transe enquanto falava - Ela pegou um cartão velho na carteira, um tal de COE e ligou para o número.

Nossa, legal! COE significa Controle de Ocorrências Extraordinárias, o que é uma fachada para os Eraseres. Eu não queria falar nada e nem precisava, todos estavam pensando a mesma coisa: se Jim estava vivo, realmente não era por muito tempo. Ruby e Mike não se mexiam e Diana continuou, ainda no transe:

- Os soldados do COE chegaram, quando ainda era noite. Deram alguma coisa para o Jim, ele apagou e os soldados o levaram. Apagaram os registros escolares, certidões, passaportes, como se ele nunca tivesse existido. - assim que Di terminou de falar, ela caiu no chão com os olhos fechados. Nós já sabíamos que isso iria acontecer, então colocamos umas almofadas por perto.

Ruby e Mike pareceram quer partir para cima da mãe, mas Alex e eu impedimos. Mike saiu correndo para algum lugar que eu não cheguei a ver, mas Alex foi atrás, Ruby foi para a varanda. Eu segui ela.

Parte de mim estava com medo de chegar perto dela e ela começar a gritar comigo.

- Ei. - falei, mas ela não olhou para mim, continuou fitando o gramado. Se tinha uma coisa que Ruby odiava mais do que... Bom, qualquer coisa, era que a vissem chorando. Tomei coragem - Ruby, eu tenho uma coisa para te contar.

E então contei o sonho. Assim que terminei, um vendaval passou pelo jardim. Ruby respirou fundo e o vento parou, ela enxugou o rosto e disse:

- E você não pensou em contar isso antes, por que?

- Eu sei que você provavelmente me odeia, mas de que ia adiantar eu contar para você antes?

- Eu poderia não ficar pensando em como seria o enterro do meu próprio irmão! - ela gritou

- Você está emotiva. - tentei acalma-lá, mas percebi como soou estúpido

- É? Não brinca!

- Nós precisávamos saber onde ele estava, essa foi a razão pela qual viemos aqui. - falei - O sonho só confirmou que ele está vivo. O que é ótimo, por sinal...

Ruby fechou os olhos, coçou a cabeça e respirou fundo de novo.

- É. Você pode ter razão. Vem, vamos entrar.

***

Depois de uns minutos, Di já tinha acordado e nós cinco estamos sentados na sala de estar, decidindo o que fazer com a Sra.Winchester, que estava trancada no próprio quarto.

- Deve ter alguma coisa que possamos fazer. - Alex começou - Talvez contar para a Livety ou para o setor da ONU que cuida dos speciallis o que aconteceu, eles podem tomar partido e... O que vocês querem fazer?

- Eu sei que você está certa, Di, mas... - Ruby falou - vocês entregariam o pai de vocês?

- Eu trocaria o meu pai por um Tic Tac, mas não é essa a questão - respondi. - Nós não sabemos o que eles iriam fazer com os seus pais, fora que nenhum maluco iria invadir a sede dos Erasers e resgatar o Jim.

"Você tem um ponto, mas se esqueceu de uma coisa." Mike fez uma pausa dramática, e deu certo " Nós cinco somos malucos o suficiente para invadir a sede"

Jace Norman, o Nihil PropriumOnde histórias criam vida. Descubra agora