Não seja um cretino sem coração como seu amigo Jace

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- Tudo bem. Agora vamos para o refeitório que eu estou morrendo de fome

- Tranquilo. - quando já estávamos na porta, Alex perguntou - Ei, alguma notícia do seu primo?

Suspirei. Ainda tinha esse negócio todo de conspiração que estava me deixando maluco. Do jeito que as coisas eram, se alguém me dissesse que o Alex era um duplo agente do FBI e do Governo da Rússia, que também era um bailarino profissional na Times Square, eu diria "ah, ok" e sairia andando. Do jeito que eu estou explicando, parece ser a coisa mais ordinária possível, mas era como se eu estivesse jogando Banco Imobiliário com a vida, só que de repente, alguém bagunçou todo o tabuleiro e eu tive que comprar todas as ruas de novo. Você se lembra do que teve, mesmo que você não gostasse, você não ia vender as propriedades, e agora tem que começar desde o começo. Você pode criar um monopólio ou decretar falência, e isso seria extremamente desagradável.

- Está tudo bem com você, cara? - ele perguntou - Você está com cara de quem vai vomitar.

- Não é nada.

Alex parou de andar e ficou me encarando. Ele me conhecia melhor que isso, e ele tinha um jeito único de arrancar as informações das pessoas. No caso, ele ficava invisível e sem falar comigo até eu decidir contar, e isso podia durar semanas. Ele podia ficar me encarando, também. Era outra forma de tortura, odeio quando ficam me encarando: eu fico desconfortável.

- Eu te conto depois, eu juro.

- Acho bom - ele respondeu e voltou a andar.

O refeitório estava abarrotado. Sério, aquele lugar parecia prestes a explodir. Quando chegamos, tinham acabado de servir a comida. Eu e Alex pegamos as bandejas, nos servimos de tacos e guacamole e sentamos na mesma mesa que Di, Ruby e Mike.

- Eu fui na direção para preencher o formulário para o Jim. - Di contou - Falaram que até amanhã a tarde, ele chega aqui.

- Obrigada por tudo, Di. De verdade - Ruby agradeceu e Diana sorriu em resposta. Vi Mike segurando a mão dela, debaixo da mesa, mas deixei quieto. Não era da minha conta, mesmo.

- Certo, muito empolgante tudo isso, desse tal de Jim, mas - Alex falou - vocês se importam de me contar o que aconteceu no Kansas?

Eu contei as histórias, do meu sonho, da descoberta de que nem eu, nem Diana éramos realmente Normans, do sonho do Jim (tive que explicar quem era ele), dos poderes dele. Foi engraçado ver a cara de desespero do Firethorne, que arregalava mais os olhos e escancarava a boca a cada detalhe que eu acrescentava, enquanto os outros comiam pozole e tortilhas tranquilamente.

- Com todo respeito: qual a fixação de vocês com parentes psicopatas e sociopatas, deuses? - ele perguntou e nós rimos. Sinceramente, melhor rir do que chorar.

- Alunos, um momento de atenção, por favor! - o refeitório inteiro se virou para o palanque que ficava na ponta extrema do lugar. A diretora Hills estava lá, com uma menina e um menino de pele cor de oliva. - Agora que todos já retornaram do feriado, gostaria de dar alguns recados. Primeiro, Srta. Tames, a professora que lecionava Estudo da Evolução I e II, está de licença a maternidade e o professor Vinícius Morley a substituirá, a partir de amanhã. Segundo, as notas das provas vocês realizaram serão entregues em seus receptivos dormitórios. Inclusive, os testes indicaram que alguns alunos deveriam trocar de aulas, então esses alunos receberão novos horários, junto com as notas. Terceiro, o clube de debates participará do torneio nacional das escolas speciallis. E agora, Ahmed e Huda Al-Mubarak darão o último recado.

A menina, Huda, ajeitou o hijab azul e se aproximou do microfone:

- A direção da escola nos autorizou a iniciar um grupo de duelos. Serão dois estilos de duelos. Com poderes e sem.

- Serão duelos amigáveis com a intenção de treinar os poderes e a disciplina. - o menino completou - Nós ensinaremos Kurash*, como um das lutas sem poderes, e outros alunos ensinaram outras artes. Quem estiver interessado a primeira aula será amanhã, às cinco, aqui no salão.

- Vamos passar a lista e quem quiser participar, assina. Tem algumas coluna, das lutas normais e das speciallis.

Quando a lista chegou na minha mesa, Mike foi o primeiro a assinar. Eu não fiquei muito surpreso, o cara me lembrava um pouco o Demolidor. Diana murmurou um "por que não?", Alex disse que já estava satisfeito sabendo um pouco de karatê que aprendeu vendo Karatê Kid, Ruby encarou a folha por um tempo, deu de ombros e passou a folha para mim.

No dia que eu cheguei na Livety, minha maior preocupação era não deixar que descobrissem que eu era um Nihil Proprium. No final, eu não era ninguém para eles, então não importava ter poderes ou não, não existia uma segregação, as conversas não eram diferentes, tudo continuava igual. De vez em quando, as pessoas achavam estranho que eu não usasse os poderes para zoar, mas era porque não existia necessidade. Minha família era pior que os valentões do ensino médio. Só que agora eu não tinha maiss um fator que me impedisse de participar dos duelos speciallis. Peguei a folha e quando eu ia assinar, Ruby me interrompeu:

- Norman, você acha mesmo que é uma boa ideia? Com esse negócio de ser caçado e todo o resto?

- É, talvez não seja uma boa ideia - Diana concordou - Talvez seja hora de você ficar na sua, Jace.

- Essa preocupação de vocês é tocante, realmente. - respondi - Mas, aqui na escola ninguém vai me caçar e me matar, nem nada assim. Além disso, vocês tiveram anos para entender e usar os poderes, eu tive menos de um mês, então se a maior preocupação de vocês é eu desaparecer porque alguém quis acabar com os jumpers, eu preciso aprender a me defender.

Quando Diana ia retrucar alguma coisa, Mike colocou a mão no ombro dela e depois de um segundo, tirou para contar: " depois da minha desavença com o banshee, meu pai me colocou numa academia justamente para eu saber me defender. Vocês viram que o pessoal do Kansas não é exatamente acolhedor"

- Estou com o Jace. - Alex comentou. Ruby o fulminou com o olhar e ele se encolheu. O cara morria de medo dela - Sabe, para o caso de alguma coisa acontecer.

- Olha, os Erasers e todos os outros que possivelmente querem me matar, devem estar ocupados demais caçando outras espécies em extinção - falei

Ruby pegou a bandeja e saiu da mesa sem dizer uma palavra.

- Eu fiz alguma coisa de errado? - perguntei. Eu nunca vou entender as meninas. Clichê total, mas elas são estranhas, duvido que elas próprias se entendam. - Eu devo comprar chocolates e revistinhas da DC ou alguma coisa assim?

Diana também ficou irritada, deu um beijo na bochecha de Mike e saiu da mesa com um burrito na mão.

- Ótimo, agora é o dobro de chocolate. - me virei para Mike - O que eu fiz e como conserto?

"Ela contou da nossa avó, certo? Que foi caçada? Ela se sente culpada e não quer se sentir responsabilizada pelo o que pode acontecer com você. Pode não parecer, Jace, mas ela se importa com você. Você tem que ir falar com ela, é o jeito".

Agora você deve estar pensando: UAU! Isso foi burrice e extremamente indelicado! Eu sei. Obrigada, tenho meus momentos.

- Que dor de cabeça. - falei

- É o seu cérebro tentando processar tanta burrice.

- Obrigado pelo apoio, Firethorne.

- Ei, eu não sou o desalmado aqui, seu insensível da porra.

- Alguma ideia de onde eu posso encontrar ela? - perguntei e Mike respondeu que provavelmente no telhado. Joguei o resto de comida no lixo peguei a escada até lá.

Kurash*: refere-se especificamente a vários estilos de praticados na Ásia Central. Lutadores usam toalhas para segurar seus adversários, e seu objetivo é jogar seus adversários fora dos pés

Jace Norman, o Nihil PropriumOnde histórias criam vida. Descubra agora