Em retrospectiva, eu diria que a minha experiência em um vilarejo foi bem educativa. Olha, em Ainsworth, ninguém nunca pegava doença nenhuma, se era resfriado ou pneumonia, alguns remedinhos caseiros ou um curandeiro mais fraco servia, mas quando pegava alguma coisa séria as pessoas saíam de ambulância e tudo. Todo mundo parava só para ver o que o pobre coitado tinha, afinal ninguém tinha coisa melhor para fazer E essa era a ideia para nós sairmos em grande estilo.
No dia seguinte da visita dos raios de sol, eu não levei o Jim para a aula. Nós passamos o dia inteiro em casa de janela fechada. Fizemos a mesma coisa por mais dois dias. No terceiro dia, uma ambulância apareceu na nossa porta, as 8 da manhã, um menino e uma menina vestidos de médico, entraram na casa e colocaram Jim e eu em macas e nos levaram para a ambulância. Saímos de Ainsworth, de sirenes e luzes ligadas, com o vilarejo inteiro só tentando adivinhar o que tinha acontecido com os dois pobres garotos Firethorne.
- Ei, garoto. - chamei Jim, que estava do meu lado, olhando para o teto - Nós vamos para casa.
- Nós vamos para casa... - ele repetiu e deu um suspiro, virou na maca, e começou a dormir.
Não demorou muito para chegarmos, mas eu praticamente não aguentava de ansiedade. Em pouco tempo, eu estaria de volta no campus, com Alex, Diana, Ruby e Mike, e cara, eu mal podia esperar por isso. João e Maria (os raios de sol que nos resgataram) nos prometeram que a Livety estava segura e que a Diretora Hills já tinha tomado partido e estava do nosso lado. Agora os dormitórios eram para os rebeldes e os foragidos, bom para nós que nos encaixavamos nas duas.
- Chegamos. É só descer. - João avisou. Eu tinha me distraído olhando o teto e não tinha percebido que já tínhamos passado pelos portões da Livety. - Eles estão lá em cima, no seu quarto.
Eu não queria saber como João sabia em quem eu estava pensando, ou como sabia onde estavam, mas eu não liguei. Saí correndo, levando Jim pela mão.
Cara, como era bom estar de volta. Eu tinha sentido tanta falta daquele lugar, das pessoas, do ar puro. Nem liguei quando as pessoas apontaram para mim no campus e também mal reparei nos rostos novos. Eu só queria encontrar os meus amigos e fingir que nada nunca aconteceu.
Lá vamos nós. Bati na porta do meu quarto. Alex abriu a porta, com Mike, Diana e Ruby sentados nas camas, e só aí eu percebi que estava prendendo a respiração.
- Finalmente. - ele disse - Achei que você tinha morrido no caminho, ou alguma coisa - revirei os olhos - Não haja como se nunca tivesse acontecido nada parecido.
Essa era a minha recepção? Eu bufei e cruzei os braços
- Vai se ferrar, você sentiu saudades minhas e sabe disso. - reclamei. Não consegui deixar de sorrir. Eu estava certo, ele tinha sentido saudades.
- Não fique presunçoso, foi uma coisa momentânea. A vida ficou muito pouco atrapalhada sem você, não teve graça.
Até então, Jim não tinha corrido para os irmãos. Não sei se foi porque ele não os tinha visto, ou se simplesmente estava com vergonha, mas depois dos três Winchester terem se reunido, eu fiquei um pouco impressionado com a velocidade do mais novo de se juntar com eles.
- Certo, me atualizem. - pedi. E por cinco minutos, pareceu que nós estávamos no começo do ano, quando nossa preocupação era o aumento do preço da máquina de lanches. - O que mais me impressiona é que sua avó está ajudando a Diretora Hills com a Rebelião e que o Alex continua em um relacionamento. Eu admito que de todos nós, eu sempre imaginei você como o Barney, de How I Met Your Mother, Firethorne. O Sebastian continua te aguentando?
- Você não vai querer ouvir o que eu estou pensando, Norman. - Alex bufou.
- Não vai mesmo. - assegurou Diana.
- Ok, vocês todos me odeiam, eu sou imprestável, uma decepção, blá-blá-blá. Já superamos essa parte. - falei - Ahn, Ruby posso falar com você rapidinho?
Nós fomos para corredor. A última vez que só Ruby e eu ficamos naquele corredor, ela me disse que eu tinha poderes. Agora era questão de rezar e esperar nenhuma novidade daquele gênero, ou eu ia começar a pensar que aquele corredor era mau agouro, ou coisa assim. Ela ficou em uma parede, do lado da porta e eu fiquei na outra, ela estava sorrindo um pouco. Quando eu vi, o nariz dela estava quase encostando no meu, seus braços estavam no meu pescoço e ela na ponta dos pés para me alcançar
- Sabe, senti saudades. - falei. Era a mais pura verdade, mas mesmo assim não sabia porque eu tinha falado aquilo. As nossas bochechas coraram, mais ou menos ao mesmo tempo.
- Jura? - ela falava quase sussurrando. Deuses, aquilo era... Era bom.
- Relaxa. Não foi uma coisa triste, ou apaixonada. - brinquei - Senti masculinamente sua falta. Sou bem durão.
- Eu percebi. - ela ficou mais próxima ainda - Posso?
- Não precisa pedir.
- Consentimento vem dos dois lados. - e nós nos beijamos. Cada vez era melhor, sem brincadeira. Era como se... Espera, sabe Firework, da Kate Perry? Claro que você sabe, ela é maravilhosa, o ponto é: o sentimento do beijo era quase que a música. Eu me sentia no 4 de julho. Não sei quanto tempo nós passamos ali, não tenho nem ideia, e sinceramente eu não me incomodaria se nunca acabasse. Eventualmente, Ruby colocou a mão no meu peito e nos afastou.
- Eu estive pensando... Depois que tudo isso acabar, eu... - como eu podia falar? Eu nunca imaginei que eu chegaria naquele ponto. - Depois que tudo isso acabar, eu posso colocar a mão no seu bolso de trás?
- Gatinhas e Gatões?
- Err, mais ou menos. Quer namorar comigo?
É. Eu consegui. Pelo menos eu não desmaiei ou coisa assim, se não teria sido bem pior. Agora eu tinha que esperar a reação. Se bobear, essa era a pior parte. Não é masculinidade frágil ou alguma palhaçada assim, mas eu não tenho certeza se eu ia conseguir continuar olhando para Ruby.
- Eu quero, Jace. Eu quero. - eu nunca tinha visto ela sorrir assim, com todos os dentes e provavelmente eu estava igual. Eu só conseguia pensar Que mulher incrível. Cacete, eu sou sortudo pra cacete. Quando ela me beijou eu ainda estava sorrindo.
Eu teria pulado ou caído duro no chão, mas eu estava feliz demais para fazer qualquer coisa. Ruby entrou de volta no quarto, eu tinha certeza de que os outros já sabiam o que tinha acontecido, sinceramente eu não me importava. Eu estava feliz demais. Eu disse que tinha que dar uma volta, passear pela escola, matar as saudades. Sociedade dos Poetas Mortos me ensinou a aproveitar o dia, então vamos lá.
Eu estava andando pela clareira quando cruzei com o Sebastian. Engraçado, ele era o namorado do meu melhor amigo e eu ainda tinha um pouco de trauma do meu primeiro dia de aula. Eu decidi mudar isso, puxar uma conversa agradável, conhecer o que o Alex tinha visto nele. Dar uma chance, pelo menos.
- Ei, Sebastian! - gritei, porque ele tinha andado até a quadra, só que ele não parecia ter escutado. Eu gritei de novo. Ainda nada.
Estranho, pensei. Decidi seguir o Sebastian até onde quer que ele estava indo. Eu já tinha experiência demais para saber que tinha alguma coisa de errado.
Ele chegou na quadra e eu fiquei assistindo, mas ele só ficou lá. Parado. Encarando o nada, por uns cinco minutos. Fui até ele é coloquei a minha mão no seu ombro, ele deu um pulo com o susto.
- Tudo bem, cara? - perguntei
- Tudo certo. - ele respondeu. Ele parecia meio perdido, como se estivesse dormindo e tivesse acabado de acordar. Eu não dei muita atenção, uma das maiores características dos speciallis é o sonambulismo. Minha Tia Edna, por exemplo, cozinhava dormindo e o meu avô Bernardo tocava piano.
- Você estava dormindo? - perguntei
- Aham. Sonambulismo, você sabe.
- Sei, sim. Escuta, eu fiquei sabendo de você e o Alex. Parabéns por vocês dois. - eu estava ficando um pouco desconfortável com aquilo tudo, mas eu sou educado.
- Obrigado, eu acho. Eu esqueci de perguntar, a perna do Mike melhorou?
- O que?
- Ela estava com estilhaços, do telhado. Lembra? Estava bem feia.
Eu lembrava. Como ele lembrava disso, se não estava lá?
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Jace Norman, o Nihil Proprium
Aventure[EM REVISÃO] Jace Norman é, na verdade, um garoto normal. O que não é normal na vida dele é todo o resto. Sua família pertence a Casa Norman, uma família cheia de pessoas super poderosas que controla e manipula metal. Agora que ele tem 16 anos, é ob...