We are not in Kansas anymore (e obrigado por isso)

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Eu sempre fui bem enrolado para arrumar a mala, o que é incrível considerando que eu simplesmente jogo as minhas roupas, mas juro que não aguentava mais aquela casa. Eu passei menos de 48 horas lá e já queria me matar.

Os Winchester eram uma versão alternativa dos Norman. Meu pai era do mal, a mãe deles era do mal; meu pai brigava com a falta de poderes (isso é o que eu chamo de carma), a mãe deles brigava pela presença deles. Eu posso ter esquecido de comentar, mas durante todo o tempo que eu demorei jogando as minhas roupas na mala, Ruby estava brigando com a mãe no térreo. Eu até tentei evitar de ouvir a gritaria, mas as duas eram muito talentosas na arte de falar alto.

Mike apareceu no quarto avisando que a van já havia chegado e quando estava quase indo embora, sinalizou que eu deveria ir rápido porque "as paredes estavam tremendo". Eu só precisava colocar a minha camiseta na mala e me mandar de lá. Passei no quarto do Jim para me despedir, só que ele estava dormindo, o moleque teve um dia difícil e depois procurei o Sr. e a Sra. Winchester para agradecer a hospitalidade (porque eu fui muito bem educado pela minha mamãe), mas só encontrei a mãe deles na cozinha e ela estava chorando e com uma faca na mão. Isso me pareceu levemente aterrorizante (quem sabe a Mamãe Noel não tem uma vontade insaciável de matar meninos bem educados), então só gritei um "obrigado" e sai da casa com a minha mala nas costas.

O velocista estava colocando as malas o carro usando uma velocidade bem... incomum. Por sorte não tinha ninguém na rua. Diana chegou perto dele e sinalizou "você sabe que não pode fazer isso aqui ".

Isso é uma grande discussão dos speciallis, sabia? Existe uma lei que proíbe o uso de poderes perto de pessoas normais, sem ser um acidente ou uma emergência. Tem muita gente que acha uma doutrina e uma traição a natureza termos que nos esconder. Uma solução para isso foram as vilas speciallis e as escolas como a Livety, que tem no mundo inteiro. Existe até um subsetor da ONU! O problema é quando alguém que não acredita nessa filosofia decide fazer uma demonstração.

- Se for para sair daqui rápido, tá valendo - Ruby respondeu. Ela estava sentada na calçada e o braço esquerdo dela estava muito vermelho, era um vergão na forma de uma mão. Ela percebeu o meu olhar e deu de ombros- Era para ter ido na minha cara, mas eu desviei. Podia ter sido pior. 

"Você arranja reflexos depois de anos praticando" Mike comentou e deu um sorriso amarelo.

Eu e Diana assentimos, era o nosso lema. Deuses, que clichê: nós eramos o clube dos cinco! Pulamos no carro, ninguém mais aguentava aquele lugar. Acho que ouvi um suspiro coletivo de alivio quando vimos a plaquinha de "você está saindo de Lawrence, Kansas. Obrigado pela visita". Na metade da viagem, eu pedi para paramos em um posto para comprar um chocolate  e para... você sabe, soltar um barro. Eu admito que isso foi nojento. Ruby decidiu que ia comigo.

- Sua família é bem... - comentei, enquanto esperávamos na fila do caixa

- É, eu sei.  - ela deu uma risada seca - Desculpa por aquilo tudo. Eu pensei que as coisas iam melhorar depois que eu e o Mike saímos, mas pro Jim só piorou.

- Não é como se a minha fosse muito melhor, sabe? A de verdade tá morta e a outra é igual a sua.

- E como está lidando com isso?

- Como um bom católico - respondi

- Tão mal? - nós rimos e eu notei que o braço dela estava mais vermelho que antes, a marca da mão estava quase que pulsando.

- Você está bem? - apontei - Quer falar sobre isso? 

- Era a mesma coisa com o seu pai, né?

-Como assim?

- Sabe, nós somos parecidos. Aposto que você defendia a Di, quando o seu pai queria fazer isso nela. Ela provavelmente te defendia, também.  - assenti com a cabeça. Não é como se fizesse diferença, mas eu achava que se eu irritasse ele o suficiente, ele não iria nas minhas irmãs, acaba que nós três levávamos uma surra. Diminuiu um pouco com elas quando a Di e a Regina descobriram os poderes - O Jim é muito novo pra aguentar isso, mas eu e o Mike, não. Então, não. Eu não quero falar sobre isso, porque você já sabe como é. 

- Tudo bem. - ela relaxou os ombros - A Diana deve ligar para a diretoria daqui a pouco, e amanhã a tarde o Jim já vai estar no campus

- É. Nem dá para acreditar. 

- Próximo! - o atendente chamou. Passamos os chocolates e voltamos para a van.

***

Quando chegamos na Livety, estava quase na hora do jantar. Um aluno do terceiro ano abriu os portões. Era visível que estava desanimado, e recitou como se já tivesse feito isso mil vezes no mesmo dia: 

- Bem-vindos de volta, alunos. Espero que tenham se divertido no feriado. Por favor, se dirijam o mais rápido possível para os seus dormitórios. O jantar será servido mais cedo do que o normal, então será daqui a pouco.

Seguimos o nosso caminho, Di e Ruby foram para o dormitório feminino, eu e Mike fomos para o nosso. O dormitório dos primeiranistas estava como sempre, uma bagunça. Entenda, por alguma razão que eu não entendo, a maioria dos caras gosta de fazer tipo um chicote com a toalha e ficar batendo nos outros, só que na maioria das vezes, eles saem do banheiro e ficam passeando pelo corredor nus. Não é a minha definição de elegante, mas quem sou eu para julgar?

Bati na porta do meu quarto, porque eu tinha perdido o meu cartão e sabia que o Alex já tinha chegado e se isolado lá dentro

-Quem é? - a voz esganiçada dele soou pela porta

-Pateta - respondi

- Pateta quem? 

- Você, otário. Abre aporta - gritei, socando de leve o batente para ele se apressar. O corredor é um lugar perigoso e hostil.

- Vai se foder - ele gritou de volta, já abrindo.

- E ai? - cumprimentei, jogando a minha mala na cama e meu corpo junto - Como foi lá em Connecticut com a sua tia avó?

- No final, ela foi  para  minha casa, em Seattle.

-  Seattle é tipo Londres só que nos Estados Unidos, só chove naquela merda. - brinquei. Tudo o que eu sabia sobre Seattle vinha de Grey's  Anatomy. Ele grunhiu um pouco. Não sabia que ele era nacionalista, credo.

- Enfim, foi bom ir para casa, sabe? Eu tinha assuntos para acertar - ele falou, com um tom meio malicioso. Eu levantei uma sobrancelha para motiva-lo a contar.  - No começo do ano, eu namorava um cara chamado Lance, mas ele me traiu com um outro, chamado Keith, e eles ainda estavam namorando. Até ontem.

- Espera, você é gay?

-Sim, eu sou gay.

- Tudo bem, é sempre bom estar informado. - certo, acho que você percebeu que eu lido com as situações do pior jeito possível, geralmente deixando tudo muito desconfortável fazendo uma piada. É o meu jeito e eu sempre me arrependo, no momento em que sai da minha boca. Por isso eu não pensei direito quando eu tentei brincar. Se eu pudesse voltar no tempo e me dar um soco na cara, eu daria - Mas só para recapitular um pouco, você é gay e não gosta de mim?

- Não, não. Eu não sei como isso aconteceu, mas parece que eu tenho essa coisa, chamada bom gosto, o que não faz com que você seja atraente para mim. Além disso, eu precisava de um melhor amigo hétero, adoro uma novela mexicana. E a sua vida... - ele apontou para mim. Eu me senti em Como Treinar o Seu Dragão.

- Poxa, cara. Eu estava brincando, desculpa, Alex. Não precisa me esculachar.

- Bem, eu não estava. -  pelo menos, agora ele parecia menos irritado. Me zoar sempre melhora o humor das pessoas. - O seu gosto por roupas é péssimo, parece que você ainda não superou a sua fase Teen Wolf e, inclusive, qual a sua fixação por camisetas xadrez? Credo, moleque. E outra, você realmente não sabia? Não é como seu eu guardasse isso a sete chaves, eu até tinha comentado das reuniões do grupo LGBTQ+ da Livety, eu até tinha convidado vocês. Espera, - ele franziu a testa como se não acreditasse. Não era como se eu não tivesse escutado ele falando sobre aquilo, eu simplesmente não tinha ligado os pontos. Eu era um péssimo amigo. - você não me viu na Festa da Ressaca?

- Você pediu para eu não te atrapalhar. Na real, você não pediu, você me ameaçou. É diferente e mais assustador.

- Tanto faz. Quer ouvir o resto da história, ou não? - fiz que sim - Ótimo. Bom, nessa volta para casa eu posso ter ficado com o Keith, bem na frente do Lance. Um cara muito sábio disse para mim "é sempre uma boa hora para estragar um relacionamento".

- Quem disse isso?

- Bom Dia Leo. E o seu feriado? Muito pacato no Kansas?

- Só um pouquinho.

Jace Norman, o Nihil PropriumOnde histórias criam vida. Descubra agora