Eu sempre fui bem enrolado para arrumar a mala, o que é incrível considerando que eu simplesmente jogo as minhas roupas, mas juro que não aguentava mais aquela casa. Eu passei menos de 48 horas lá e já queria me matar.
Os Winchester eram uma versão alternativa dos Norman. Meu pai era do mal, a mãe deles era do mal; meu pai brigava com a falta de poderes (isso é o que eu chamo de carma), a mãe deles brigava pela presença deles. Eu posso ter esquecido de comentar, mas durante todo o tempo que eu demorei jogando as minhas roupas na mala, Ruby estava brigando com a mãe no térreo. Eu até tentei evitar de ouvir a gritaria, mas as duas eram muito talentosas na arte de falar alto.
Mike apareceu no quarto avisando que a van já havia chegado e quando estava quase indo embora, sinalizou que eu deveria ir rápido porque "as paredes estavam tremendo". Eu só precisava colocar a minha camiseta na mala e me mandar de lá. Passei no quarto do Jim para me despedir, só que ele estava dormindo, o moleque teve um dia difícil e depois procurei o Sr. e a Sra. Winchester para agradecer a hospitalidade (porque eu fui muito bem educado pela minha mamãe), mas só encontrei a mãe deles na cozinha e ela estava chorando e com uma faca na mão. Isso me pareceu levemente aterrorizante (quem sabe a Mamãe Noel não tem uma vontade insaciável de matar meninos bem educados), então só gritei um "obrigado" e sai da casa com a minha mala nas costas.
O velocista estava colocando as malas o carro usando uma velocidade bem... incomum. Por sorte não tinha ninguém na rua. Diana chegou perto dele e sinalizou "você sabe que não pode fazer isso aqui ".
Isso é uma grande discussão dos speciallis, sabia? Existe uma lei que proíbe o uso de poderes perto de pessoas normais, sem ser um acidente ou uma emergência. Tem muita gente que acha uma doutrina e uma traição a natureza termos que nos esconder. Uma solução para isso foram as vilas speciallis e as escolas como a Livety, que tem no mundo inteiro. Existe até um subsetor da ONU! O problema é quando alguém que não acredita nessa filosofia decide fazer uma demonstração.
- Se for para sair daqui rápido, tá valendo - Ruby respondeu. Ela estava sentada na calçada e o braço esquerdo dela estava muito vermelho, era um vergão na forma de uma mão. Ela percebeu o meu olhar e deu de ombros- Era para ter ido na minha cara, mas eu desviei. Podia ter sido pior.
"Você arranja reflexos depois de anos praticando" Mike comentou e deu um sorriso amarelo.
Eu e Diana assentimos, era o nosso lema. Deuses, que clichê: nós eramos o clube dos cinco! Pulamos no carro, ninguém mais aguentava aquele lugar. Acho que ouvi um suspiro coletivo de alivio quando vimos a plaquinha de "você está saindo de Lawrence, Kansas. Obrigado pela visita". Na metade da viagem, eu pedi para paramos em um posto para comprar um chocolate e para... você sabe, soltar um barro. Eu admito que isso foi nojento. Ruby decidiu que ia comigo.
- Sua família é bem... - comentei, enquanto esperávamos na fila do caixa
- É, eu sei. - ela deu uma risada seca - Desculpa por aquilo tudo. Eu pensei que as coisas iam melhorar depois que eu e o Mike saímos, mas pro Jim só piorou.
- Não é como se a minha fosse muito melhor, sabe? A de verdade tá morta e a outra é igual a sua.
- E como está lidando com isso?
- Como um bom católico - respondi
- Tão mal? - nós rimos e eu notei que o braço dela estava mais vermelho que antes, a marca da mão estava quase que pulsando.
- Você está bem? - apontei - Quer falar sobre isso?
- Era a mesma coisa com o seu pai, né?
-Como assim?
- Sabe, nós somos parecidos. Aposto que você defendia a Di, quando o seu pai queria fazer isso nela. Ela provavelmente te defendia, também. - assenti com a cabeça. Não é como se fizesse diferença, mas eu achava que se eu irritasse ele o suficiente, ele não iria nas minhas irmãs, acaba que nós três levávamos uma surra. Diminuiu um pouco com elas quando a Di e a Regina descobriram os poderes - O Jim é muito novo pra aguentar isso, mas eu e o Mike, não. Então, não. Eu não quero falar sobre isso, porque você já sabe como é.
- Tudo bem. - ela relaxou os ombros - A Diana deve ligar para a diretoria daqui a pouco, e amanhã a tarde o Jim já vai estar no campus.
- É. Nem dá para acreditar.
- Próximo! - o atendente chamou. Passamos os chocolates e voltamos para a van.
***
Quando chegamos na Livety, estava quase na hora do jantar. Um aluno do terceiro ano abriu os portões. Era visível que estava desanimado, e recitou como se já tivesse feito isso mil vezes no mesmo dia:
- Bem-vindos de volta, alunos. Espero que tenham se divertido no feriado. Por favor, se dirijam o mais rápido possível para os seus dormitórios. O jantar será servido mais cedo do que o normal, então será daqui a pouco.
Seguimos o nosso caminho, Di e Ruby foram para o dormitório feminino, eu e Mike fomos para o nosso. O dormitório dos primeiranistas estava como sempre, uma bagunça. Entenda, por alguma razão que eu não entendo, a maioria dos caras gosta de fazer tipo um chicote com a toalha e ficar batendo nos outros, só que na maioria das vezes, eles saem do banheiro e ficam passeando pelo corredor nus. Não é a minha definição de elegante, mas quem sou eu para julgar?
Bati na porta do meu quarto, porque eu tinha perdido o meu cartão e sabia que o Alex já tinha chegado e se isolado lá dentro
-Quem é? - a voz esganiçada dele soou pela porta
-Pateta - respondi
- Pateta quem?
- Você, otário. Abre aporta - gritei, socando de leve o batente para ele se apressar. O corredor é um lugar perigoso e hostil.
- Vai se foder - ele gritou de volta, já abrindo.
- E ai? - cumprimentei, jogando a minha mala na cama e meu corpo junto - Como foi lá em Connecticut com a sua tia avó?
- No final, ela foi para minha casa, em Seattle.
- Seattle é tipo Londres só que nos Estados Unidos, só chove naquela merda. - brinquei. Tudo o que eu sabia sobre Seattle vinha de Grey's Anatomy. Ele grunhiu um pouco. Não sabia que ele era nacionalista, credo.
- Enfim, foi bom ir para casa, sabe? Eu tinha assuntos para acertar - ele falou, com um tom meio malicioso. Eu levantei uma sobrancelha para motiva-lo a contar. - No começo do ano, eu namorava um cara chamado Lance, mas ele me traiu com um outro, chamado Keith, e eles ainda estavam namorando. Até ontem.
- Espera, você é gay?
-Sim, eu sou gay.
- Tudo bem, é sempre bom estar informado. - certo, acho que você percebeu que eu lido com as situações do pior jeito possível, geralmente deixando tudo muito desconfortável fazendo uma piada. É o meu jeito e eu sempre me arrependo, no momento em que sai da minha boca. Por isso eu não pensei direito quando eu tentei brincar. Se eu pudesse voltar no tempo e me dar um soco na cara, eu daria - Mas só para recapitular um pouco, você é gay e não gosta de mim?
- Não, não. Eu não sei como isso aconteceu, mas parece que eu tenho essa coisa, chamada bom gosto, o que não faz com que você seja atraente para mim. Além disso, eu precisava de um melhor amigo hétero, adoro uma novela mexicana. E a sua vida... - ele apontou para mim. Eu me senti em Como Treinar o Seu Dragão.
- Poxa, cara. Eu estava brincando, desculpa, Alex. Não precisa me esculachar.
- Bem, eu não estava. - pelo menos, agora ele parecia menos irritado. Me zoar sempre melhora o humor das pessoas. - O seu gosto por roupas é péssimo, parece que você ainda não superou a sua fase Teen Wolf e, inclusive, qual a sua fixação por camisetas xadrez? Credo, moleque. E outra, você realmente não sabia? Não é como seu eu guardasse isso a sete chaves, eu até tinha comentado das reuniões do grupo LGBTQ+ da Livety, eu até tinha convidado vocês. Espera, - ele franziu a testa como se não acreditasse. Não era como se eu não tivesse escutado ele falando sobre aquilo, eu simplesmente não tinha ligado os pontos. Eu era um péssimo amigo. - você não me viu na Festa da Ressaca?
- Você pediu para eu não te atrapalhar. Na real, você não pediu, você me ameaçou. É diferente e mais assustador.
- Tanto faz. Quer ouvir o resto da história, ou não? - fiz que sim - Ótimo. Bom, nessa volta para casa eu posso ter ficado com o Keith, bem na frente do Lance. Um cara muito sábio disse para mim "é sempre uma boa hora para estragar um relacionamento".
- Quem disse isso?
- Bom Dia Leo. E o seu feriado? Muito pacato no Kansas?
- Só um pouquinho.
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Jace Norman, o Nihil Proprium
Avventura[EM REVISÃO] Jace Norman é, na verdade, um garoto normal. O que não é normal na vida dele é todo o resto. Sua família pertence a Casa Norman, uma família cheia de pessoas super poderosas que controla e manipula metal. Agora que ele tem 16 anos, é ob...