CAPÍTULO 10

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Quando Rafael se aproximou, Caio estava deitado em um banco ouvindo música de olhos fechados. Era fim de tarde e o sol já começava a se pôr. O Bosque das Mangueiras ficava cada vez mais tomado pelas sombras. Ele chegou devagar, sem fazer barulho e ficou observando enquanto Caio movia os lábios, acompanhando a música sem emitir nenhum som. Parecia estar em outro mundo, totalmente mergulhado nele. Era a cara do Caio, pensou, se entregar totalmente a tudo que gostava.

Rafael achou aquela cena perfeita. A pouca luz, os cabelos negros de Caio se misturando às sombras que se formavam, o rosto branco se destacando na escuridão, um livro pousado sobre o peito. Queria poder filmar aquilo ou pintar, talvez. Queria congelar aquele momento. Mas sabia que a beleza que havia ali não poderia ser captada, era uma daquelas ocasiões em que você mais sente do que realmente vê. Ele não saberia explicar. Então também deitou de modo que suas cabeças ficaram lado a lado.

— Rafa, eu nem te vi chegando. – disse Caio, retirando os fones de ouvido e olhando para o rosto de Rafael ao lado.

— É que você estava tão imerso na música que eu não quis atrapalhar. O que você está ouvindo?

— Tom Drummond. Nada melhor, depois de um dia cansativo como esse, que você deitar e ouvir a voz maravilhosa do Tom.

— É verdade. Me dá aí um fone que eu também quero ouvir.

Caio entregou o outro lado do fone de ouvido para ele e ficaram ouvindo a música por um longo tempo, até que a noite chegou.

— Por que você demorou tanto? – perguntou Caio.

— Eu estava conversando com a Kelly depois da aula.

— Ah, a Kelly. Vocês estão ficando?

— Não. Se tivesse você saberia, eu sempre te conto tudo.

— Mas você está gostando dela?

— Assim, gostar dela eu gosto. Ela é legal, bonita, gostosa. Mas gostar, tipo estar apaixonado, eu não estou. Tenho vontade de ficar com ela, mas acho que ela não me quer.

— Como ela não iria querer ficar com você? Acho difícil de acreditar.

— Não foi você que disse que não me beijaria porque eu sou feio? Agora reconhece minhas qualidades? – disse Rafael virando para olhar para Caio.

— Meu Deus, você nunca vai esquecer disso? – disse Caio rindo.

— Claro que não. Você disse que ninguém queria ficar comigo.

— Eu não disse isso! Você já está exagerando.

— Que seja. Mas vamos ver. Se rolar alguma coisa você será o primeiro a saber, como sempre.

Caio sentiu uma pontada de ciúme. Internamente torcia para que isso não acontecesse, mas sabia que era inevitável que Rafael se interessasse por outras pessoas e ficasse com elas.

— Caio?

— Oi?

— Está tudo bem? Tem alguma coisa que você não está me falando?

— Como assim? – o coração de Caio saltou no peito.

— Sei lá, às vezes você fica estranho, como se quisesse falar alguma coisa e não fala. Eu não sei explicar, é só uma impressão.

— Deve ser só uma impressão mesmo.

— É, deve ser. Sabe, naquele dia em que disseram que você estava apaixonado eu realmente acreditei que fosse verdade. Achei que talvez pudesse ser isso e que você ainda não tinha criado coragem para falar para ninguém. Você é tão tímido. – e riu. – Mas você parece ser o tipo de cara que quando se apaixona se entrega totalmente, apesar de você nunca ter se apaixonado para eu poder provar minha teoria. – virou e olhou para Caio. – Você sabe que pode me falar qualquer coisa. Eu sou seu amigo, você pode falar tudo para mim.

No teu abraçoOnde histórias criam vida. Descubra agora