CAPÍTULO 41

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Quando Caio acordou, o dia estava amanhecendo. Rafael chorava silenciosamente ao seu lado.

— Eu te acordei? — perguntou com a voz meio falhada. — Desculpa.

— Não, tudo bem — respondeu Caio.

Rafael se aproximou e encostou a cabeça no peito de Caio.

— Eu não vou conseguir me despedir dele, Caio... — disse com a voz entrecortada pelas lágrimas. — Eu sei que eu não vou conseguir.

— Vai sim, você é forte.

Rafael olhou para ele.

— Você já me disse isso uma vez. E estava errado.

— Eu não estava errado, você que não acredita. — Ficaram se olhando por um tempo, então Caio continuou. — Eu vou estar lá do seu lado.

— Obrigado.

Então levantaram da cama. Rafael tomou um banho e se vestiu. Antes de voltarem para a funerária, passaram pela casa de Caio para que ele também tomasse um banho e trocasse de roupa. Tomaram café da manhã e Rafael ficou com Amanda enquanto esperava Caio estar pronto.

O dia passou se arrastando. Rafael oscilava entre momentos de choro e calma. Muitas pessoas falaram com ele durante o dia, o que ajudava a distraí-lo. Carol passou muito tempo com eles e conversaram sobre lembranças boas da infância. Carlos também foi até eles, e Rafael e ele se abraçaram e choraram juntos.

No fim da tarde, seguiram para o cemitério para o sepultamento. Esse foi o momento mais difícil, como sempre é. Aquele momento em que a dura realidade se abate sobre os que estão se despedindo de quem ama. Aquele momento de certeza cruel, quando não dá mais para fingir que não é verdade a perda. Quando a terra fria e dura encerra qualquer esperança. O momento do adeus final.

Nessa hora, Caio chorou também, ao lado de Laura e Amanda. Rafael estava com sua família, num momento de sofrimento que pertencia só a eles, abraçados e se apoiando uns nos outros para suportar a dor que compartilhavam.

***

— Lembra aquela vez que a gente acampou no quintal? — perguntou Rafael com o olhar perdido. Olhou para Caio e então sorriu. — Acabei de lembrar disso.

Eles estavam sentados no sofá da sala. Quando chegaram do cemitério, todos tinham ficado na sala, juntos, conversando, tentando não lembrar, tentando se distrair, criando coragem para irem para suas camas dormir. Pediram uma pizza, mas Rafael mal comeu. Todos sentiam aquele vazio que havia ficado, na casa e na vida deles. Muito tempo depois começaram a sair um por um para seus quartos. Já era tarde quando restou apenas eles dois na sala. Agora Rafael havia quebrado o silêncio entre eles.

— Claro que eu lembro. — respondeu Caio. — A gente assistiu aquele filme e colocamos na cabeça de acampar. Mas a questão era: "Onde?"

— A gente perturbou o vô o dia inteiro, até que ele teve a ideia de acampar no quintal.

— Nós estávamos nos sentindo os escoteiros! — Os dois riram.

— Pobres crianças da cidade que nunca haviam acampado antes... Mas o vô preparou tudo de um jeito tão legal que se duvidar foi até melhor do que aquela vez que a gente acampou de verdade no sítio do tio Fábio depois.

— Verdade, foi muito bom. E ele contou todas aquelas histórias de terror antes da gente dormir. Eu lembro. A coitada da Amanda ficou apavorada, ela era tão pequenininha.

— Você também ficou, Caio! Mas fingiu que não. Eu lembro.

— Eu tinha que ser o irmão mais velho corajoso da Amanda.

No teu abraçoOnde histórias criam vida. Descubra agora