CAPÍTULO 19

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Caio foi para casa ensaiando na mente o que falaria para a mãe. Imaginou várias formas de começar, mas não conseguiu decidir as palavras certas para usar. Quando chegou, Laura estava assistindo um programa qualquer na TV, quase dormindo. Caio entrou sem fazer barulho e observou a mãe: os cabelos ondulados pretos, os olhos claros como os da Amanda, diferentes dos olhos negros que ele havia herdado do pai. Uma mulher tão bonita e tão jovem que anulou sua vida para cuidar dos filhos sozinha. Tinha uma expressão cansada no rosto.

Por um momento imaginou como essa revelação a afetaria. Teve medo de feri-la, decepcioná-la. Quase desistiu de contar, mas lembrou de Rafael, que agora já devia estar falando com seus pais, e lembrou também do que sua mãe lhe dizia, que a verdade é sempre melhor. Além disso, não queria esconder algo tão importante dela. Eles sempre foram muito amigos e ele não conseguiria excluí-la nesse momento. Ele precisava contar, ele queria contar, não importava o que acontecesse a seguir.

Encheu-se de coragem, respirou fundo e disse:

— Mãe?

— Oi, filho! Você está aí há muito tempo? Nem percebi quando você entrou.

— Eu preciso falar com você.

Laura percebeu o tom sério na voz de Caio e sentou no sofá.

— Senta aqui. Aconteceu alguma coisa?

— Não. — Sentou-se. — Quer dizer, sim. Eu preciso te falar uma coisa.

— Pode falar, eu estou ouvindo.

Caio respirou fundo tentando encontrar as palavras certas para falar. Como não as encontrava, falou:

— É sobre o Rafael. A senhora sabe que ele é meu melhor amigo e que nós sempre estivemos juntos.

— Sim...

— Pois bem. Sabe aquele acidente que a gente sofreu ano passado? Aquele que o Rafa quase morreu.

— Como eu poderia esquecer...

Caio ficou em silêncio sem saber como continuar.

— Pode falar, Caio.

— Quando aquele acidente aconteceu, mãe, eu pensei que fosse perder o Rafa. Quando eu vi ele lá caído, desacordado, cheio de sangue, eu fiquei sem chão, ...

— Eu imagino.

— ... eu tive tanto medo. Naquele momento foi como se algo tivesse mudado dentro de mim. Foi como se o medo de ter perdido o Rafa tivesse acendido uma luzinha dentro de mim e eu consegui enxergar exatamente o que eu sentia por ele. Eu vi que eu o amava. Não só como amigo. Era algo mais. — fez uma pausa.

Como sua mãe não falou nada, continuou.

— Eu achei que talvez fosse só pela situação, que eu estava confundindo as coisas, mas não. Lá no fundo eu sabia que era isso mesmo, que esse sentimento sempre esteve ali, eu só não havia entendido ainda. — Caio estava gostando que sua mãe não falasse nada. Assim era mais fácil. — Então eu decidi guardar isso só para mim, porque eu tinha medo de falar e ele se afastar. Eu tinha medo que ele ficasse chateado ou sem graça com essa situação e eu o perdesse. Então eu guardei por meses. Eu contei para a Amanda. Ela me dizia que eu tinha que falar, que ele precisava saber, mas eu não tinha coragem. Até que eu falei. E foi exatamente como eu temia. Ele disse que eu estava confundindo as coisas, que não era isso, e se afastou. Lembra aqueles dias que ele ficou sem aparecer e você até perguntou se tinha acontecido alguma coisa?

Ela confirmou com a cabeça e Caio continuou:

— Era isso. Mas depois ele me disse que tinha pensado muito em tudo que eu falei e que eu tinha razão. Ele sentia o mesmo. E desde então a gente está... a gente está namorando. Faz três meses. E eu queria que você soubesse porque eu não gosto de esconder nada de você. Porque nós sempre fomos tão amigos e eu não quero que isso mude. — Olhou para a mãe e sorriu. — Eu... eu estou tão feliz, mãe! Eu sei que as pessoas dizem que não é certo, mas eu estou tão feliz que não consigo entender porque não seria certo amar alguém assim.

No teu abraçoOnde histórias criam vida. Descubra agora