Prólogo

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  Já deparou-se em algum momento de sua vida quando nada faz sentido? Era assim que se sentia Regina. Deitava e não encontrava nenhuma resposta para suas perguntas; olhava em sua volta e, por mais que existissem pessoas ao seu redor, parecia mergulhada em solidão. O tempo passava e percebera que a cada dia estava ficando mais para trás, sem forças para lutar, totalmente desarmada pelas eventualidades da vida. Estava ali sentada, mais uma vez, na varanda de sua casa. Era uma noite chuvosa e ventava gelado. Sua mente parecia estar anestesiada, conseguia sentir apenas a água da chuva em seu corpo. Estava imóvel, sentia-se como se flutuasse e nada mais fazia sentido.

- Regina! – chamou Cora na tentativa de tirá-la do transe. – O que está fazendo aí? Você ficará doente!

Segurou nos ombros da filha e a fez levantar para secar-se.

- Já está tarde, você precisa dormir. – disse Cora entregando uma toalha para Regina.

- Estava... Tentando me distrair. – disse Regina tremendo de frio.

- Estava pensando nele? – perguntou Cora.

- Sim... Todos os dias eu penso nele, mas hoje é um dia especial. – disse Regina olhando para o nada.

Cora abraçou a filha.

- Eu estou aqui com você, não está sozinha. Nunca esteve... – disse confortando-a.

Regina soltou o ar dos pulmões.

- Queria que tudo tivesse sido diferente. Só queria saber onde foi que errei para merecer isso... – disse Regina.

- Nada! Você não tem culpa, você sabe que ele foi um homem ruim e fez isso só para fazê-la sofrer! – disse Cora.

- Eu não quero mais pensar nisso... – disse Regina tentando esquecer-se de tudo que havia ocorrido.

Cora foi em direção ao fogão e pegou um chá que havia preparado.

- Tome, vai ajudá-la a dormir. – disse Cora.

- O que é isso? – perguntou Regina curiosa.

- Chá de camomila, você vai relaxar... – disse Cora.

Regina nada respondeu, pegou a xícara e bebeu o líquido com calma.

- Quer que eu durma com você esta noite? – perguntou Cora.

- Não. – respondeu Regina secamente.

Cora soltou o ar dos pulmões e ignorou a negativa da filha, esperou ela deitar e aconchegou-se ao seu lado, acariciando os seus cabelos. Regina precisava daquele carinho naquela noite, apesar de ter dito não, somente Cora sabia o que ela sentia nos últimos anos.

No dia seguinte, tentou recompor-se, precisava estar bem para mais um dia de trabalho. Não gostava de mostrar as suas fraquezas para outras pessoas. Pegou o metrô como de costume sem olhar para os lados. Estava sentada, distraída em seus pensamentos...

“Coisas boas atraem coisas boas” – pensou de olhos fechados.

Abriu os olhos e observou uma moça loira de olhos verdes que prendeu bastante a sua atenção.

- Está tudo bem? – perguntou Regina ao reparar no semblante da moça que se aproximou dela.

- Sim... Eu só estou com um pouco de sono. – disse a moça.

- Sente-se aqui. – disse Regina levantando-se.

- Não, obrigada. Se eu dormir agora, não farei nada. – disse a moça.

- Mas parece exausta, é melhor sentar-se um pouco. – disse Regina.

- Não se levante. Eu não posso ficar sentada. – disse a moça.

O sabor do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora