Sou lésbica!

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Kristin e Lily arregalaram os olhos instantaneamente quando ouviram o que a menina havia dito.
- Como assim, Lucy? - perguntou Lily assustada.
- É porque ela está beijando aquela mulher que estava jantando na casa da tia Mary… - disse Lucy apontando o dedo em direção a Emma e Regina.
- JESUS, MARIA, JOSÉ! - gritou Kristin levando a mão até a boca.
Kristin deu alguns passos para tirar satisfações com Emma, mas Lily a segurou pelo braço. Não queria que houvesse um escândalo, já bastava o que havia ocorrido no jantar.
- Não faça isso! - disse Lily impedindo a mãe de fazer uma besteira.
- Ela não tem vergonha na cara! - disse Kristin sussurrando apenas para Lily ouvir.
- Mãe, deixe que Emma conte. Deixe esse assunto para ela mesma resolver com a tia Mary, eu não quero ser pivô de uma tragédia... E nem você! - disse Lily com propriedade.
Kristin pensou melhor e percebeu que a filha tinha razão. Abaixou-se na altura da filha menor para conversar.
- Lucy, nenhuma palavra sobre isto com ninguém, tá certo? Muito menos para Mary! - disse Kristin com voz em tom baixo e firme.
- Por quê? - perguntou a menina com uma voz infantil.
- Porque eu estou mandando! - disse Kristin mudando a voz para um tom autoritário.
Lily aproximou-se da irmã.
- Não conte nada, esqueça isso, por favor, Lucy! - disse Lily carinhosamente.
A menina assentiu mesmo sem entender.
Emma e Regina estavam de costas e não perceberam que foram vistas. A morena segurava a mão da loira e tocava carinhosamente em sua pele, percebendo algo diferente.
- Você cortou só essas duas unhas? - perguntou Regina rindo.
Emma ruborizou.
- Você sabe porque eu cortei… - disse Emma com um sorriso tímido.
Regina a olhou nos olhos por alguns segundos, sentindo a intensidade com que a loira a olhava.
- E por que não corta mais essa aqui? - disse Regina indicando o dedo anelar, com um sorriso malicioso.
Emma gargalhou.
- Safadinha… - sussurrou encostando o rosto no de Regina.
- Sou mesmo… Você sabe disso! - disse Regina sem vergonha alguma, depositando levemente beijos em seu rosto.
- Hum… Gosto assim! - disse Emma aconchegando-se no peito de Regina.
- Adoro ser arranhada… Você nem imagina a quantidade de coisas que quero fazer com você. - sussurrou Regina acariciando o braço de sua namorada.
Emma sentiu sua excitação aumentar e usou as poucas unhas que lhe restavam e as movimentou no braço de Regina fazendo-a arrepiar-se.
- Nossa… Quero muito! - disse Emma molhando os lábios ao olhar a boca de Regina.
- Quando estou com você me esqueço que estamos na rua, temos que tomar cuidado ao nos beijarmos aqui… - disse Regina olhando para os lados.
- Tem razão, nem havia me lembrado que estávamos em público. - disse Emma olhando para trás.
Kristin já havia indo embora.
Regina sorriu carinhosamente acariciando aquelas mechas douradas. Recebeu uma mensagem de Henry e abriu na frente de Emma.
I miss you.
Sinto a sua falta.
- Henry… Queria tanto vê-lo agora. - disse Regina suspirando em voz alta.
- Ele é tão lindo! - disse Emma visualizando a foto do perfil do whatsapp de Henry.
Regina assentiu com tristeza no olhar.
Me too. I love you so much...
Eu também. Eu te amo tanto…
Regina encheu-se de raiva.
- Se eu visse o Daniel na minha frente agora, o matava! - disse Regina cerrando o punho direito.
- Calma, amor! Um dia ele pagará pelos seus atos. - disse Emma confortando Regina.
Regina soltou o ar dos pulmões.
- A gente comete cada besteira na vida, ainda mais quando se é imatura…
- Me conta? Eu gostaria de saber a sua história. - disse Emma segurando a mão da morena.
Regina a olhou nos olhos e decidiu contar como tudo começou. As lembranças vinham em sua mente como se tivesse sido ontem. Cada detalhe foi marcante em sua vida e a mudou completamente, fazendo que amadurecesse e tornasse a mulher que é hoje.
- Eu tinha dezoito anos... Fui a uma festa de carnaval com as minhas mães no Rio de Janeiro e tinha muita gente bonita. Eu estava lá só pra curtir… - disse Regina olhando em direção a algumas árvores que estavam a sua frente.
Emma ouvia atentamente, gostaria de conhecer tudo sobre a sua morena.
- E lá estava ele, bonito, galanteador e não parava de olhar para mim… - Regina suspirou.
- Amor de carnaval… - disse Emma.
Regina assentiu.
- Ele aproximou-se de mim com aquele sotaque maravilhoso e eu me apaixonei. Ele vinha me visitar sempre que podia e como eu era jovem e burra, acabei engravidando logo e isso o fez vir mais frequentemente me ver. - disse Regina.
- Vocês não namoravam sério? - perguntou Emma.
- A princípio não, pela  distância… Mas eu consegui o visto de turista e fiquei seis meses em Nova Iorque até o nascimento do Henry. - explicou Regina.
- O visto vale por seis meses? - perguntou Emma.
- Na verdade é dez anos, mas o agente que determina o prazo máximo que você pode ficar no país ininterruptamente. - respondeu Regina.
- Mas você disse que foi casada... - disse Emma tentando entender.
Regina assentiu.
- Eu não me casei legalmente. Se relacionar com um homem por dez anos é um casamento, não acha? - perguntou Regina fazendo Emma refletir.
Emma fez bico pensativa.
- Verdade…
- Dali pra frente ele vinha sempre aqui. Tinha um círculo de amizades e sempre estava nas festas da alta sociedade. Você não sabe o quanto essas festas eram chatas! - disse Regina sentindo náuseas só de lembrar.
- Ah, eu imagino! Só gente do nariz empinado que se acha a última bolacha do pacote! - disse Emma.
Regina riu.
- É isso mesmo. Eles me olhavam torto, sempre me olharam torto, eu me sentia tão deslocada ali, mas fingia que era amiga deles por educação. - disse Regina passando um dos braços por debaixo do cotovelo e Emma.
- Que é o mesmo que sentir-se só, mesmo estando com muitas pessoas ao seu redor… Sei bem o que é isso. - disse Emma lembrando-se de alguns fatos.
- Você me entende. - Regina sorriu.
Regina percebeu que já estava bem tarde e  preferiu não continuar aquela história naquele momento. Acompanhou a loira até sua casa e foi embora com o carro de suas mães. Emma a inspirava tanta confiança que sentia-se á vontade para contar sobre toda a sua vida, sentia-se tão bem ao lado da loira, que poderia passar horas apenas a olhando.
Alguns dias depois, Mary Margareth havia saído para dar algumas aulas. Lucy brincava pela casa e entrou no quarto de Emma para ver se encontrava algo divertido, revirou as gavetas do guarda-roupa para encontrar algum jogo e acabou achando o carrinho que Emma havia ganhado de Regina, tentou abrir a caixa, mas algo chamou mais a sua atenção. Viu um objeto roxo com um formato inédito aos seus olhos e deixou o brinquedo de lado. Correu pela casa e foi mostrar para a Kristin.
- Mamãe, eu encontrei um aparelho de massagem. - disse Lucy com o vibrador de Emma atrás das costas.
- Você não está mexendo nas coisas da sua tia, não é? - perguntou Kristin tentando ver o que Lucy tinha nas mãos.
A menina deu um sorriso travesso.
- Feche os olhos, mamãe! - disse Lucy com uma voz infantil.
- O que vai fazer? - perguntou Kristin.
- Massagem em você, confie em mim! - disse Lucy.
Kristin achou que não haveria problema algum e fechou os olhos como a filha pediu. Lucy colocou o vibrador no ombro de Kristin e o ligou, a parte maior girava de um lado para o outro no rosto da mulher.
- Que isso, Lucy? - perguntou Kristin.
- Não abra os olhos, vou massagear o seu pescoço. - disse Lucy ainda com o objeto na velocidade média girando de um lado para o outro.
Lucy colocou no rosto de Kristin para fazê-la sentir a vibração do objeto e a mulher abriu os olhos instantaneamente ao sentir aquele formato em sua pele.
- MEU DEUS! ONDE VOCÊ ACHOU ISSO? - gritou Kristin num pulo.
- Que gritaria é essa? - perguntou Lily entrando na sala.
- É o massageador da minha prima Emma, que estava nas coisas dela! - disse Lucy sem entender o porquê da mãe estar tão nervosa.
- ME DÊ ISSO AGORA, LUCY! - gritou Kristin.
- Ah, eu achei que você iria gostar… - disse a menina chateada entregando o vibrador para a mãe.
- Vá para o seu quarto e não mexa mais nas coisas da Emma! - disse Kristin nervosa.
Pegou o objeto pela ponta e o escondeu. Emma saiu do banho e foi direto para o seu quarto para trocar-se. Kristin foi logo atrás para tirar satisfações sobre as coisas que estavam engasgadas em sua garganta.
- Não faça nenhuma besteira, mãe! - disse Lily a acompanhando.
Kristin deu de ombros e bateu na porta com certa força.
- Emma, abra a porta, preciso conversar com você! - disse Kristin batendo o pé no chão.
Emma terminou de trocar-se e abriu a porta dando de cara com Lily e Kristin com o seu vibrador nas mãos. Emma sentiu o seu rosto queimar e não sabia onde enfiar a cara.
- Co-mo acharam isso? - perguntou.
- Você deixa essas coisas espalhadas por ai e a Lucy fica brincando. Você está sendo péssima influência para minha filha! - disse Kristin.
- Esperai, que eu saiba eu estou na minha casa e vocês estão na MINHA casa e não ao contrário! - disse Emma nervosa com aquela afirmação da tia.
- Você sabe que tem criança aqui e traz essas coisas para ela encontrar e pior, enfiar na minha cara depois de você ter enfiado sabe-se lá onde! - disse Kristin gesticulando.
Emma tomou o vibrador das mãos da tia e o guardou.
- Sabe o que a Lucy me perguntou outro dia? - perguntou Kristin cruzando os braços.
Emma revirou os olhos, sua vergonha já havia perdido espaço para raiva.
- O quê? - perguntou rispidamente.
- “Mãe, a minha prima Emma é sapatão? - disse Kristin com as mãos na cintura.
- EPA! - gritou Lily tentando impedir a mãe.
- Como é que é? - perguntou Emma com voz firme.
Kristin sentiu-se envergonhada.
- Eu não tenho absolutamente nada a ver com a sua vida! - disse Kristin.
Lily as fitava sem saber o que pensar.
- Emma, não queremos nos intrometer em sua vida, eu já pedi para ela não contar nada. - disse Lily.
- Eu não estou entendendo o porquê dessas acusações… - disse Emma com o semblante sério.
- A Lucy te viu beijando Regina naquela praça próximo a sorveteria e me perguntou se você era sapatão e eu não sabia o que responder… - disse Kristin fitando Emma.
A loira soltou o ar dos pulmões não acreditando no que estava acontecendo. Não era possível que a sua tia tenha visto ela com Regina, não era lógico. Sentia suas mãos tremerem de raiva e receio de que aquilo chegasse aos ouvidos de Mary e pudesse acontecer um estrago maior.
- Eu acho que você é… É… É… Diferente… Sempre foi e eu respeito isso, você pode confiar em mim, sempre fomos como irmãs, você pode desabafar comigo. - disse Lily tocando no ombro de Emma.
- A vida é sua, Emma… Não vamos nos intrometer. Só peço que tenha mais cautela no que está fazendo e não deixe a sua vida tão exposta, fica feio pra você! - disse Kristin mais calma, percebendo a aflição da sobrinha em seu olhar.
- Não precisa me contar nada… - disse Kristin aproximando-se de Emma.
Naquele instante a loira encheu-se de raiva, queria desabafar, precisava colocar tudo para fora e agiu sem pensar. Fitou Kristin e disse tudo que estava em seu coração.
- Eu gosto de uma mulher! Eu sou sapatão, eu sou sargento, fanchona, LÉSBICA… EU COLO O VELCRO, EU GOSTO DE COLOCAR A ARANHA PRA BRIGAR! - disse Emma sentando-se na cama depois de ter dito todos os sinônimos de sua atual condição sexual.
Lily e Kristin a olharam boquiabertas, sem saberem o que dizer.
- Eu não nasci para atender as expectativas da sociedade, não nasci para ser padrão, NÃO NASCI PARA ATENDER AS EXPECTATIVAS DE VOCÊS! - gritou Emma histérica por não ter tranquilidade em sua própria casa.
Emma sentiu a sua respiração ficar ofegante e um choro de desabafo escorria pelo seu rosto.
- Eu estou cansada de ter que reprimir tudo que sinto! Passei a vida toda negando a mim mesma o que eu era, o que eu gostava… Coisas das quais eu não entendia! - disse Emma parando para respirar.
- Emma… Pare! - disse Lily sentindo a dor da prima.
- Me escutem! - pediu Emma quase com uma súplica.
Kristin sentiu pena da maneira que a sobrinha estava falando, seus olhos encheram de água e não a impediu de falar.
- Agora que eu conheci Regina tudo se encaixou perfeitamente, parece que o vazio que eu sentia, o espaço que precisava ser preenchido em mim, foi totalmente coberto!. - disse Emma com o rosto vermelho e com a voz falha de tanto chorar.
- Ah, Emma… - disse Lily aproximando-se da prima.
- Quando ela veio me dizer o que sentia por mim, eu não poderia mais dizer não a minha própria natureza. Por que não dar uma chance a mim mesma? - disse Emma sentindo o seu coração palpitar.
- Eu não queria que se sentisse assim… - disse Lily.
- Emma, não foi a minha intenção… Eu… - disse Kristin arrependida.
- Vocês sempre foram o padrãozinho, brincavam de boneca, se apaixonavam pelos garotos, falavam de maquiagem… Já eu… Me sentia deslocada! Me envolvi com garotos para tentar me apaixonar, mas não sentia nada! - disse Emma desabafando.
- Emma, não se torture! - disse Lily.
- A deixe falar! - disse Kristin.
- Eu só pensava no que poderia ter de errado comigo... E passei a vida inteira me escondendo de mim mesma! E agora eu tenho medo de ser quem sou… - disse Emma soluçando de tanto chorar.
- Medo de quê, Emma? Você é adulta, não precisa da permissão de ninguém para ser o que é. - disse Lily.
- Eu sempre me senti muito sozinha, de não conseguir me abrir com ninguém… Tenho medo de Mary não querer me ver, de me deixar… Vocês sabem como ela é radical e mesmo assim eu a amo… - disse Emma não conseguindo falar mais, pois estava sem fôlego.
- Nós não vamos contar, eu prometo! - disse Lily.
- Poxa! Eu nunca tinha visto as coisas deste ângulo… Emma, por mim Mary não saberá, respeitaremos o seu tempo, o seu espaço… Nós amamos você, você é nossa família, não precisa sentir-se sozinha. - disse Kristin abraçando Emma.
A loira sentiu-se melhor ao ter falado tudo aquilo pela primeira vez a alguém, sentiu-se mais leve e tranquila por receber o apoio da tia e da prima. Nunca foi fácil para ela aceitar quem realmente era e Regina a fez sentir-se bem, sentir-se livre e não mais sozinha. Recuperou-se e se sentiu mais aliviada.
Regina havia chamado Emma para um jantar romântico em sua casa, serviu uma bela taça de vinho e um belo prato de macarronada que a loira que tanto gostava. Regina pegou uma caixa de chocolate e mostrou para Emma.
- Gosta?  - perguntou.
- Baton? Estou tão cheia… Mas adoro! - disse Emma.
Regina deu um sorriso malicioso.
- Mas não é para essa boca… - disse Regina percorrendo o olhar em todo o corpo da loira.
Emma a olhou com um sorriso malicioso.
- Como assim, Regina? - perguntou.
- Posso introduzir em você e ele vai esquentar e derreter… - explicou dando um beijo no canto da boca da loira.
Emma cerrou os olhos deixando a sua imaginação fluir.
- E depois? - perguntou segurando o rosto de Regina.
Regina arqueou uma sobrancelha.
- E depois é só eu colocar a minha boca em você e… - disse com um sorriso safado, acariciando a coxa de Emma, fazendo-a esquentar-se.

O sabor do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora