Rastros

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O espelho é um símbolo de pureza, verdade e sinceridade que mostra muito além de aparência física. Através dele, vemos as nossas marcas de expressão que além de marcar idade, cada ruga representa uma experiência vivida, sentimentos ocultos, sentimentos aparentes, sentimentos que enxergamos de forma invertida e nos fazem raciocinar.

Regina estava parada de frente para um espelho no qual refletia a sua imagem abatida. Revirou a bolsa para encontrar o seu batom vermelho intenso para retocar a maquiagem, mas um pequeno objeto dourado a fez esquecer-se do seu objetivo inicial. O segurou com os dedos médio e indicador respectivamente na altura dos olhos, cerrando-os com pesar, fazendo com que suas lembranças viessem à tona. A figura de Emma entregando a aliança era de cortar o seu coração, a sensação de ter que deixá-la para trás era torturante demais. Suas lágrimas escorriam sem que fizesse esforço algum, dizem por aí que estas lágrimas, as silenciosas, são as mais dolorosas.

Guarde. Não posso levá-la comigo, mas você estará sempre no meu coração.” - Emma entregou a aliança com os olhos marejados e logo foi levada. Essa era a última lembrança que Regina tinha do rosto da amada.

O barulho do trinco da porta fez com que a morena acordasse de seus devaneios, lembrou-se que Henry a aguardava para almoçar e logo saiu dali. Caminhou em direção a mesa e deixou sua bolsa para o garoto vigiar, serviu-se e encontrou Zelena que estava no mesmo local, convidando-a para juntar-se a eles.

- Esse é o meu filho Henry! - disse Regina dando um leve sorriso.

- Oi, Henry, eu sou a Zelena! - a ruiva sorriu para o garoto. - Você é muito lindo! - observou tentando ser simpática.

- Obrigado. - Henry respondeu retribuindo o sorriso. - Sente-se aqui. - puxou a cadeira de Zelena e Regina respectivamente para que elas pudessem se aconchegarem.

- Que cavalheiro. - Zelena sentou-se com certa dificuldade devido ao tamanho de sua barriga.

- Está grávida... É menina ou menino? - perguntou Henry levando um pouco de comida até a boca.

- É uma menina, mas ainda estou decidindo o nome com a minha... - Zelena olhou para Regina, mas percebeu que ela estava com os pensamentos bem longe dali. - namorada. - completou.

- Sério? Será uma menina linda igual a mãe! - disse Henry arrancando gargalhadas da ruiva.

- Que galanteador! E como fala bem o português. - Zelena tocou na mão do garoto que sorriu.

- Minha mãe sempre falou muito comigo em português, tenho dúvida em algumas palavras e como escrevê-las, mas sei que morando aqui aprenderei muito mais. - respondeu Henry de forma clara.

- Com certeza! Quantos anos você tem? - perguntou.

- Quinze. - respondeu Henry observando a mãe.

Regina estava com uma mão sobre o rosto e segurando o garfo com a outra, como se não tivesse nenhum pouco de vontade de comer.

- Mãe? Tudo bem? - Henry perguntou.

Regina saiu da posição que estava e soltou o ar dos pulmões.

- Essas pessoas aqui falam alto demais, a minha cabeça vai explodir. - respondeu tentando disfarçar a sua verdadeira dor.

- Mãe, não precisa ficar deprimida. - Henry disse a olhando nos olhos.

Regina olhou para o filho e riu.

- Herdou a minha franqueza!

Zelena cruzou as duas mãos e os observou soltando o ar dos pulmões.

O sabor do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora