Ridícula, é isso que sou uma mulher de cinquenta e seis anos, com medo de um homem. Quando vejo Eduardo, me sinto outra vez como a adolescente que fui, ou melhor, como me sentia aos quinze/dezesseis anos, meu coração dispara, dá um frio na barriga, e, quando ele está perto, minhas mãos tremem.
Quando me sentei ao seu lado na pizzaria e senti seu perfume, quase tive uma síncope, perdi o ar. Que cheiro bom! Que vontade de agarrá-lo! Regina não tirava os olhos de nós, seu olhar ia de mim para o Eduardo e dele para mim, só observando, hoje até que ela não soltou piada desagradável, é uma merda, não consigo acreditar que não houve ou não há nada entre eles. A forma como ela olha para ele, como se insinua e como o toca, não é de alguém que não teve ou tem nada, mas enfim, é melhor deixar para lá. Conheci Nando, o marido do Sergio, gostei dele de cara, um pedaço de mau caminho, lindo, alto moreno de olhos verdes, um desperdício, mas enfim, que fazer?
Para minha sorte, Nando a certa altura da noite, sentou-se ao meu lado e puxou conversa comigo, querendo saber por que sou tão calada, o tipo de música que gosto, e quando disse que gostava de dançar, me convidou para sairmos para dançar. Nando ao falar para esticarmos a noite em uma balada todos se animaram, menos eu claro, não estou a fim de estar tão perto do Eduardo, digo isso porque certamente ele iria querer que eu dançasse com ele e para que isso não aconteça, ou eu não danço com ninguém ou não vou, logo, prefiro a segunda opção. Sou chata, sei disso, de repente o Eduardo nem iria querer dançar comigo, de repente, assim como no passado, ele prefira dançar com a Regina ou ainda com qualquer mulher que tenha na casa noturna que formos, e que ele possa fazer sexo, mas prefiro não arriscar.
Aleguei estar com dor de cabeça para não ir, quando me despedi do pessoal, Eduardo se ofereceu para me levar em casa, agradeci e disse que estava de carro, então ele resolveu me acompanhar até o estacionamento. Ao nos dirigir para a porta, Eduardo colocou a mão na base da minha coluna, me arrepiei toda, e, certamente ele percebeu. Do lado de fora da pizzaria, ele retirou a mão e caminhou ao meu lado, dessa vez, lado a lado, era a história se repetindo, com a diferença de que dessa vez, estávamos quase nos tocando, fomos em silencio até o estacionamento.
Quando chegamos ao meu carro, Eduardo segurou a porta e disse que queria conversar comigo, perguntei-lhe sobre o que, e disse-lhe que não temos nada para conversar, e que ainda que tivéssemos, o tempo para conversar já passou, dei-lhe boa noite, entrei no carro e fui embora. Pelo retrovisor, vi que ele ainda estava lá, parado no mesmo lugar.
Já em casa, deitada em minha cama ficava me perguntando o que o Eduardo quer ou pode ter para me falar, o que ele acha que tem para explicar ou que deva, ou ainda, mereça ser explicado depois de tanto tempo? Seja lá o que for não sei se quero ouvir. Estou confusa, ao mesmo tempo em que morro de curiosidade em saber o que ele tem para dizer, de saber por que ele nunca quis me namorar quando éramos adolescentes, tenho medo de confirmar que nunca fiz seu tipo, que nunca passei de uma menina boba, ridícula, encantada com um dos garotos mais bonitos da cidade.
Hoje quando Eduardo me acompanhou até meu carro, foi como um "flash black", voltei à noite do baile há mais de quarenta anos, quando ele me acompanhou até a porta da casa da Simone, disse boa noite e foi embora. Como naquela noite, hoje também achei que ele fosse me beijar, porém, mais uma vez ele não o fez, aliás, como daquela vez sequer demonstrou qualquer intenção ou vontade de fazê-lo, a diferença entre aquela noite e hoje, é que dessa vez fui eu quem disse "boa noite" e foi embora.
Agora, aqui sozinha em meu quarto fico me perguntando: E se o Eduardo tivesse me beijado? Será que eu iria corresponder ao seu beijo? Será que gostaria de ser beijada por ele? Ou será que minha reação seria não apenas de recusa, mas também agressiva, como por exemplo, esbofeteá-lo? "To be our not to be, that is the question".
VOCÊ ESTÁ LENDO
UM AMOR MADURO
RomanceAlma gêmea existe? Você acredita em alma gêmea? Para Julia, alma gêmea não existe. Julia e Eduardo, conheceram-se na adolescência, tiveram uma paquera por três anos e depois se perderam. Quarenta anos se passaram até que quando menos se esperava v...