Capítulo 9 JULIA

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Mais uma noite sem dormir, mais um dia vendo o sol nascer, desse jeito sei que vou acabar com meus nervos, ainda bem que vou embora amanhã. Meu voo é somente à tarde, mas, vou falar com José, para me levar para o aeroporto na parte da manhã.

Não estou com a menor disposição de descer e encarar o pessoal entenda-se por pessoal: Eduardo. Pode ser infantilidade, fuga ou até mesmo covardia de minha parte, mas realmente, prefiro me resguardar. Sei que mais hora menos hora terei de enfrentar, mas ainda não estou pronta. Mas, que asneira é essa que estou pensando? Vou embora amanhã e não vou mais ver Eduardo, e provavelmente, não viverei mais quarenta anos, e, como tão cedo não pretendo voltar aqui, certamente não o verei mais.

Saí do banho, estava tomando meu café, quando o furacão Martinha, entrou no meu quarto.

─ Você não vai descer?

─ Por que eu deveria?

─ Ju, você não vai fazer uma grosseria dessas?

─ Martinha, eu disse a você que não era para contar comigo. Para você esquecer que eu estava em casa.

─ Porra Ju, custa alguma coisa você descer e ficar um pouco conosco? É tão difícil assim para você se socializar?

─ Martinha, minha linda irmã. Não se trata de socialização, ou a falta dela. Trata-se apenas do fato de eu querer ficar quieta no meu canto, de não estar a fim de papo furado. Você inventou isso. Você convidou seus amigos, a festa é sua. Você não me perguntou se eu estava afim, você foi lá e fez, então minha irmã, como diria Juca Chaves: "Se a curra é inevitável, relaxe e goze."

Martinha saiu do meu quarto pisando duro e xingando até a minha quinta geração. Fui malhar um pouco, estava precisando dar uns socos em alguém, como não podia socar ninguém, resolvi socar meu saco de areia. E soquei, e, chutei, fiz alguns abdominais, depois voltei para meu quarto, entrei no chuveiro, tomei um banho bem demorado e fiquei me perguntando se estava agindo certo. Não seria melhor descer e fazer um social pelo menos por alguns minutos? Estava saindo do banheiro, enrolada em uma toalha, quando bateram à porta de meu quarto. Julia? Uma voz de homem me chamou. Sou eu Nando, posso entrar? Vesti um roupão e abri a porta para ele.

─ Oi Nando, entra.

─ Desculpe a invasão, mas, Martinha disse que você não estava querendo descer, ainda está com dor de cabeça?

─ Não. Estou bem.

─ Por que você não quer descer então? Estamos incomodando?

─ Claro que não Nando. Só não estou com vontade. Sou chata mesmo.

─ Ju, posso lhe chamar assim?

─ Claro todos os meus amigos me chamam assim.

─ Sei que nos conhecemos apenas ontem, mas, não sei por que, gostei de você de cara, sinto que seremos amigos, quero dizer, muito amigos. Você me pareceu ser uma pessoa honesta, franca, direta, sincera e tudo isso, vi no seu olhar.

─ Obrigado. Você também me pareceu ser um ser humano único. Sabe Nando, além do meu pai e do meu marido, não tive ou tenho amigos, tenho conhecidos, colegas de trabalho, de academia, mas é só. Ou seja, perdi os únicos amigos que tive na vida.

─ Você me aceita como seu amigo Ju? Você aceita ser minha amiga?

─ Será um prazer Nando.

─ Então, vamos descer um pouco, eu prometo que fico com você o tempo todo, que não deixo ninguém encher seu saco.

─ Nando, vou ser bastante franca com você. Tenho pavio curto. Não sou mulher de meias palavras. Procuro evitar o máximo entrar em discuções, ser grosseira ou deselegante para com as pessoas, mas existem algumas, que acabam me tirando do sério, e aí, eu me esqueço de que tenho uma reputação a zelar, desço do meu salto, rodo minha baiana, e não me seguro. E, é isso que estou tentando evitar.

UM AMOR MADUROOnde histórias criam vida. Descubra agora