C39: Diário

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Camila permaneceu ali abraçada a Lauren durante o resto da noite. Dormiram experimentando a paz que inexplicavelmente surgia quando estavam juntas. Mesmo com todos as dúvidas e mágoas que Lauren tinha, a morena sentia-se refeita nos braços de Camila. E esta ignorava todas as interrogações acerca da misteriosa vida de Lauren, contentava-se naquele momento em apenas estar ao seu lado.

No dia seguinte, Lauren acordou primeiro. Ficou ali perdida em seu encantamento observando Camila dormir tranquila. Uma avalanche de pensamentos a invadiu: sua vingança, a conversa com Sinueh Cabello, seu jugo diante de Alexa, e principalmente, o sentimento que nutria por Camila. Tão logo Camila despertou, Lauren beijou-lhe demoradamente, surpreendendo a latina que sorriu numa expressão de felicidade pura.

_Nossa... acordar assim é a melhor forma de todas... bom dia meu amor.

_Bom dia linda... dormi tão bem nos seus braços.

_Eu também... pena que temos aula daqui a pouco, se não ficaria o dia inteiro aqui abraçada com você.

_Mas temos que dar exemplo... toma banho comigo?

Camila saltou da cama e saiu puxando Lauren para o banheiro entre pequenos beijos nos lábios e bochechas. Não tiveram pressa. Lauren parecia sentir vergonha de seu corpo marcado. Camila, entretanto, fingiu ignorar aqueles machucados cobrindo a morena de carinho.

Na medida em que as carícias se tornavam mais quentes, Camila tentou tocar Lauren, que instintivamente fez expressão de dor, ainda ferida pelo sadismo de Alexa há dois dias. Percebendo isso, Camila tratou de abraçá-la ternamente e beijá-la com toda delicadeza, comovendo Lauren. Enquanto arrumavam-se para tomar café juntas, Lauren disse:

_Camz eu sei que você merece algumas explicações, e eu quero te contar o que houve naquela noite... almoça comigo? Assim podemos conversar com calma.

_Ai linda, tenho reunião do grupo de estudo no almoço. Podemos jantar juntas, o que acha?

_Claro, tudo bem...

Durante todo o dia, mesmo separadas em classes diferentes na universidade, Camila e Lauren permaneciam unidas: trocavam mensagens de texto apaixonadas pelo celular. A latina sentia apreensão e alívio por Lauren querer revelar o que a deixara naquele estado na noite de sábado. Lauren por outro lado, se perguntava o que fazer com as informações obtidas de Sinueh. Procurou então seu avô no horário de almoço. Trocaram um abraço demorado. O amor do Sr. Antônio pela neta era tocante.

Tratava-se de um cubano típico, alguns o chamavam de bruxo, mas na verdade Antônio Jauregui era um curandeiro em sua vila natal. Homem generoso, simples e honesto, que só se aventurou a viver como imigrante ilegal no EUA para cuidar de sua única neta, quando esta perdeu seu pai em um acidente.

Compartilhava com ela uma grande mágoa por Sinueh, uma vez que também testemunhou de perto o sofrimento da filha, que desde criança morava com a mãe americana no Texas.

Clara perdeu a mãe antes de entrar na universidade, apesar de não morar com o pai, tinha uma relação muito afetuosa e de confiança com ele. Antonio Jauregui e Elizabeth Morgado se conheceram em Cuba, onde a americana estava a trabalho, se apaixonaram e dessa paixão nasceu Clara. Antonio não queria deixar sua vila, assim passou grande parte de sua vida distante fisicamente da filha, mas nunca espiritualmente. O Sr. Antonio conhecia a neta como ninguém, notou a confusão que se instalara na alma de Lauren e antes que morena falasse qualquer coisa, se adiantou:

_Quero saber de tudo minha niña... o que aflige seu coração e nubla esses olhos?

_Mi abuelo...-Lauren falou com a voz embargada.

_Mi chica, fala-me tudo, enquanto lhe preparo um chá. Vai te ajudar a ver o melhor caminho, tenho certeza...

Lauren sentou-se na cozinha e começou a desabafar com seu avô tudo que Sinueh lhe revelara no dia anterior. Sr. Antonio escutava atentamente, até intervir.

_Querida, me diga o que você viu nos olhos dessa mulher?

_Vi pesar, vi mágoa... não tenho certeza abuelo, mas, em alguns momentos vi amor quando ela falava de mamacita.

_Se você já consegue enxergar amor, mi chica, é sinal que ele já tem espaço no teu coração, e isso me alegra muito...

_Não vim aqui para falar disso abuelo...

_Não precisa falar, está na sua alma, que para mim é tão transparente... você acha que ela pode estar falando a verdade?

_Como? Acha que mamacita é uma traidora? Que aplicou um golpe no meu pai? Não!

_Minha querida, tudo que sabemos foi o que sua mãe nos contou, não acompanhei essa fase da vida dela, ela apareceu na vila grávida de você, profundamente magoada, humilhada, acredito que a tristeza de sua alma a fez adoecer e a levou tão cedo de nós. Mas sempre existem dois lados numa história. Nunca incentivei para você continuar nesse plano de vingança porque sei o quanto isso envenenou seu coração, mas minha esperança era que nessa busca você encontrasse a verdade do seu passado e enfim se libertasse... por isso nunca a impedi de nada, a vida está te dando essa oportunidade. Lauren tomou o chá preparado, ficou pensativa, e lembrou-se de perguntar ao avô:

_Abuelo, como era mesmo o nome da amiga de Sinueh que mamacita a ouviu no banheiro falando aqueles absurdos?

_Não tenho certeza, mas tenho algo que pode lhe ajudar.

O Sr. Antonio voltou de seu quarto com um caderno de folhas amareladas, envolto numa fita azul de cetim, e entregou a Lauren. 

_O que é isso, abuelo?

_O diário de su madre...

_Ahm? Ela tinha um diário? Por que o senhor nunca me disse isso? O senhor o leu?; Lauren retrucou irritada.

_Por que não era o momento certo. E não, não o li. Os mortos sabem enviar sinais acerca de sua vontade, sei que a vontade de Clara era que seus segredos e pensamentos fossem revelados a você no momento certo...

Mistério parecia um traço genético para os Jauregui. Sr. Antonio demonstrava uma sabedoria peculiar, por isso Lauren respeitava tanto seu avô. A morena segurou aquele caderno velho como se fosse um grande tesouro, acomodou-o dentro de sua jaqueta, abraçou o avô e voltou para a mansão gama-tau, ansiosa para ler o conteúdo do diário de sua mãe.

Na mansão, colocou o diário sobre a cama experimentando o temor em abri-lo misturado à curiosidade em conhecer um pouco mais sobre sua mãe. No fundo, sua apreensão se devia ao fato de saber muito pouco sobre a própria mãe, e talvez Sinueh Cabello tivesse alguma razão sobre o que lhe revelara. No meio desse dilema, Camila entrou no quarto, envolvendo sua cintura por trás acintosamente:

_Morrendo de saudades de você meu amor... onde vamos jantar?

_Que susto Camz!!

_Nossa... eu bati antes de entrar, Lauren!! Porque você está assim tão tensa?

_Desculpa, nada demais... vamos então,estrear seu carro novo?

_Vamos!

-X-

Hey negões e negonas... Lolo achou o diário da tia Clara. Agora vai ficar bom mermo rsrs.

Apertem a estrelinha ae

SOCIEDADE SECRETA DAS LESBOSOnde histórias criam vida. Descubra agora