Ratos

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         Aquele homem de paletó negro se aproximava cautelosamente de mim como um assassino frio e sanguinário que persegue calmamente, lentamente sua vítima. Era como se tivesse esperado ansiosamente pela minha chegada.

         Eu pensava que entraria ali com o propósito de enfrentar meu medo e receio como já tinha pensado em fazer antes, mas eu estava nitidamente com medo. Muito medo. Não sabia o que estava planejado para aquela noite; não sabia o que Michael tinha em mente; não sabia o que todas aquelas pessoas esperavam encontrar ali.

           Olhei ao redor por alguns instantes e tinha tanta gente naquele local! Tantos homens de terno, engravatados, o colarinho dobrado perfeitamente! Tantas mulheres elegantes, de vestidos feitos de tecidos caros e finíssimos que andavam pelo cômodo, que eu então reconhecia ser a sala, acompanhadas pelos mesmos cavalheiros sobre os que já falei. E eu, como sempre, não estava à altura! Usava novamente uma calça jeans escura e camisa social, tantas dívidas a pagar e não me sobrara um tostão sequer para comprar um traje adequado.

           É claro! Eu podia ter pedido emprestado a qualquer uma das minhas amigas, mas não queria me passar por mais pobretona do que já era, pois via isso como uma humilhação!

           - Senhorita Wolfgang, fico feliz que tenha vindo. - Michael pronunciou - se assim que estávamos enfim frente a frente.

            Não pude evitar que o nervosismo me tomasse. Lauren ainda estava do meu lado, mas o que ela podia fazer por mim? Me abraçar e me beijar na frente do pai e de todos para me passar calma e confiança?! Com toda a certeza não! Ela não podia sequer pegar na minha mão para demonstrar que estava ali e que tudo iria ficar bem! Não! Ela não podia e isso me revoltava! Ali não passávamos de meras amigas como qualquer outra que tínhamos. Era como se alguém tivesse instalado um grande vidro entre nós: ouvíamos e víamos uma à outra; falávamos; trocávamos olhares discretos. Estávamos lado a lado, mas distantes. Não podíamos nos tocar, não podíamos ter momentos só nossos. Ali vivíamos em mundos completamente diferentes e isolados: ela no mundo dos demais presentes, e eu num mundo exterior dali, um mundo que para aqueles deveria ser sujo e podre, porque era o mundo daqueles mesmos empregados que os serviam em suas próprias casas, e ali mesmo na casa dos Jauregui.       

         Com muito custo fui capaz de vencer o efeito negativo que aquele homem estava causando em mim e repliquei:

         - Dei minha palavra de que viria, então aqui estou eu.

           Incrivelmente eu mantive um tom de voz firme, muito diferente de outras vezes em que tive que lhe dirigir a voz. Lauren pareceu satisfeita, mas o pai simplesmente me olhou com a mesma repugnância de sempre, comentando:

          - Igualmente insolente como o pai. - Sorriu escarnecedor para mim. Sorri de volta, mas por educação. - Venha, irei apresentá - la a algumas pessoas. - Se virou e começou a andar.


           Dei uma pequena olhada para Lauren que apenas forçou um sorriso como se pedisse desculpas. Não tive opção a não ser acompanhar o homem.     

          - Amigos! Quero apresentar - vos a senhorita (SeuNome) Wolfgang, filha do nosso velho e falecido amigo, Thomas Wolfgang. - Apresentou - me a um grupo de no mínimo cinco homens que pareciam não acreditar que eu era real, afinal o que estava acontecendo?

            Todos me cumprimentavam como se estivessem maravilhados com a minha presença. As mulheres me olhavam com... inveja? Não, não era possível. Eu não tinha nada do que se invejar - exceto por ter duas garotas lindas que matariam uma a outra por minha causa - mas elas, aquelas mulheres, eram todas tão mais belas do que eu, se vestiam tão melhor, tinham maridos ou pais ricos! Os homens pareciam me cobiçar, mas por que? Eu era um verdadeiro nada no meio daqueles que tinham tudo! Por que me olhavam daquele jeito?! 
  
           Apenas um senhor que aparentava estar por voltar dos seus 65 a 70 anos, me olhava de forma mais normal. Não vou mentir dizendo que ele não se espantou quando o Jauregui me apresentou a ele, mas ele me olhava não com olhos de inveja ou cobiça, mas como um amigo olharia para outro, no caso dele eu via um avô.

Lauren (Camren/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora