"Quereis que nos liguemos estreitamente a uma pessoa? Fazei-nos sofrer por ela" - Manuel Antonio de Almeida
#################################
Com as costas suada no colchão e a cabeça pesada sobre o travesseiro, eu ficava a fitar o teto branco do quarto. Tinha um termômetro debaixo do braço e uma compressa na testa, pois estava ardendo em febre. Sentia o suor escorrer pela meu rosto e um frio me percorrer o corpo, mas ainda assim, eu não conseguia tirar os olhos do pálido branco do teto. Me lembrava Lauren. Sabia que ainda usava o colar que ela tinha me dado, e me perguntei mentalmente se Camila havia reparado na noite anterior que eu estava com ele. Se tivesse reparado no objeto, talvez pensasse em me dar um semelhante para que eu usasse no lugar daquele e então carregasse uma lembrança de si comigo, ou talvez, se dando conta de que Lauren era uma parte em mim que eu dificilmente conseguiria tirar, me deixaria continuar usando o que Lauren me deu, mas poderia me dar um melhor que ofuscasse o outro. Não, Camila era dificilmente materialista, provavelmente sequer reparou na joia, pois se entregara por inteiro ao nosso momento para ter tempo de reparar em coisas ínfimas.
A via de perto, checando de hora em hora minha temperatura, arrumando a compressa no lugar com uma paciência de avó, se preocupando com cada movimento que eu fazia. No entanto, mesmo em meio a tantos cuidados, eu ouvia o que ela falava e sabia que ela estava ali, mas sei também que tive vários delírios durante a febre: não sei o que disse, o que murmurei, o que confessei, mas tenho certeza que soltei o nome de Lauren diversas vezes, pois, passada a febre, ao final da tarde daquele dia quando eu já estava um pouco melhor, Camila estava áspera comigo. Tinha o coração corroído.
- Aqui, se sente para comer, (SeuNome). – Camila disse colocando um prato fundo sobre a cama.
- O que é? – Falei enquanto me sentava e ela me ajudava a ajeitar o travesseiro atrás das costas com uma brutalidade que me assustou, pois suas mãos enfiavam o travesseiro atrás de mim e o apertavam com uma força descomunal. Além disso, a feição no rosto de Camila era duma seriedade com a qual eu não estava acostumada vindo da parte dela.
- Comida, então só coma. – Ela respondeu dando o prato na minha mão e saindo do quarto sem nada mais dizer.
Comi tentando, idiotamente, entender o que estava errado. Eu claramente não me lembrava das coisas que tinha dito durante a febre e não supunha que tivesse dito algo que a magoasse, até perguntar a ela o que eu havia feito de errado.
Ela voltou ao quarto e se sentou ao pé da cama enquanto eu ainda terminava de comer. Ficou a mexer nas próprias unhas e a olhar para as próprias mãos perdida em pensamentos aos quais eu não conhecia. Tinha o rosto calmo, embora me fosse impossível captar qualquer emoção ali, sabia que no fundo se sentia magoada com algo.
- Estava muito bom, obrigada Camila. – Falei ao terminar de comer e colocando o prato ao meu lado sobre a cama, no entanto, ela não respondeu. – Nem sei por qual razão fiquei mal desse jeito, devo ter pegado uma friagem.
Ela continuou calada e tão pensativa quanto antes. Me calei também, mas o silêncio era incômodo demais para mim naquele momento, sentia alguma necessidade estúpida de falar, de ouvir, de pensar em conjunto. Embora com algum cansaço e mal estar causado pela febre anterior, tentei me colocar ao lado dela o mais próximo que podia e, com muito custo e muito desajeitada, consegui chegar até ela e a envolver com meus braços. Eu esperava que ela se esquivasse e me empurrasse para longe de si, mas estava tão absorta em pensamentos que, provavelmente, não teve tempo para raciocinar que deveria me evitar.
A ouvi exalar uma respiração pesada, uma respiração que definitivamente mostrava que estava tensa, irritada e que eu tinha mesmo feito algo errado.
![](https://img.wattpad.com/cover/109495124-288-k515674.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lauren (Camren/You)
FanficQual é o limite do coração? Quão tênue é a linha que separa o sentimento da razão? Essas são perguntas que (SeuNome) não pode responder, por mais que procure a resposta. Porém, ela pôde experimentar a certeza de que "o coração tem razões que a própr...