Concupiscência

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 Quando algo não sai como você esperava...

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              Senti- me besta e inútil. Não soube exibir outra expressão de sentimento a não ser o ar estarrecido que me abateu. Não esperava por nada daquilo, tão especial e airoso. A pouca iluminação e o bruxulear das velas faziam tudo tomar um aspecto único, confortável e carregado duma sensação de romantismo.

           Sem saber o que dizer e sem conseguir mover um único músculo para me soltar dos braços de Lauren, fiquei a examinar a mesa, perfeitamente arrumada com copos, pratos e talheres. Lauren tinha se superado no sentido de me fazer sentir indigna de possuí- la.

             - Vem, vamos nos sentar. - Falou puxando o casaco que eu vestia para tirá - lo e pendurando - o depois  que livrei por completo meus braços dele.

            Me acompanhou até a mesa e, gentilmente, puxou a cadeira para que eu me sentasse.

           Murmurei um baixo obrigada enquanto ela se dirigia ao seu lugar no lado oposto da mesa, nos colocando uma de frente para a outra.
           Foi ela mesma quem nos serviu a comida que tinha preparado, com uma ajuda extra de Ally, para aquela noite. E, pouco a pouco, nos demos ao trabalho de degustar a refeição, num ritmoso e constante processo de mastigação que só era interrompido pela nossa conversa com poucas e moderadas palavras.

            - O que achou da comida? - Perguntou ela, antes de limpar, com peculiar delicadeza, os lábios com o guardanapo.

            - Excelente. É a única e mais adequada palavra para descrevê - la. - Respondi com um sincero, mas contido, sorriso.

            Lauren sorriu também, satisfeita e orgulhosa, com os olhos brilhando de contentamento.

            Eu, que ainda não havia terminado de comer, ouvia - a, com demasiada atenção, e, procurava manter meus olhos sobre ela, o máximo de tempo que me fosse possível. Queria confirmar a certeza e fazer esvair o resto das minhas dúvidas sobre o estado de espírito em que ela se encontrava. Já não via em seu rosto, a sombra do abatimento que naquele mesmo dia tinha visto mais cedo, e que já a vinha perseguindo e invadindo nos últimos meses.

             E era incrível como uma conversa entre a gente rendia tanto. Era um sensação prazerosa ouvir e tentar entender Lauren, tanto quanto, vê - la disposta a me ouvir e compreender. Ela começou falando da faculdade, depois de como estava sua família, e espontaneamente, o rumo da conversação tomava contornos variados: passávamos dos amigos a temas mais cultos, a entretenimento. Chegamos a falar até mesmo sobre religião, política e sobre literatura.

             Num instante, um silêncio pairou sobre nós. Até então, eu já tinha acabado minha refeição, e não tirava mais meus olhos do ponto fixo em que se mantinham: Lauren. Estava, como sempre, muito bonita e elegante, mas eu não gastava minha atenção com os adornos que a revestia, mas aos atributos que a natureza lhe deu: a pele alva, os lábios delineados e macios, os olhos verdes e cativantes, as curvas perfeitas... E pensava que eu tinha muita sorte por ter uma mulher como aquela: invejável e desejável.

            O que quebrou o silêncio entre nós, foi o vento que entrou pela janela que estava aberta, e me fez encolher de frio. Ainda chovia. Os pingos grossos da chuva começavam a fazer ruído sobre as telhas da casa, sinal de que ela estava ficando mais forte e pesada. Vez ou outra, um trovão era ouvido e um clarão de relâmpago se manifestava do lado de fora.

Lauren (Camren/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora