Óbvio

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"I never drink intoxicants, Theodorus. I like to experience life in all its agonizing glory. I don't want to dull the sensation for a second". - Callisto
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         Era pouco mais de onze horas e eu estava aflita, ainda não tinha tomado nenhuma resolução e tinha menos de uma hora para decidir qualquer coisa.

         Ponderava que, por um lado - sendo este deveria sobressair às minhas emoções - não havia melhor remédio: eu deveria, impensavelmente, terminar tudo com Lauren, cortar todas as relações com ela, porque caso contrário, estaríamos em grande perigo, pois via que a maldade de Michael não tinha limite - creio que se lhe dessem o poder de ocupar o lugar do diabo só para me infernizar e destruir tudo que eu sonhara e amara, ele não pensaria duas vezes em aceitar. Por fim, eu olhava um outro ponto: se eu a perdoasse e aceitasse continuar com ela às escondidas, poderia até ser que pudéssemos conseguir contornar nossa situação conturbada, o problema era que sempre haveriam lembranças desse tempo infeliz, eu iria lembrar e me sentir magoada, iria nutrir uma espécie de ciúmes praticamente incontrolável por saber que ela estava passando tempo com o outro porque precisava atuar perante a sociedade, e viriam as indiretas e os arrependimentos de ambas as partes, e nós discutiríamos e ela iria chorar e eu pedir perdão como sempre; e então, tudo acabaria por se repetir de novo, de novo e de novo: as indiretas, os aborrecimentos, as brigas, as lembranças. Tudo soava como um caso perdido.

         - Não, não vou. - Eu concluía com tal resolução que chegara a ignorar a hora.

          No entanto, eu voltava a raciocinar sobre aquilo e pensava que estava sendo injusta com Lauren. Ela não tinha culpa... Compreendo que ela podia ter me dito, no entanto, eu, em vez de só querer saber se ela estava me traindo ou não, deveria ter procurado entender o porquê de ela ter andado tão estranha, estava tão cega de ciúmes que sequer me passou pela cabeça que Michael pudesse estar investindo em alguma coisa contra a gente... Me descuidei, só soube julgá - la cegamente enquanto estavam tramando contra nossa felicidade. No fim, eu começava a enxergar que ela realmente não tinha culpa: Michael a fez se afastar, deveria tê - la privado de sair, e com a ausência dela, eu provavelmente ficaria a desconfiar, principalmente, porque ela provavelmente era obrigada a se calar, e talvez o fizesse de pura e espontânea vontade para não me afligir ou achando que estava me protegendo; talvez Michael tivesse usado da violência para forçá - la a aquilo e eu a deixei passando por tudo sozinha! Mas eu também me afligia preocupada por nós.

         Além do mais, ela tinha reafirmado que não tinha me traído, o que significava que ela realmente não tinha e nem queria ter nada com aquele Ty, mas eu estava tão cega de raiva que ignorei tudo o que ela disse, só agora começava a pensar direito. Por fim, era mais que óbvio que para Michael ter falado daquela forma na frente daquelas pessoas era porque tudo já estava devidamente planejado, articulado. Ele sabia que eu ficaria escrava do meu ciúmes louco e doentio e descontaria toda a minha ira sobre Lauren ao ponto de terminarmos.

          "Quinze para as onze. Não vou chegar a tempo.", disse para mim mesma enquanto entrava no carro. Nunca o caminho até a nossa casa me pareceu tão longo.     

          Eu acabava de sucumbir aos desejos do meu coração, Albert. Tinha passado o ano todo aos pés daquela garota, idolatrando - a como uma deusa e amando - a incondicionalmente, não iria perdê - la agora. Devo soar patética exatamente como Dinah havia dito, mas se amar Lauren era isso, que me cuspissem na cara o quanto eu era imutavelmente patética.

Lauren (Camren/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora