Encontro (Parte 2)

417 53 19
                                    

      
       Estava um pouco ansiosa, ou melhor, nervosa de entrar na casa. Tinha medo de que Lauren tivesse se enganado sobre a saída do pai da cidade, ou que ele tivesse voltado mais cedo para casa e ela ainda não o soubesse, ou que ainda, ele chegasse de repente enquanto eu estivesse por lá. Eu podia recuar, mas não queria, tinha vergonha de parecer, como sempre pareci e fui, uma fracassada e covarde. Enquanto Troy ainda estacionava o carro próximo à calçada em frente à casa, Lauren me guiava para dentro.

        Minhas mãos suavam de nervoso e estavam gélidas. A cada passo eu só ficava mais alvoroçada.

        Entramos diretamente na sala de estar, uma sala espaçosa, clara e iluminada, composta por estofados, mesa de centro, uma televisão enorme, e tudo aparentava ser da mais fina e melhor qualidade. Aliás, a organização e limpeza do local também eram impecáveis.

       - Pode se sentar, (SeuNome). - Lauren apontou para o sofá onde me sentei cuidadosamente com medo de estragá - lo. Tanto cuidado para nada! Porque era óbvio que iria ficar marcado onde eu me sentasse. Deixe de ser tão tosca, (SeuNome)!

        Uma mulher apareceu na sala. Eu já a tinha visto antes e era ninguém menos do que a mãe de Lauren. Me encolhi no sofá, se pudesse teria me enfiado debaixo dele de tanta vergonha e medo que eu tinha de que ela não fosse com a minha cara, de que me odiasse tanto quanto o esposo. Para a minha sorte, Ally e Troy acabavam de entrar, o que desviou toda a atenção da mulher para os dois.

        Lauren havia sumido por alguns instantes. Eu estava lá, naquela sala gigante, quase morrendo e ela sumiu do nada! Quis matá - la, pois eu tinha certeza de que ela suspeitava de como eu estava nervosa com aquela situação.

      Após cumprimentar o casal já conhecido por ela, a mãe da garota direcionou - se para mim. Gelei, e devo ter ficado pálida também. Ela me analisou por alguns instantes, e  com certeza notou o meu nervosismo. Após silenciosa e detalhada análise, ela ergueu a voz em minha direção.

       - Senhorita Wolfgang. É bom recebê - la em nossa casa. Seja muito bem vinda. Sou Clara, a mãe de Lauren. - Estendeu sua mão amigavelmente e com um sorriso tímido estampado no rosto.

        Demorei a entender o que se passava. Clara não me repelia como fez o marido, não aparentava ter ódio ou nojo por mim.

        Lauren surgiu atrás da mãe e me dirigiu um olhar como se dissesse:" se mexa e diga alguma coisa!"

       Tive de sair da minha zona de conforto. Me levantei e apertei a mão da senhora à minha frente.

       - O prazer é todo meu, senhora Jauregui. Sou eu quem agradeço por me receber em sua casa. - Disse com a voz um pouco trêmula e não tão alto, mas ainda assim ela captou tudo o que eu disse.

        - Sem senhora, por favor. Me chame apenas de Clara. - Sorriu cordialmente.

        Apenas assenti também sorrindo. Vi Lauren sorrir também, sendo acompanhada por Ally e Troy. Eu não sabia o que estava planejado para aquela ocasião, mas eu ainda, apenas rezava arduamente para que Michael não chegasse.

       Nos sentamos todos na sala. Até Clara ficou entre nós. O que fazíamos ali? Não era nada mais do que um passatempo, uma visita que a gente sempre recebe em casa aos domingos para conversar um pouco, falar sobre a vida alheia, assuntos políticos, e até sobre o tempo!

       Verdade é que eu apenas ouvia. Ouvia e assistia. Os demais conversavam sobre assuntos aleatórios, aos quais eu mal prestava atenção.

       Eu só via Lauren naquele momento.

       "Goethe escreveu um dia que a linha vertical é a lei da inteligência humana. Pode dizer - se, do mesmo modo, que a linha curva é a lei da graça feminil", já dizia Machado de Assis no seu romance, Helena. E era isso o que eu via em Lauren. Eu apenas a via de perfil, e contemplava a sinuosidade do corpo da garota. O busto que se curvava a cada vez que ela se mexia, a contração do abdômen cada vez que ela inspirava ou expirava o ar de seus pulmões, o sorriso torto em que seus lábios se curvavam junto com a linha dos olhos e da bochecha. Ela tinha um corpo escultural, claro que ainda apresentava algum desalinho fenotípico, porque até ela tinha as marcas do tempo no rosto, porque o preço da vida é a velhice; mas tanta graça, toda aquela sinuosidade do corpo da mulher formada e soberana lhe era atribuída e me prendia, me fazia vagar sobre ela.

Lauren (Camren/You)Onde histórias criam vida. Descubra agora