Não conseguia soltar o corpo de minha mãe. Sentei no chão e a puxei para o meu colo. Desejava tanto que ela acordasse... Mas não, ela não iria porque não estava apenas dormindo, estava verdadeiramente morta. Sequer notei quando Lauren começou a tomar as providências necessárias para uma ocasião como aquela, e tampouco me dei conta do tempo ou o que aconteceu enquanto eu continuava ali, em choque e destruída por ter perdido a minha mãe. Só pude me levantar de onde estava quando dois homens se aproximaram para retirar o corpo que jazia naquele chão frio da sala. Não relutei, não tentei impedi - los e nem chorei ou escandalizei para que a deixassem ficar, apenas me deixei ser conduzida à cozinha por Lauren enquanto aqueles homens - que reconheci ser do serviço de emergência - removiam a peça cadavérica do chão.
Me sentei numa cadeira junto à mesa, em silêncio. Não tinha qualquer noção de tempo, mal percebi quando os Cabello entraram na minha casa - provavelmente Lauren os tinha avisado, pois sabia que era o mais próximo que tínhamos de uma família na cidade. Quando comecei a prestar atenção nas coisas ao redor, encontrei diversos rostos conhecidos: além dos Cabello e Lauren, Dinah, Normani e Ally também estavam ali.E nessa hora eu soube que apesar de nossas desavenças, Dinah continuava a ser a mesma amiga que se preocupava comigo e se dedicava.
Vi Camila chorar, Sinuhe também derramou algumas lágrimas, e Alejandro estava visivelmente consternado. Os demais apenas mantinham uma expressão séria do respeito digno a um morto. Mas eu, eu não chorava Albert. Estava acabada por dentro, mas nenhum broto de lágrima emanou dos meus olhos. Tinha perdido minha mãe e não sabia como lidar com a perda; o certo, o mais viável e mais comum na hora seria chorar, mas eu não conseguia. Sentia minha garganta seca e dolorida, mas tinha vontade de falar, de falar e também de ouvir, por isso agradeci mentalmente quando Alejandro e Sinuhe se aproximaram de mim e me tiraram do estado de isolamento em que eu tinha me instalado.
- Nós sentimos muito, (SeuNome). - Alejandro falou apertando o meu ombro e apenas assenti com a cabeça sem encará - lo.
- Alejandro e eu vamos nos encarregar de providenciar as coisas para o enterro. - Sinuhe se pronunciou.
- Eu agradeço. - Respondi baixo, e honestamente eu não queria ter que providenciar um caixão para minha mãe, porque isso só aumentava mais a certeza de que eu não a teria mais vivendo comigo. - Preciso avisar o Manuel.
- Isso não será necessário. - Alejandro interveio - Nós já fizemos isso e ele já está a caminho junto com o Albert.
- E como ele está? - Questionei preocupada por saber que meu irmão sempre foi muito ligado com minha mãe, e provavelmente deveria ter ficado tão ou mais abalado quanto eu.
- Triste, como já era de se esperar. - Sinuhe argumentou complacente - Mas o ponto agora é você. Como está, (SeuNome)?
Perceptivelmente a mulher tinha percebido como eu não estava sabendo lidar com a realidade. Eu sabia como me sentia, mas não sabia como me expressar. Lembro quando meu pai morreu: eu chorei, eu chorei muito até não poder mais; mas agora, agora que era minha mãe quem me deixava, eu simplesmente não conseguia manifestar como eu estava me sentindo. E o fato de eu não chorar não significava que eu estava insensível e nem que eu estava tentando me fazer de forte, era apenas o fato de que minha forma de lidar com a morte pela segunda vez era totalmente diversa do esperado. Sentia, mas meus sentimentos eram invisíveis aos olhos dos demais, ou pelo menos, era um sofrimento diferente e contido apenas no silêncio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lauren (Camren/You)
FanfictionQual é o limite do coração? Quão tênue é a linha que separa o sentimento da razão? Essas são perguntas que (SeuNome) não pode responder, por mais que procure a resposta. Porém, ela pôde experimentar a certeza de que "o coração tem razões que a própr...