Capítulo 27

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— Jules, tu não é mais criança para agir desse jeito! — Bibi diz, com as mãos na cintura.

— Já disse, não quero falar com ele!

Julianne!

— Não vou ir. E pronto!

— Se tu não for agora, eu vou te deixar sem tv, internet, celular e saídas nos finais de semana!

— Tu não pode fazer isso! — Jules rebate. — E também não pode me obrigar a uma coisa que não quero.

Bibi se aproxima dela batendo seus saltos.

— Jules... eu sei que tu tá em uma situação complicada, mas já faz semanas... — Bibi esforça-se para parecer tranquila. — E o Guilherme me liga toda a semana me perguntando quando tu vai ver ele ou fazer alguma coisa juntos, eu já tô cansada de inventar desculpas. Além disso, ele é o seu pai. Acha que deve ser tratado assim?

Jules fica muda, porque ela não sabe ao certo o que dizer. Ao mesmo tempo que sente raiva pelo pai ter pedido Victoria em casamento, também sente-se horrível por estar o ignorando há semanas. Talvez essa não fosse a melhor maneira de o castigar, isso só está fazendo com que ela se sinta ainda pior.

Ela revira os olhos.

— Tudo bem... eu vou.

— Faça a mochila. E chame um Uber — Bibi sai pela porta, sorrindo vitoriosa.

Sem paciência alguma, Jules soca algumas roupas extras dentro da mochila semi-pronta que sempre tem a mão.

É isso o que acontece quando se tem pais separados, acaba vivendo com uma malinha de stand-by, pois caso precisa "se mudar" de última hora, já está pronta. Sem contar que sempre rola aquele clássico dilema de: "Com quem eu vou passar as festas de final de ano?" ou quando tem que contar sobre a sua vida duas vezes: como anda a escola, quais os planos, o que faz na semana, o que sente.... o pior de tudo é quando o pai e mãe resolvem fazer perguntas sobre o outro por intermédio de Jules, quando na real seria muito mais fácil pegar o telefone e se falarem.

Esses sãos os dramas que só quem tem pais separados entende.

Com uma cara não muito satisfeita, Jules acena para Bibi de dentro do veículo e começa a rumar até casa do pai.

Depois de semanas o ignorando, talvez Guilherme nem suspeitasse de que Jules fosse vir esse final de semana, então para amenizar a situação que criou, quando encontra a porta entreaberto, entra de mansinho para fazer uma surpresa. Ela caminha ao redor da casa, o procurando, mas começa a sentir cheiro de nicotina vindo da rua.

Fala sério!

Ela não esperava que o fosse encontrar fumando. Fazia tanto tempo que ele não tinha vícios, a última vez foi quando era criança.

Será que tem alguma coisa o perturbando?

Ou melhor, seria ela que também tinha contribuído a isso?

Ela se esconde não sabendo se aparece ou não, mas tem a impressão de que ele acabará pressentindo a sua presença.

— Pai...

Guilherme olha na direção da filha e abre um sorriso.

— Oi, meu amor.

Jules se aproxima dele enquanto dá a última tragada e joga o cigarro longe. Ela o abraça apertado sentindo saudade e um tanto decepcionada. 

O pai deposita um beijo na sua testa.

— Hum... Arrumou um tempo pra mim, hein? — ele encosta a bochecha na sua cabeça.

Duplamente Inesperado 2Onde histórias criam vida. Descubra agora