Capítulo 4

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Nesses três meses que se passaram desde que Jules chegou a França, notou muitas coisas estranhas acontecerem, porém nada é tão estranho do que começar o ano letivo escolar em setembro. O choque de cultura está refletindo no seu calendário habitual desde o segundo em que colocou os pés em Paris. Enquanto no Brasil, todos estão no hemisfério sul sob o inverno, Paris é abraçada por um sol e clima de veraneio, a cidade está tomada por turistas de todos os arredores do mundo e talvez seja a época do ano em que mais recebe visitantes.

Mas o fato é, hoje é o seu primeiro dia de aula. Se ela está nervosa? Com certeza! Ainda mais que não conhece uma alma viva nessa França. A boa notícia é que graças aos seus estudos no Brasil, a sua presença em algumas aulas serão mais como um reforço ou tirar dúvidas, pelo menos nesse primeiro semestre, pois teve as suas notas brasileiras aprovadas pela Lord Baudin. Exceto: francês, música e tecnologia, ela estará dispensada das demais aulas para caso queira participar de projetos escolares ao longo do semestre.

Na França, o Ensino Médio é chamado de lycée, nesse currículo escolar são propostos dois tipos de lycée: Ensino médio geral e tecnológico ou o Ensino Médio Profissional. Este último permite que o adolescente escolha entre continuar seus estudos ou se inserir no mercado de trabalho no seu último ano. Nesse mesmo currículo, o último ano do lycée, os alunos passam por uma prova equivalente ao vestibular, o baccalauréat, que permite a entrada no ensino superior. As provas são divididas em áreas de estudo e cada estudante faz a prova relativa à área que deseja prosseguir os seus estudos.

E como Jules não sabe nem se estará viva na manhã seguinte, irá fazer o Ensino Médio geral, pois coisa que ela mais tem dificuldade é tomar decisões que envolvem o seu futuro.

Fazendo o percurso até a Lord Baudin, Jules crava as unhas pretas sob o tecido fino da mochila, olhando através do vidro da janela. Nunca esteve tão nervosa em toda a sua vida. Se ela soubesse ao menos o básico do idioma, não estaria tão insegura, mas ela mal consegue formar uma frase sozinha; embora já tenha se passado quase dois meses desde a sua chegada, é assustador ainda não ter um domínio básico, tem esperança de que com o início do ano letivo, consiga desenvolver suas habilidades linguísticas.

Seu pai disponibilizou um carro escuro para a levar até a escola, todos os dias. Hoje é somente o primeiro dia de muitos que virão.

Assim que o veículo estaciona em frente à escola, Jules desce com o cenho franzido. Isso não parece uma escola e sim a faixada de um museu! Fica exatamente em uma esquina e as paredes são brancas, isso de longe se parece com uma escola, está mais para um prédio comercial. Porém, a placa escrita “Lord Baudin”, contradiz totalmente a sua primeira impressão.

Que diabos de escola se parece com um museu?

Jules abre a porta principal e se depara com um corredor vazio, começa a dar pequenos passos em direção a saída de luz e a primeira direção que o corredor a leva é um grande pátio, no qual, muitos estudantes estão espalhados sobre o gramado verde. Ela paralisa alguns instantes observando o local e tem a impressão de que atrai todos ou — quase todos — os olhares para si.

Assim que se encosta no pilar, percebe que começou o primeiro dia de aula cometendo gafes. A primeiras delas é: Todas as meninas usam bolsas, somente os meninos usam mochilas pretas. A segunda é: Todos estão usando tênis da Adidas ou Nike nas cores brancas e pretas, como se fosse estabelecido um padrão fashion, na qual todos seguem fielmente, isso é: nenhum em exceção. Terceiro: Calça na canela, na cor preta. Sim! Todos usam calça preta só que até as canelas.

Será que é alguma tendência aqui em Paris? O que essa gente veste no inverno?

Pra começar, ela veste um coturno preto de spyke, jeans preto, camiseta do Metálica e uma mochila preta jogada nas costas com detalhes de caveiras, ou seja, ela está completamente fora dos padrões impostos pela “cultura francesa” e por isso, ela está atraindo olhares para si. Só falta escrever um aviso dizendo: “sou brasileira” e colar na testa para que todos vejam que é uma estrangeira na Lord Baudin!

Duplamente Inesperado 2Onde histórias criam vida. Descubra agora