Capítulo 6

12K 1.2K 68
                                    


"Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo por que digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora. "
Morangos Mofados, conto Luz e Sombra - Caio Fernando Abreu

Tudo, absolutamente tudo tem consequências, sejam elas boas ou ruins. No momento do ódio, da raiva você age por impulso, sem ao menos pensar que aquilo pode custar a sua vida. Eu não me arrependo, faria tudo novamente, porém aqueles foram os piores dias da minha vida.

Aos poucos recobrei a consciência sentindo-me fraca, estava amarrada pelos pulsos por uma corrente de ferro fincada no teto. A única coisa que lembrava era de Dom vindo em minha direção e batendo em minha cabeça, fazendo com que desmaiasse no mesmo instante.

Não vi ninguém naquele cômodo. Onde ele estaria? Será que matou aquela menina? Provavelmente sim. A única coisa que via era aquela maldita mesa e um barril de água, que nunca havia visto. Senti uma luz forte em meus olhos, a porta havia sido aberta.

Minha visão estava um pouco embaçada, mas consegui ver dois capangas de Dom na porta.

- Pensei que você nunca iria acordar. Mesmo que isso fosse algo interessante, te ver sofrer será bem melhor - Dom finalmente apareceu.

Tentei responder, mas minha boca estava seca e a fraqueza dominava todo o meu corpo.

- Aproveitamos que você desmaiou e te demos um remedinho que te fez dormir durante horas. Acredito que tenha se acalmado e que possa repensar sobre seus atos - ele continuou vindo em minha direção.

Dom parou a minha frente e me olhou sorrindo, aproveitando a cena como se fosse a mais divertida de sua vida.

- Começa... logo - disse, totalmente sem forças.

- Você ainda tem coragem de me afrontar neste estado, garota? Quem decide quando acontece sou eu - ele disse sério.

Olhei em seus olhos tentando transmitir todo o ódio que sentia naquele momento, mas isso pareceu apenas o divertir mais.

- Acredito que esteja com sede não é mesmo? Fome? - ele disse ao ir em direção a mesa e pegar um copo de água - Você quer ?

Ao dizer isso jogou o copo em meu rosto. Senti pequenos cortes por toda a minha face, alguns na testa, bochechas e um mais profundo nos lábios. A dor começou naquele instante e logo senti gosto de sangue.

Ele não esboçou nenhuma reação, nem pena, muito menos compaixão. Nem mesmo pela sua própria filha.

- Soltem-na - Ele disse aos homens.

Fui tirada da corrente e arrastada em direção ao tanque que tinha visto anteriormente. Minhas mãos foram amarradas para trás e vi Dom se aproximar novamente.

Fui colocada em frente ao tangue.

- Que tal lavar seus machucados, querida?

Ao dizer isto Dom puxou-me pelos cabelos e antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa minha cabeça foi enfiada para dentro do tangue de água. No começo as dores dos cortes se intensificaram. A dor me deixava zonza, mas logo comecei a entrar em desespero. Eu precisava de ar, senti meu nariz queimando e água entrava por minha boca.

Dom me puxou novamente pelos cabelos, retirando minha cabeça da água. Busquei por ar desesperadamente e logo comecei a tossir tentando pôr para fora toda a água que ingeri.

- Monstro... - tentei gritar, mas saiu como um sussurro.

Minha cabeça foi direto para o tangue novamente. Por que ele não me matava de uma vez?
Comecei a me debater, estava me afogando. Senti a água entrando pelo meu nariz novamente e comecei a me sentir mais leve, até que perdi a consciência.

A morte era o que mais queria naquele momento, mas eu sabia que ele queria mais, morte seria muito fácil.

Acordei novamente pendurada naquela corrente, meus pulsos doíam. Dom estava em minha frente me observando atentamente.

- Pensou que ia deixar você morrer tão fácil assim, querida!? Ainda temos muita diversão pela frente...

Fui colocada amarrada em uma cadeira por seus capangas. Dom foi em direção a mesa e pareceu escolher qual arma utilizaria.

- Sabe, tem um instrumento aqui que não uso a muito tempo. Seria perfeito para esta ocasião - ele disse.

Estava de cabeça abaixada, a fome e as dores não permitiam que eu tentasse algo. De repente fui atingida por algo que conduzia uma corrente elétrica por todo meu corpo. Voltei a ficar em alerta automaticamente, sentia como se estivesse sendo queimada por dentro. A dor que se iniciou em minha perna logo estava por todo meu corpo. Não conseguia me movimentar e em poucos instantes sinto que estava a ter uma parada respiratória, de repente tudo para e todos meus músculos relaxam.

Todo meu corpo doía, não tinha forças nem ao menos para olhar para aquele homem. Tudo que escutei foi sua risada que parecia ecoar por todo o ambiente. Ele fez um sinal para seus homens e estes me soltam da cadeira no mesmo instante.

Fui deixada no chão como se fosse um animal infectado. Alguém aproximou suas mãos em meu pescoço e me levantou. Deparei-me com os olhos negros de Dom, este não segurou com uma força capaz de me matar, porém tinha total controle sobre mim.

- Existe cinco leis na Cerca Potere. A maioria você já conhece, mas acho que terei que te apresentar a elas novamente. A primeira é o código do silêncio, nada que ocorrer que possua relação com a máfia deve ser falado - fui atingida com um chute no estômago.

Meu corpo foi impulsionado para frente após isso.

- A segunda, obediência ao chefe. Eu sou seu dono, você nunca deve me questionar ou as minhas decisões.

Senti um soco em meu rosto, cai imediatamente no chão. Meu nariz começou a sangrar e vi minhas mãos encharcadas por aquele líquido vermelho.

- A terceira é a lei do apoio, você deve ajudar todos os membros de nossa máfia, não importa a sua posição.

Ele veio andando em minha direção e fui atingida com um chute em minha costela. Meus gemidos de dor foram ouvidos por todos.

- A quarta, nunca se deve ter contato com as autoridades, até nossos aliados do governo são nossos inimigos e não são dignos de confiança.

Desta vez ele aproveitou que estava tentando me levantar e pisou fortemente em uma das minhas mãos.

- A quinta lei é a mais importante, então preste bastante atenção, Luna – disse segurando meu rosto.

Se levantou e foi em direção à mesa e pegou uma faca. Comecei a entrar em desespero.

- Qualquer ação contra nossa máfia deve ser vingada, um ataque contra um é um ataque contra todos. Não importa quem você seja, iremos te procurar até o fim deste mundo.

Ele abaixou-se até mim. Meu corpo congelou.

- E você terá que pagar por seus erros - colocou a faca rente à pele de minha perna direita.

- Só não te mato porque você é boa demais, mas a minha vontade era te enterrar viva, garota - ele disse - Mas farei você nunca esquecer este dia e para isso você terá não apenas as lembranças em sua memória, mas também será marcada em sua própria pele.

Ao cravar aquela faca em minha perna gritava alto, porém não me movia. Minutos depois ele se levantou e disse algo para seus homens. A dor consumiu meu corpo, mas além dela meu ódio, meu desejo por vingança.

Olhei para minha perna e consegui ver embaixo de todo aquele sangue as letras que me marcariam para o resto de minha vida.

C. P. - CERCA POTERE.

********

Oii pessoas, o que acharam do capítulo?
Não se esqueçam de votar, caso tenham gostado.
Bjs ❤

VendettaOnde histórias criam vida. Descubra agora