Décimo Primeiro.

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Rainer não conseguia mais se concentrar. Estava naquela fortaleza a uns quatro dias. Deixara o palácio de Hofburg para se proteger; claro que ele não era o principal alvo, e sim, Luísa, mas ele também era importante. Ele era o kaiser da Áustria, e se recusava cada dia mais a ter que deixar o trono para sua filha. Uma mulher! Uma mulher, governando uma grande potência como a Áustria! Iria destruí-la em dois tempos.

Luísa nunca foi criada para governar um país. Ensinaram sim, uma coisinha aqui, outra ali, mas ninguém nunca pensou que aconteceria algo de verdade com Vagner. O fato é: faltavam seis meses para sua filha mais velha assumir o trono. E ele preferia estar morto, do que ver aquilo.

Isto é um equívoco!

E o pior!, ninguém o entendia. Charlotte, sua própria mulher, resolveu ajudar Luísa, ao tentar entender Rainer. Ele não entendia o que tinha demais em sua opinião. Era a sua opinião. Luísa era jovem, frágil e alvo de muitos reis, imperadores e príncipes. Cairia facilmente em uma armadilha.

Mas ele estaria lá. Ele estaria lá para ver sua filha caindo nesta armadilha, e poder afirmar o que sempre disse.

Que Luísa era incapaz de assumir o trono.

Luísa e as gêmeas conversavam animadamente, e comemoravam o fato de que a mãe delas ainda não tinha aparecido para levar a mais velha a uma de suas muitas aulas.

- Podemos andar a cavalo hoje, o que acham?

- Pra mim é ótimo, porque assim a gente consegue se distrair um pouco de todas essas ocupações. - Clarissa respondeu.


Porém, elas não viram que sua mãe estava vindo e Charlotte nem se preocupou em acabar com a comemoração das irmãs.

- Vamos, Luísa? - chamou.

- Para onde?

- Como assim, para onde? Para onde você vai todos os dias. - respondeu como se fosse óbvio.

- Mas... Eu pensei que hoje não teria essas aulas, aliás, hoje é domingo. - lembrou a arquiduquesa.

- Eu sei. Você não terá aulas com o chanceler e seu guarda, mas comigo sim. Ande, vamos. - virou-se e Luísa se despediu das irmãs mais novas, deixando Coco com elas.

- Mama, isso é uma grande injustiça. Hoje é domingo! Eu merecia pelo menos uma folga! - bufou.

- Acho que você está se esquecendo que daqui seis meses você governará tudo isso. - respondeu, tranquilamente.

- Não, mama, eu não esqueci, mas... - Charlotte a corta.

- Então, pronto. Respeite sua mutter, não quero saber de mais insinuações. - Luísa bufou, injustiçada.

As duas caminharam em silêncio até a sala de leitura, chegando rapidamente. Charlotte abriu as cortinas revelando a grande nevasca que caía. Luísa esticou os dedos, como se pudesse aquecer suas mãos envoltas nas luvas pretas de couro e sentou na cadeira, onde sempre se sentava, de frente a mesa de madeira.

- Hoje, iremos aprender somente algumas curiosidades. Você sabe por que seu papa demora tanto a comer?

- Nein. Ele realmente demora muito, ele conversa bastante não é?

- Sim, ele conversa tanto assim, porque a partir do momento que um rei ou um kaiser termina de comer, todos devem parar também. - a arquiduquesa ergueu a sobrancelha.

- Nossa. - se limitou a dizer isso.

Sylvia bordava rapidamente, sem medo de se furar enquanto via Sophie andar de um lado para o outro. Já impaciente, resolveu questionar a irmã.

- O que houve, Sophie? Está há quase meia hora andando em círculos. Daqui há um tempo irá abrir um buraco no chão! - reclamou, voltando a atenção para o bordado inacabado.

- Eu odeio esse lugar, Sylvia! É isso que está acontecendo! - exclamou, enfurecida. Não era novidade para ninguém que Sophie não estava aguentando aquele local, mas ela sabia fingir bem. - Nunca mais vi minhas amigas e parece que aqui faz mais frio do que na Áustria inteira! E tudo por culpa de Luísa!

Sylvia largou o bordado e ergueu o olhar para encarar a irmã. Era verídico aquilo que escutara?

- Isso não é culpa de Luísa, Sophie. Você realmente acha que se ela quisesse, estaríamos aqui?

- Sim, acho! Luísa só pensa nela! E toda essa atenção que ela recebe... Para quê? Qual a finalidade disto? Ela é a culpada de tudo isso que estamos vivendo! - gritou, e Sylvia se assustou com toda a ira que Sophie exalava.

- Nein, Sophie. Você está errada. E por que está tão enraivecida? Nem nossa mama está! Agora percebo o erro que cometi durante todo esse tempo, Luísa deve estar totalmente sozinha, e eu aqui a culpando por um motivo que ele nunca teve culpa de nada! - levantou-se e Sophie estranhou o comportamento da irmã. Nunca achou que ela fosse capaz de não concordar com o que ela fala. Era totalmente inédito.

- Você não pode me deixar sozinha! - reclamou.

- Posso e vou. Todo esse tempo, deixei Luísa sem minha ajuda e você que nada sofreu, está aí, se lastimando sem motivo! - Sophie arregalou os olhos.

- Estou sofrendo, sim! Perdi meu irmão! - gritou.

- Vagner não era só seu irmão! Era meu, de Luísa e das gêmeas, também! Pare de ser tão egoísta, Sophie, pelo amor de gott. - deu as costas e saiu do quarto em direção ao de Luísa.

Sophie respirou ofegante. Ela estava irada. Passeou os olhos pelo o quarto e viu um vaso azul, caminhou até ele e o jogou na parede do quarto, sem dó nem piedade.

Inês, uma das damas de companhia da arquiduquesa, saiu de dentro do quarto de roupas e veio assustada, saber o que era.

- Você está bem, Alteza? O que aconteceu aqui? - questionou, olhando para o vaso quebrado.

- Não interessa, Inês. Saia daqui, estou sem paciência para nada! - apontou para a porta.

- Mas, Alteza... - tentou.

- Você é surda? Saia já daqui! - gritou, deixando Inês ainda mais assustada.

A dama saiu correndo do quarto, e deixou Sophie lá dentro quebrando mais vidros e desarrumando a colcha da cama.

Sylvia conseguia escutar do lado de fora, todo o acesso de fúria da irmã, mas ainda não conseguia entender o porquê de toda essa ira. Só havia falado a verdade!

Caminhou pelo o terceiro andar da fortaleza, onde ficavam todos os cômodos da Família Real e foi até o segundo quarto, que era o de Luísa. Sylvia esperou o guarda bater na porta e logo Barbara apareceu.

- Posso ajudá-la, Alteza? - a dama questionou.

- Luísa está aí, Barbara?

- Sim, está. Gostaria de entrar?

Sylvia balançou a cabeça, afirmando, e Barbara abriu mais a porta, deixando ela entrar.

Luísa estava conversando com Manuela, e franziu o cenho quando viu Sylvia, afinal, desde que elas chegaram naquele Palácio que Natália, Sophie e ela se voltaram contra a garota.

- Podemos conversar, Luísa?

Uma Imperatriz em Mim [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora