Décimo Quinto.

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Quatro dias depois...

14 de março de 1673,

Querida Alice,

Tanto tempo se passara desde nossa última carta! Como foi o aniversário do Menino Jesus aí na Bélgica? Aqui foi um pouco estranho, pois papa não crê mais em Deus, desde que Vagner falecera. No entanto, eu, Sylvia e as gêmeas cumprimos nossas tradições de Natal; indo à missa as 6:00 da manhã, enchendo botas vermelhas de doces e cavalgando bastante.

Oh, quase me esqueci!  Feliz 21 anos para você. Oficialmente, temos 21 e 19 anos!

Alice, desculpe a caligrafia arrastada, mas estou dentro da carruagem neste momento quase chegando ao Palácio onde viverei. Acreditas que não me lembro de Schönbrunn?  Também, pudera. A última vez que fui lá, tinha 4 anos. Me lembro que era para nós morarmos lá, mas papa odeia aquele Palácio. Não sei como irá ficar comigo até ele fazer  50 anos. Mein gott, faltam 6 dias para minha coroação.

Mas, será que você pode me tirar uma dúvida? Ouvi esse mês que você iria se casar. É verídico?

Amorosamente,
Maria Luísa W. A. C. de Habsburgo.

A carruagem parou e Luísa sentiu um aperto no coração. Estava naquela carruagem há 4 dias, com exceção de alguns horários que pararam para todos poderem comer. E agora, que ela havia parado significava que já tinha chegado a seu destino final.

- Alteza? — o cocheiro bateu na porta da carruagem e a abriu. — Chegamos a Schönbrunn.

Luísa ajeitou a saia do vestido, e pegou a mão do cocheiro que estava estendida em um gesto singelo de educação.

- Obrigada. — agradeceu, sorrindo e o homem sorriu também.

- É lindo. — Anton apareceu subitamente, com Luísa virando-se para ele, e em seguida, completou. — O Palácio.

Luísa reacendeu sua onda de curiosidade e começou a caminhar, sendo parada pelo o homem ao seu lado.

- Devemos esperar o kaiser e a kaiserin descerem. — falou, e a garota ficou confusa.

- Mas, eles ainda não desceram? O normal é eles serem os primeiros a descerem. São os primeiros a entrar, afinal. — concluiu e Anton fez um som de negação, fazendo Luísa cruzar os braços com um olhar interrogativo.

- Não hoje. A atenção de todos é em você. — afirmou e viu a moça na sua frente, arregalar os olhos.

- Eu? Todos? — questionou e Anton revirou os olhos.

- Às vezes eu acho que sua memória é falha. Você será a nova kaiserin da Áustria e todos querem te ver! Não está escutando? — a garota apurou os ouvidos e pôde escutar chamados por seu nome.

Sorriu alegre, e outro guarda falou que tudo estava pronto. Luísa ainda se questionava de como todas essas pessoas haviam entrado, já que seu papa não gostava de muita aproximação com a base da pirâmide que conduzia a sociedade austríaca.

A arquiduquesa viu suas irmãs e soltou um sorrisinho, mas muito pequeno. Ficou na frente, com Anton logo atrás dela, junto com mais 4 guardas para reforçarem a segurança da arquiduquesa e vinham atrás dela, respectivamente: Charlotte e Rainer, com uma fúria estampada em sua face, por ver sua filha em sua frente; Natália, com nojo de todas as pessoas que estavam na parte de fora do Palácio; Sophie, com uma ira monstruosa da irmã; Sylvia, que estava curiosa para saber como era Schönbrunn, pois nunca tinha ido e as gêmeas, Clarissa e Cecília que estavam um pouco incomodadas pela a alta atenção que sua irmã mais velha e (elas, é claro), receberiam.

Trombetas soaram e Luísa entendeu que era para começar a andar. Virou de frente a toda a passarela, conseguindo ver seu povo. E também via o Palácio de Schönbrunn. E como ele era lindo! Suas várias janelas, sua escadaria e seus jardins com flores vermelhas e brancas, simbolizando a bandeira austríaca. E o tom da cor pintada na frente do Palácio, ela bem sabia que era em homenagem aos Habsburgo. Um tom de amarelo, indo para o bege, mas que todos saberiam que aquilo era um amarelo. Sinceramente, não entendia como seu papa não gostava daquele Palácio.

Começou a andar e todos que estavam de naquele recinto prestaram atenção a sua nova kaiserin. E como gostaram dela. As faíscas de esperança, agora se tornaram chamas. Viam em Luísa, um futuro melhor para a Áustria. Para eles.

Uma mulher gritou e todos ovacionaram a arquiduquesa. Rainer olhou abismado e furioso por todas aquelas ovações não serem para ele. Ele era o Kaiser. Ele! Não Luísa. Não uma mulher. Era ele quem ainda governava aquele país com todas suas forças, com todo o resto de discernimento que lhe tinha. Ele!

Luísa esqueceu-se completamente do que sua mama dissera sobre usar seu ar de superior para com os pobres. Os desfavorecidos. Os que eram motivo de repulsa de Rainer e de Charlotte.

Sorriu abertamente, e aproximou-se um pouco — somente um pouco, pois não queria testar o gênio de sua mutter — acenando para todos.

O povo foi ao delírio. Nunca, nenhuma pessoa da Família Real tinha acenado para eles, por lhes julgarem pessoas nojentas, repugnantes e inescrupulosas. E aquela moça, que mais tarde seria a kaiserin, se mostrava tão simples quanto eles!

Luísa continuou acenando para todos, e o trajeto que parecia ser longo, foi feito em alguns minutos, logo estavam na escadaria. Todos haviam entrado, mas ela não. Ela continuava na escadaria e Anton estava se segurando para não puxá-la dali a força. O que ela estava pensando? Algo poderia lhe acontecer, e ela totalmente exposta.

Um homem gritou uma frase que foi bem ouvida por Luísa e por todos. Tanto que começaram a repetir.

- Gott salve a nossa futura kaiserin! Gott salve a nossa futura kaiserin! — a garota se emocionou com aquele sentimento de carinho.

Estava comprovado. Luísa amava seu povo. Amava-os demais para fazer qualquer coisa que lhes fizesse algum mal, por menor que fosse.

- Mas você viu, Manuela? Você escutou, Barbara? O povo gritou por mim! Pelo meu nome! — Luísa estava saltitante pelos corredores do Palácio.

Anton teve que verdadeiramente puxar Luísa a força, pois estava vendo que ela não sairia dali tão cedo.

Schönbrunn por dentro era ainda mais magnífico do que era por fora. Na entrada, havia pinturas no teto feitas por Michelangelo. E ao decorrer dos corredores, outras feitas por Sandro.

Além de lindo, Schönbrunn era um verdadeiro sinônimo de luxo e poder. Tudo que era dourado naquele Palácio era de ouro. O que significava que havia muito, muito ouro! Os lustres, cheios de castiçais, quase encostavam no chão, de tão grandes que eram. E as escadas. Ah, as escadas... O corrimão feito de ouro e os degraus, feitos de uma mistura de marfim branco com diamante, chamavam a atenção até do lado de fora.

O quarto andar, onde ficava somente a Suíte Imperial, que era a de Luísa, já estava arrumado a mais de uma semana. Tudo limpo e arrumado.

Finalmente, as três chegaram ao quarto andar e Barbara abriu a porta do quarto, deixando Luísa entrar para ela e Manuela passarem depois.

O queixo das três caíram. Havia ouro ali para dar e vender. Era muito luxuoso. Luísa abriu a boca e a tampou a boca, em sinônimo de surpresa.

- Eu nunca vi tanto ouro em toda minha vida! — exclamou, ainda maravilhada.

- Se você que é arquiduquesa está assim, imagine nós. — Manuela proferiu, embasbacada pela presença de tanto mineral.

Soltaram uma risadinha devido a resposta. Logo, algumas camareiras entraram com baús e mais baús das jóias, livros, utensílios quaisquer e os vestidos que irá usar até quando ainda for arquiduquesa. Organizaram-os rapidamente e saíram fazendo a reverência para Luísa.

A garota sentou-se em uma das poltronas que havia ali e apertou sua cruz, como se ela pudesse retirar todas as responsabilidades que ela terá daqui a quatro dias.

Uma Imperatriz em Mim [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora