Vigésimo.

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- Você tem certeza disso, Luísa? — Joachim passou as mãos pelo o cabelo, afobado.

- Nunca diria uma coisa dessas apenas para soltar uma brincadeira, chanceler. — respondeu, austera, o que fez o homem repensar quanto à suas palavras.

- Sim, claro, perdoe-me. — pediu, e Luísa assentiu. — Mas, você disse que estamos quase falidos, não totalmente. É isso mesmo?

Luísa organizou os papéis um tanto amarelados e tingidos por uma tinta preta, enquanto balançava a cabeça em afirmação.

- Sim. Estou menos preocupada por isso. Mas devemos achar algo para suprir essa deficiência do Estado. — respondeu. — E outra, também necessitamos de uma pessoa para ser responsável pelas finanças do Império.

- Mas isso sempre foi de responsabilidade do kaiser, Luísa. E ele sempre cuidou muito bem disso. — respondeu.

- Tão bem cuidou que nos encontramos nesta situação, não é, chanceler? — respondeu rudemente e percebeu o que havia dito no mesmo instante. — Desculpe. Mas, são tantas preocupações... E ainda há os franceses, oh mein gott, os franceses. — passou as mãos no rosto, tampando-o, em um gesto de puro cansaço.

Joachim entendeu, e percebeu que a moça estava quase caindo de tanto sono. Preocupou-se.

- Há quantos dias você não dorme, Luísa? — questionou, olhando para a face da kaiserin, preenchida de olheiras.

Luísa levantou a cabeça e o observou. Resolveu não mentir.

- Dois. — o homem arregalou os olhos.

- Como está se mantendo em pé? Deve estar morrendo de sono. — bradou, e Luísa sorriu, pedindo que não se preocupasse.

- Meu bem estar não é o mais importante agora, chanceler. Precisamos achar alguma forma de tirar o nosso país deste buraco. — levantou-se e quando o homem ia fazer o mesmo, fez um gesto para que continuasse sentado.

- Nós dois sabemos que a melhor decisão é aumentar os impostos. — disse, seriamente.

- Não, aumentar os impostos não! — voltou o olhar para ele. — Não sei como este povo paga o valor que é cobrado agora, imagine se aumentarmos. Não, isso não.

Joachim suspirou e Luísa voltou a se sentar, olhando diretamente para seu anel que recebera no dia da coroação. O chanceler procurava na cabeça outra solução, e a kaiserin se preocupava com os franceses.

- Já sei. Temos muitos países que nos devem. Muitas quantias, inclusive. Alguns, presumo que o antigo kaiser pensou em perdoá-las, mas acho que não deu tempo de chegar a isso. — a moça a sua frente, teve um brilho nos olhos.

Luísa puxou uma gaveta, e de lá tirou um papel, junto com uma pena e uma tinta.

- Quais são? — pôs-se a empunhar a pena em sua mão.

- A primeira é a Rússia, uma de nossas aliadas, e aposto que ela pagará. Nosso apoio é muito importante para ela. — Luísa começou a escrever. — Depois, vem Portugal, não sei se D. José irá pagar tão rápido assim. Ele era muito amigo do antigo kaiser, e estava em uma lista dos países que teriam a dívida perdoada.

- Todos nós sabemos que amizade e assuntos do trono não se misturam. Ele vai pagar essa dívida. Próximo? — colocou um asterisco no nome do país.

- Inglaterra. — a kaiserin arregalou os olhos — Sim, a Inglaterra. E já é de muito tempo. E a última é a Espanha. — terminou de anotar, rebuscando a letra e dobrando o papel.

- Devemos enviar uma carta, solicitando o pagamento? Ou seria melhor convocá-los para uma reunião? — questionou, indecisa.

- Por ora, mandamos somente uma carta, lembrando-os do pagamento. Depois, se não for efetivado, convocamos os que não pagaram. — respondeu, e Luísa assentiu.

- Outra coisa, lembro-me muito bem que temos terras muito férteis. Podemos investir na agricultura também.

- Bem pensado. Vejo que você não desistirá tão fácil desse país, não é Luísa?

- Eu sou a única responsável por todos estes cidadãos, chanceler. E eu vou tirar este país desta crise, se não, eu não me chamo Maria Luísa de Habsburgo. — disse, convicta e sorridente.


- Mas por que?

- Porque não! Quero deixar meu cabelo solto e pronto. Nada de tranças, nada de penteados, só a coroa. — disse séria e Barbara bufou, se dando como vencida. Apenas penteou o cabelo ruivo, e pousou a coroa de diamantes em cima da cabeça de Luísa.

Trajada elegantemente com um vestido branco e com alguns detalhes em dourado, Luísa começou a descer as escadas da passagem secreta que tinha em seu quarto, e chegou rapidamente ao Salão Principal. Lá já estavam o chanceler e o Grande Mestre. Sentia falta de suas irmãs, mas passariam esta semana em Hofburg com sua mama. Charlotte ficou com muito medo quando soube que os franceses iriam se hospedar no mesmo Palácio que suas filhas. Por pouco não levou Luísa também.

A garota cumprimentou os dois homens e pôs-se em seu lugar. Observou o relógio grande que deixava seus ponteiros andar lentamente. Mexeu em seus anéis, passou a mão pelo vestido tentando desamassar o que não estava amassado. Anton a olhou de soslaio e conteve um riso.

- Nervosa, Majestade? — perguntou irônico.

- Não. — o rapaz a olhou. — Um pouco, talvez. Não vou negar que é um pouco estranho acolher quem era para ser os nossos rivais.

- Pelo menos, vem somente o primeiro-ministro e dois guardas, e não a enorme comitiva que eles gostam de trazer.

- Isso também é uma tentativa de mostrar que eles confiam em nós. Vir somente com dois guardas para um país novo e totalmente rival, é um ato de coragem.

- Pensando... — Anton não pôde completar a frase, por causa da intromissão das cornetas e trompetes que soavam, avisando que eles tinham chegado.

Luísa adotou a conhecida postura séria e esperou as carruagens darem as voltas e pararem de frente a ela. Em poucos segundos, o cocheiro desceu e abriu a porta, dando passagem a um homem que já devia ter seus 50 anos. Subiu as escadas, e no penúltimo degrau, reverenciou a kaiserin.

- É um prazer enfim conhecê-la, Majestade. — o homem beijou a mão de Luísa. — Como seu chanceler já deve ter lhe dito, eu sou Pierre Beaumont, primeiro ministro francês.

- Sim, ele me disse sim. Seja bem vindo à Viena. Aliás, devo lhe apresentar pessoas importantes. — apontou para Joachim. — Este é o meu chanceler, — apontou para Anton — e este é meu Grande Mestre.

Pierre cumprimentou os dois homens com uma simpatia inigualável, o que Luísa começou a refletir se não era falsidade ou os franceses eram assim mesmo.

- Vamos entrar? — a kaiserin questionou, e todos assentiram.

Começaram a caminhar para dentro do Palácio e Pierre começou a falar. Anton pediu aos céus para que ele se tornasse menos tagarela.

- Quando me disseram que o Palácio de Schönbrunn era bonito, eu não duvidei. Mas, vendo-o agora, vejo que é ainda mais bonito do que pensei. — olhou ao redor, encantado pela beleza do Palácio.

Luísa deu uma risadinha.

- Sou um pouco suspeita para falar, mas eu também acho este Palácio lindo. — concluiu.

Caminharam até um corredor enorme, onde chegaram a décima porta e entraram. Na sala de reuniões, havia uma mesa enorme e múltiplas cadeiras. Os guardas ficaram do lado de fora, a pedido de Beaumont. Anton e Joachim se sentaram lado a lado, enquanto o francês se sentou na frente deles. Luísa, se sentou na ponta. Ela respirou fundo e limpou a garganta, pensando bem no que iria decidir.

Uma Imperatriz em Mim [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora