Trigésimo Primeiro.

47 10 19
                                    

13 de abril de 1673

- E foi isso, Majestade. Fizemos o possível para não atrasar tanto, contudo os piratas não deixaram.

O choque e a surpresa de Luísa tinham uma dimensão enorme. Ela já tinha ouvido falar em todos aqueles ataques em alto-mar, mas nunca havia se interessado tanto.

- Por Deus, capitão. Que bom vocês conseguiram salvar a carga.

- Nem se morrêssemos, essa mercadoria chegaria intacta até a senhora, Majestade. — o segundo capitão deu um sorriso onde pôde-se perceber alguns dentes de ouro que ele trazia na arcada dentária. O sorriso era indecoroso e a cada 5 minutos, ele prestava atenção no decote da ruiva.

Ela sentiu náuseas.

- Bem, creio que os reinos que ficam próximos do oceano deveriam reforçar o combate a esses ladrões dos mares.

- A uma ladra, em especial, Majestade. O navio era comandado por uma mulher, Grace O'Malley*, já ouvira falar?

De repente, o assunto tornou-se ainda mais atrativo. Uma mulher na pirataria, comandando um navio cheio de homens? Que estupendo!

Ela negou.

- Acredite, Majestade, uma mulher mandando em um bando de homens. O mundo já não é o mesmo, oh céus... — o outro se meteu na conversa.

Ela não sabia se aquilo havia sido direcionado a ela também, mas parecia muito.

- O que o senhor quis dizer com isso? Uma mulher não pode liderar homens? — ele ia abrindo a boca, mas ela o cortou. — Deve ser realmente um pesadelo me ver aqui nesta cadeira, não é?

- Eu não quis dizer isso, Majestade, perdoe-me se a ofendi. — ele dizia algo, mas seus olhos demonstravam uma coisa totalmente diferente.

- Acho melhor irmos ver o carregamento de ouro. Conversamos mais por lá. — ela estava muito irritada, mas algo que aprendeu durante esse pouco tempo é que não valia a pena se exaltar tanto por coisas ditas no gabinete.

Mas a verdade é que ela odiava escutar comentários como aquele. Totalmente maldosos, e que deixavam ainda mais evidente o quão patriarcal era a sociedade na qual ela estava inserida. Se era uma vergonha a senhorita O'Malley mandar em centenas de homens, qual seria o adjetivo indicado para Luísa que governava milhares?

Tentou não mais pensar nisso, e por um lado conseguiu. Ao ver tantos baús, começou a contabilizar — com a ajuda de Joachim — todos os quais eles poderiam pagar.

- Chanceler?

- Pois não?

- Por que nosso sistema está atrasado? — perguntou, displicente, separando algumas moedas.

A cor sumiu do rosto de Joachim.

- Creio que não entendi muito bem a sua pergunta.

- Andei lendo recentemente alguns livros que abordavam o Absolutismo; quando fui para a conferência, os reis me questionaram o porquê do Império ainda estar no feudalismo; e fora que muitos burgueses tem me procurado. No absolutismo, a burguesia financia o rei, e o objetivo é o comércio prosperar. Em uma parte já segui, só falta a outra.

Uma Imperatriz em Mim [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora